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sexta-feira, 20 de abril de 2012

O que vai na praça

NOTICIÁRIO ANTI-INTRIGA

ALGUNS PÁROCOS ABESPINHADOS COM AS ALDRABICES DO ADRO



Só mesmo o perfume das flores, as de cá e as importadas, para lavar a língua desta gente.


Os frequentadores da região nevrálgica da baixa, zona do Apolo, assumiram esta quinta-feira um discurso de certo modo pedagógico na abordagem das notícias fervilhantes. Um dia atípico, de poucos ataques aos jornalistas e à maçonaria, pairando no ambiente das esplanadas até alguma tolerância com os flagrantes e pueris disparates do chefe regional nas últimas horas.
- Tanto andaram que obrigaram o homem a voltar a candidatar-se no partido - suspira o ensebado do costume.

João, Jaime, Afonso e Machadinho

O ex-bancário filosofa:
- Ou então foi ele a conduzir as maroscas para vir bater ao que muitos já esperavam: ele ser 'obrigado'... a continuar.
- Sorte do Manuel António - continua suspirante o ensebado -, sorte dele esta reviravolta não ter sido mais cedo, porque, se fosse, ele nem sequer tinha ido ao congresso dos Açores, quem ia era o novo delfim, ou seja, o próprio chefe.
- Desorientação total nesta gaita - diz de passagem o empregado da esplanada.
- Não é para menos o homem estar desorientado daquele feitio - intervém o contabilista sem trabalho - Depois de tantas ameaças, o Albuquerque da Câmara insiste em desestabilizar o partido... Habituaram mal a criatura das Angústias, nunca lhe disseram 'não', era só abanar a cabeça que sim, apoiavam-no se ele agora dizia preto e apoiavam-no se daqui a pouco dizia branco... E agora resolvem enfrentá-lo, rir das suas ameaças, toureá-lo, Deus me perdoe...
Um antigo solicitador surge com uma ideia redentora. Não desesperem, basofia ele, que as coisas hão-de voltar ao normal.
- Não é para se divertir que o patrão anda pelos adros, de freguesia em freguesia, a gastar o seu latim. Obviamente que a ideia dele é ter a certeza de que não está a perder força dentro do PSD. E não vai esmorecer na tarefa que impôs a si próprio.
- Mas o povo e os militantes saem das igrejas pelas portas laterias, para nem sequer o verem! - diz o desmancha-prazeres do ex-bancário - Quem tem aparecido lá são os que vão do Funchal com ele... o Jaime, o Afonso Almeida, o João [Cunha e Silva], não sei se o Machadinho...
- E o Candelária, o Sílvio, o Jorge Gomes, o Antero, o Albuquerque, o Costa Neves, o Fausto, o Humberto... andam nessas excursões também? - a pergunta maliciosa sai do contabilista sem trabalho.

