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domingo, 15 de abril de 2012

O que vai na praça

BISBILHOTICES EXCLUSIVAS PARA QUEM NÃO É DE INTRIGAS





O Funchal viveu um sábado triste. Meia dúzia de cidadãos com pachorra desceram à baixa e guinaram para o lado da placa do Dr. Arriaga, atraídos pela música da feira da Saúde num volume forte que não correspondia de forma nenhuma ao fraco movimento. O 'Aida'' esteve na Pontinha, mas nem por isso as esplanadas brilharam. Escassas mesas de madeirenses permitiam abordar as últimas do burgo.
Enquanto uns se interrogavam: que diabo queria Passos Coelho dizer ontem no parlamento com aquilo da 'restituição intensa' dos subsídios que nos cortou?
...Outros explicavam: não sabes? Antes, ele dizia que era 'restituição gradual'; agora é 'restituição intensa'.
Perfeitamente 'esclarecidos', mudavam de assunto.

Falou-se muito nas últimas piruetas do chefe das Angústias, como a decisão de deixar o sucessor governar nos últimos 6 meses de mandato. "Deu na rádio", disse o engraxador, que, sem trabalho, ficou a seguir a conversa dessa mesa. E o ex-bancário: "Tem a certeza de que não era gravação antiga?"

Se não podes com ele...

Obviamente que saltou a terreiro a delirante situação interna do laranjal. Todos divertidos com os últimos desenvolvimentos. Até porque se, na rua, poucos admitiam antigamente haver votado alguma vez no PSD, apesar de nas noites eleitorais aparecerem votos às catadupas nas tropas do 'rei das Angústias', agora muito menos alguém sequer permite que lhe insinuem costela social-democrata. Mesmo aqueles que gravitaram décadas à volta do banquete jardinista agora bradam 'vade retro' quando certos nomes são referenciados nos cafés e nas esquinas.
O ambiente nas ruas é esse, hoje.
Regozijo pela derrota de chefe Jardim na zaragalhada com os homens da Câmara do Funchal: afinal, já quer chamar o Bruno para seu lado, para acabar com o foco revolucionário municipal, dizia um tagarela que não se tira do café. "Se não podes com o inimigo, junta-te a ele, sempre ouvi dizer, e isso vem revelar que o chefe ainda tem uns dotes", sorria o cínico, percorrendo a mesa com um olhar já conhecido.
Seguiu-se um tiroteio de atoardas sobre as contradições do 'rei', a erupção Manuel António Correia, a firmeza de Albuquerque, o eclipse de João Cunha e Silva... para alguém concluir, recriando a música de um filme de terror: "E no fim o ditador continua no poder!"

Revolução do Farinha

O ambiente tornou-se pesado. Que isto francamente só irá com um golpe de força qualquer. 'O poder está na ponta de uma espingarda', recordou um intelectual de meia tijela que anda com 'O Crime' dissimulado dentro do 'JL'.
Ainda há dias - intervém outro comparsa - comemoraram aí a Revolução da Farinha, pode ser que não esteja longe o dia de voltarmos a...
- Hoje em dia? - ri-se o ex-bancário - Que eu saiba, só a Revolução... do Farinha. O Farinha foi o único a revoltar-se contra o sistema. Depois de anos e anos a adjudicar, a adjudicar, começou a faltar o dinheirinho. A dívida do governo subiu à medida que o cofre do Garcês esvaziava. Então, o Farinha do AFA revoltou-se contra o regime que o criou, meteu uns processos em tribunal e partiu à conquista de África. Só conheço essa Revolução, a do Farinha.
Logo um revisionista do antigo MDP alertou: julgam que a revolução por dentro do PSD é que vai acabar com esta ditadura? A oposição tem de se mexer!
Um quadro do PP ali presente, sentindo-se fulminado pelas palavras do 'revisa', foi o primeiro a obedecer: alegando reunião marcada numa comissão do partido, pôs-se mesmo a mexer.
Alguém pergunta: isso dos processos do Farinha... isso é com o Marítimo, não?
- O que é que o Farinha queria? - intervém o empregado de mesa, recolhendo o euro do único café pedido na mesa - Os clubes também não recebem do governo! Se o Nacional não vendesse o Filipe Lopes e o Marítimo não vendesse o Baba, acho que havia estádios fechados a esta hora.
- Mas também houve teimosia - diz o ex-bancário - Tenho a certeza de que se o Farinha tivesse ficado com os Barreiros, aquilo já estava pronto. Mesmo que não apresentasse a proposta mais baixa, devia ter sido o escolhido.
Ninguém comentou esta teoria do 'preso por ter cão e preso por não ter'.

Das sociedades de desenvolvimento para as tasquinhas

Geneneralizou-se uma antevisão do que poderá ser a Região depois deste descalabro. E a conclusão foi só uma: a continuação do descalabro. Que as sociedades de desenvolvimento, de solução divina para o prolongamento do desenvolvimentismo madeirense, se transformaram nas primeiras baixas do sistema. De tão decisivas, reduziram-se a meia dúzis de serviços. As estruturas desmoronaram-se como um castelo de cartas. E os altos quadros que subiram vertiginosamente na vida e agora...? Pois agora - explica um contabilista sem trabalho - foram colocados em serviços de cará-cacá... e com a necessidade de gastar o tempo nas tasquinhas, a ver se o dia passa mais depressa.
- É verdade - confirma um contínuo da Junta Geral - Disseram-me que as tasquinhas do Campo da Barca tiveram de reforçar stocks, porque os das sociedades que foram recambiados para a antiga secretaria do Equipamento Social não tréguas aos copos.

