PP E RTP-M DESCONSIDERAM PARTIDOS LEGÍTIMOS
Os populares não conseguem disfarçar por mais tempo o seu imprudente snobismo, que vem sabe-se lá de onde. |
O congresso regional do Partido Popular concluído este domingo poucos comentários merece. 'Choveu no molhado', como se esperava: Paulo Portas na costumeira e risível arrogância de vedeta nacional cheia de 'rabos de palha'; José Manuel Rodrigues perfeitamente dominado por uma afectação possível apenas em quem se esqueceu do princípio de Peter.
Decididamente, os populares não se libertam de um dilema que poderia ser normal: a circunstância de viverem agarrados ao PSD no continente, para terem poder, e precisarem de mostrar distanciamento a esse mesmo partido cá na Região.
O snobismo fútil de Portas tresanda logo que o avião desponta sobre o Porto Santo. E dispensamos mais conversa, por isso.
José Manuel Rodrigues, nosso Amigo pessoal, parece procurar minuto a minuto assunto para se contradizer.
Candidatou-se a deputado nacional, sendo deputado regional, garantindo que ficaria na Madeira. Para dizer, uma vez eleito pelo povo enganado, que afinal ia para lá e só viria nos momentos mais importantes da Assembleia Regional - o que não recordamos ter visto.
Mais tarde, garantiu jamais entrar em coligações com o PSD-Madeira. Mudou, com o tempo: o seu PP aceitava governar a Região com o PSD, mas sem Jardim. Mas eis que, nos últimos dias, o catavento mudou de posição: o PP rejeita em absoluto ligações ao laranjal ilhéu, porque - diz o antigo jornalista - a solução para o futuro da Madeira não está dentro do PSD.
Os leitores da 'Fénix' conhecem as arengadas que estamos a referir, pelo que os poupamos a mais análises e observações na matéria.
Politicamente, o PP conseguiu ascender ao posto de principal partido da oposição, mas, com os seus 9 deputados, está longe de merecer muito mais do que os outros grupos oposicionistas.
O que urge insistir é nos tiques transmitidos ao partido da direita madeirense pelo snobismo do homem dos submarinos. De que foi exemplo a marginalização de partidos da oposição nos convites para o congresso deste fim-de-semana. Não têm estrutura regional - justificaram-se os novos-ricos populares, agora cheios de cabazes para os pobres e suplementos nutridos na imprensa, referindo-se a partidos que desprezou.
Bom, cada qual convida quem quer a visitar a sua casa. Mas ficou feio. José Manuel Rodrigues mudou relativamente aos seus tempos de nosso colega no jornalismo madeirense. Aceitamos, porque mudar é do mais natural no ser humano. Mas lamentamos.
RTP-M decide quem tem importância...
Mais estranha ainda pareceu a postura da RTP-Madeira na cobertura deste congresso do alambicado sangue azul insular, designadamente na sessão de encerramento. Na altura própria, o jornalista entrevistou os partidos convidados, para lhes registar a reacção ao que haviam escutado. Falou com este, com aquele... mas passou por cima da representação do Bloco de Esquerda!
Explicação: a TV da Levada do Cavalo decidira entrevistar apenas os partidos com assento na Assembleia Legislativa.
Critério peregrino!
O BE compareceu no congresso correspondendo a um convite. Tal como os outros partidos, podia aceitá-lo ou não, é discutível. Mas o que está em causa, neste pormenor, é o momento, aquele embaraço, a câmara circulando entre os partidos convidados, o jornalista que pergunta aqui, pergunta ali... para tornear os representantes de um determinado grupo, classificado pela estação pública de intruso porque, é assim mesmo e não refila, está fora do parlamento.
Acontece que o Bloco prolonga no tempo a carismática UDP, que desde 1976 andou no parlamento, chegando a dispor de três deputados. Teve nas suas fileiras políticos de elevada craveira que muito poderiam beneficiar da política se andassem lá, não por ideal, mas em busca de prebendas. Nas últimas eleições, o BE ficou a 300 votos de continuar no parlamento. Mas há mais de 2500 madeirenses que votaram naquele partido. E os actuais dirigentes, tal como os que militam no resto da Oposição, continuam na sua luta em áreas onde sabem não encontrar proveitos pessoais - se o seu interesse fosse outro, teriam seguido caminho diferente, apontado à Rua dos Netos.
Sabemos que novos e velhos dirigentes do Bloco - e até históricos - receberam muito mal a postura da RTP. Não se trata de o partido aparecer mais 30 segundos, menos 30 segundos, na televisão. Dizem os responsáveis actuais estar habituados às arbitrariedades do não-critério da televisão, no acompanhamento do dia-a-dia político. Em Janeiro, realizou-se um congresso. A RTP-M fez a cobertura que entendeu, mínima. Porém, ignorou a tradição de uma entrevista ao líder, em sede de telejornal.
Mais do que os dividendos políticos da projecção mediática, existe o dever de considerar as pessoas, comentam os responsáveis bloquistas, com razão. Que diacho de atentado à linha editorial de uma televisão seria o jornalista deste domingo meter entre os outros partidos da oposição, ao fechar do congresso PP, 15, 20, 25 segundos com uma reacção de Rodrigo Trancoso?!
O PCP esteve um mandado fora da Assembleia e não passou por vexames assim.
Os dirigentes bloquistas não escondem a indignação. Estarão a desafiá-los a recorrer à ERC para queixas da RTP-M sobre as recorrentes desconsiderações? Terão de puxar galões sobre o passado intenso do partido na Madeira? Sobre o estatuto actual de grupo político representado na Assembleia da República e no Parlamento Europeu?
Não, o Bloco sustém os ânimos. Limita-se a lamentar a discriminação, a desconsideração, ao partido e às pessoas que lhe dão vida.
E nós acrescentamos um alerta para o quão perigoso pode ser obrigar as minorias a calar-se ante as prepotências das maiorias.
Até porque nem sempre as maiorias têm razão. A de Hitler, eleito pelos alemães, seguramente não tinha.
2 comentários:
Caro Calisto: Deixe que acrescente que esta postura da RTP é discriminatória em relação ao BE, pois deu voz à reacção do porta-voz do Movimento Juntos Pelo Povo que não é partido, nem está representado na Assembleia. Uma vergonha!
Como dizíamos, caro Zé, é um não-critério televisivo.
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