Padres Martins, Tavares, José Luís e um dos lados de leste

- O povo sai pelas portas laterais, mas há pior do que isso - entra em cena o engraxador, com a caixa ali mesmo ao lado - Fiz aqui um serviço com um funcionário público daqueles lados e ele... Sem eu lhe perguntar pelo preço do peixe, começou a desancar no pároco lá do sítio. Que, nas missas seguintes, isto é, depois do bando funchalense da política sair de lá, o padre disse aos fiéis: "Aqui dentro não posso fazer promessas, não posso prometer o céu e tudo, como andaram aí fora no adro a fazer!"
- Oh diacho, o abade pregou com tal coisa no sermão? - sobressalta-se o ensebado.
- Foi o que o funcionário me disse, ainda todo abespinhado - abana-se o engraxador.
- Mas em que freguesia foi isso? - pergunta o ex-bancário?
- Foi... Meus senhores, foi na zona leste da ilha... e mais não digo. Não quero sarilhos para cima de mim. Com esta crise!... E depois acho que só tenho fregueses do PPD.
- Engraxadoria é com esses c... - impreca o contabilista sem trabalho - Desculpem. Expediu da boca.
- Seja que pároco for, o bispo não gostará de saber desse pecado - fala pausadamente o ex-bancário - Realmente... Agora estar a mandar piadas no púlpito a quem tanto ajuda paróquias e conventos.
- Com o nosso dinheiro - observa o ensebado.
- Saíste-me um bom comuna, mas é verdade o que dizes - sorri o ex-bancário, ainda invadido pela máxima de que o cliente tem sempre razão - Mas o facto é que só com este pregador dos adros é que se vê tanta ligação à igreja. Entendimento absoluto: dinheiro para lá, votos para cá. Imagina que tinha calhado à Madeira algum presidente de governo inteligente, aberto às ideias novas, sem planos para comandar a vontade popular, um chefe que soubesse mesmo governar! Era o caos nesta terra. Nem havia bispos tipo Santana, Teodoro e António, perfeitamente inseridos na maioria PPD, nem padres Geraldos, que Deus tenha, metidos na campanha eleitoral de quem ajuda a igreja, não havia Jornal da Madeira de graça, e sei lá se não tinham instalado aí um regime democrático!
- É verdade, penso que esse padre que abomina os comícios nos adros deve participar num retiro rapidamente, a ver se arrepia caminho. Mas não o metam num retiro com o padre Martins, o padre Tavares e o padre José Luís Rodrigues, porque então o homem regressava pior, iria para o púlpito de 'Capital' na mão em vez do Novo Testamento.
- Por enquanto, podemos dormir descansado, porque o actual bispo, unha com carne com o nosso rei, é garantia de sossego. Sei até que o D. António travou certos padres, saudosistas do reviralho, que pretendiam obrar umas acções esquisitas na Capela do Corpo Santo, qualquer coisa relacionada com os esquerdóides da Cultura... Lindo! Há muita gente - o contabilista sem trabalho fala despachado como um papagaio -que julga o bispo como se ele se limitasse àqueles festins pantagruélicos no Paço das Quatro Fontes, às procissões engalanadas para manter o povo anestesiado. Mas não. Ele zela permanentemente pelos interesses de todos, mesmo daqueles que o consideram uma inutilidade sem a qual o diâmetro da Terra não se alteraria um milésimo de milímetro.

Rei das Angústias, rainha de Inglaterra, bispo e representante

Talvez o perfume das flores que os profissionais do turismo espalham como encantadores tapetes na placa da Avenida Dr. Arriaga amorteça um pouco o habitual fel desta gente. Finalmente, um dia de noticiário verdadeiramente desprovido de intriga.
- Com o 'rei das Angústias', o Miguel Mendonça de Inglaterra, o bispo António e o representante Ireneu, finalmente há estabilidade nesta terra - amocha o ensebado, a perscrutar o ambiente e a puxar o vocabulário que ouve ao político de quem guarda as costas - A coesão entre eles na prossecução de um amor à Madeira sem limites calou a cáfila de maçónicos, certos jornaleiros que vomitavam veneno em cima do teclado para escreverem contra a Região e o PSD, os adeptos do Marítimo anti-fusionistas e os perturbados por traumas de infância e recalcamentos de alta perigosidade, que, coitados, por coincidência convergiram para a militância política na oposição.
- Enfim, vamos vê-los acolá nas tribunas metálicas montadas para o cortejo da flor destinadas aos vip convidados no próximo domingo - exercita-se o ex-bancário.
- Mas é bom que guardem os lugares deles - torna o ensebado - Disseram-me que a trupe Geringonça conseguiu comprar os lugares todos para os vender aos turistas a 15 euros cada um...
O que já provocou 'renhice' nas outras trupes.
- Só venho cá abaixo com a certeza de que as nossas autoridades estão bem instaladas - entra na dança o funcionário da Junta Geral que ficou de pé junto das duas mesas encostadas uma à outra - Se não for para os ver a modo, fico em casa e sigo a coisa pela televisão.
- Nesse caso, vens vê-los ou vens para ser visto pelo chefe? - pergunta o contabilista, muito sério - Vocês não dão ponto sem nó. Estamos a falar de dignitários com muitas qualidades, devias seguir o exemplo deles.

Percebi que só podia estar por ali algum estafeta do Jaime ou mesmo das Angústias e que os convivas o haviam identificado. A conversa não fluía com normalidade. Escapuli-me do perigo.
Já sabem para onde fui apreciar os pescadores na sua luta contra a crise.





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