ANAM como placa giratória

E alguns foram para a ANAM, avança outro aventadeiro. Logo desmentido: não, senhor, para a ANAM voltou quem antes era da empresa. E não é o caso das sociedades de desenvolvimento. O antigo secretário da Educação foi para lá uns dias porque foi de lá que partiu para o Idram e para o governo. Logo...
- Não é esse que depois de uns dias na ANAM negociou a reforma por uns 150 mil?
- Sei lá da vida dos outros! - descarta-se o aventadeiro.
O outro, porém, tinha noticiário: é este ano que a ANA será privatizada e a ANAM deve seguir o mesmo caminho. Não me cheira que essa seja a solução para acabar com as taxas aeroportuárias mais caras da Europa...
- Mas, sem taxas, como é que poderão continuar a pagar as indemnizaçõdes de luxo? - deixa no ar o aventadeiro.

Director clínico de férias prolongadas

Morriam se não fossem buscar o hospital para o baralho. Voltaram a torpedear o tratamento de carroceiro que alguns serviços dedicam a quem lá vai. Ao nível de funcionários das urgências, claro. Falaram dos equipamentos e material consumível em falta dramática. Alguém diz que mil lâmpadas não chegam para repor a iluminação normal nas instalações da Cruz de Carvalho. O sistema é o seguinte: meia dúzia de luzes boas alternadas com pontos sem lâmpada, por aqueles extensos corredores. Quando se funde uma lâmpada aqui, vai-se a outro corredor mais folgado desatarraxar uma unidade e lá vem ela para cá.
E continua faltando papel higiénico, reagentes para análises, remédios para internados, enfim. Para não falar na incógnita que é o resultado da transformação nos serviços que dirigem os transportes, com insuficiência de viaturas.
Quem não está preocupado é o director clínico, diz um amigo do próprio Miguel Ferreira.
- Vocês vão falando, cocem na cabeça... que ele andou quase três semanas fora, na Páscoa e só amanhã (este domingo) está de volta. Lá para segunda ele vai até lá acima ver como andam as modas. Vocês que se preocupem por ele.
- Ele esteve três semanas fora numa altura destas? - pergunta o ex-bancário, apalermado.
- Estas esplanadas estão todas vazias - o amigo do director clínico olha em redor.

O velho 'Vera Cruz'


O 'Vera Cruz' continua um espaço bem simpático para passar um bocado. Ali não se fala de défices nem de PIBs nem de 'restituições intensas'. Uf!

Por acaso, está presente na mesa um antigo dono do 'Vera Cruz', popular snack na Rua dos Murças. Que opina:
- Isto dos cafés, esplanadas e bares já deu o que tinha a dar e, depois de tantas inaugurações de cafés e padarias, vejo tudo a fechar as portas. Ando aí às sete, oito da noite, e não vejo vivalma. Há patrões que ficam à porta, rezando pela entrada de um freguês. No meu tempo de 'Vera Cruz', o problema era outro, era pôr na rua os clientes que à meia-noite ainda me enchiam o bar e se recusavam a sair, que era mais uma para a estrada, e que faltava um dentinho, e depois era a milhada por acabar, e depois era o outro que não saía porque tinha o 'drai'...
- E há testemunhas nesta mesa do que estou a dizer - o antigo dono do 'Vera Cruz' olha para os circunstantes, de sorrisinho malandro nos lábios - Está aqui alguém dos mais teimosos que não queriam sair sem o tal copo 'saideiro'...

Discretamente, pus-me a arengar umas palavras desarticuladas e imperceptíveis ao telemóvel desligado, levantei-me e quando dei por mim estava no aterro a ver o 'Aida' evoluir pelo porto fora, de proa em busca de novas paragens.
Que inveja!

O 'Aida' rumo ao longe, sábado ao fim da tarde.

2 comentários:

jorge figueira disse...

Está toda a gente de férias. Dá mais na vista Miguel Ferreira por nos tratar "da saúde".
Ora repare bem: que é feito do Pres. do Gov.? O comentador do JM que no verão passado sabia imenso da dívida dos Açores e nada da nossa por acaso sabe alguma coisa das dificuldades por que passam alguns concidadãos? Estão ausentes como se de férias estivessem.
O Pres. do GR auto-restringiu-se a pres. da comissão política do ppd.Há poucas horas, em Machico,falava de candidatos autárquicos. No seu (dele) JM de hoje, que nós pagamos,cita Winston Churchill para apelar à resistência. Há, porém, diferenças Churchill fora combatente, sabia do que falava,tinha comida para a sobrevivência das tropas e aliados.O GPS ideológico do Dr. Jardim avariou-se e as citações acabam referindo o "comunista" Salvador Allende.Citando eu, as Actualidades Franceses dos anos 60/70, exibidas antes do filme principal nas salas Lisboetas, "assim vai o mundo", na versão da anatomia regional. Explico: escrevi anatomia e não autonomia. Anatomia é o que resta daquilo que foi a autonomia representada na estátua implantada na foz da Rib. de João Gomes que já teve chama mas perdeu o gás...Ficou, para a vista, a anatomia

Luís Calisto disse...

Excelente comentário. Apoiado a 100%. Inclusive, tenho um pequeno texto sobre o artigo surrealista em causa, revelador de que o GPS ideológico do seu autor está realmente avariado - como diz o Doutor Figueira. Talvez publique esse pequeno texto no blogue.
Cumprimentos