Powered By Blogger

sábado, 19 de novembro de 2016

OPINIÃO


Riscos incomensuráveis




Ao falarmos de Revolução, pensamos de imediato em França e Rússia. Mas dia de 8 Nov. p.p., ocorreu a mais recente revolução, com fortes implicações Planetárias, baseada na vontade soberana do cidadão eleitor Americano. Como em todas as revoluções, conhecemos a sua génese, mas desconhecemos os resultados. Donald Trump é um personagem que não exibe atributos que o indigitem para o exercício do cargo de Pres. dos EUA. Ele é ignorante, um demagogo populista a quem tudo se desculpou, desde fugir aos impostos até insultar as mulheres. Apesar de tudo isto, Trump ganhou as eleições. 

Nas democracias ocidentais, os eleitores tendem a estabilizar os votos nas diversas organizações partidárias. São depois as pequenas oscilações dos grupos de cidadãos não fidelizados aos partidos, desiludidos com os partidos e os abstencionistas que determinam os vencedores. 

Às vezes, somos levados a imaginar que, nos EUA, a população branca – White Anglo Saxonic  People (WASP)  – está situada da classe média para o topo, mas a realidade é bem mais intrincada. Trump beneficiou desta realidade social na sua campanha. O grupo WASP representa 61% da população, os negros 12% e, os hispânicos 18%. Faltam os afro-americanos e os ameríndios. A maior % de pobreza está localizada entre os hispânicos e afro-americanos. Porém, os 61% de WASP na população americana, faz com que 41% dos pobres sejam brancos. Esta é uma “nova minoria”, a juntar às minorias étnicas. Ela, a partir dos anos 80 do séc XX, entrou em contra-mão com as tendências do mundo desenvolvido. O abuso de álcool, drogas e suicídios são sinais depressivos e de enorme frustração desta minoria. A situação com os hispânicos é diferente. Trabalham em sectores não exportáveis – limpeza, segurança, transportes, serviços domésticos – estão protegidos da concorrência externa. Eles, embora imigrantes, temem, isso sim, a chegada de outros que venham disputar-lhes os postos de trabalho. Obra comum de Republicanos e Democratas, a deslocalização das indústrias para o exterior levou a este barril de pólvora nos EUA que, por enquanto, deu apenas esta “revolução nas urnas”. 

Ao contrário daquilo que muitos de nós pensamos, nos seus milhões de anos no Planeta, o Homem foi sempre belicoso. O séc XVII, na Europa é exemplo disso. A intolerância religiosa servia às mil maravilhas para alimentar os egos bélicos dos Primos e Primas Aristocratas. Os refugiados, gerados neste cadinho político-social, encontram o fim do pesadelo no território da América do Norte. Os brancos anglo-saxónicos, mercê destas circunstâncias, tornam-se o grupo étnico maioritário, liderando um espaço de tolerância e Liberdade. As pelejas Europeias repercutiram-se naquele vasto território durante um séc. A 4 de Julho 1776, os EUA ganham a Independência. Oitenta e cinco anos depois o fim da escravatura lança os EUA na guerra civil entre Confederados – esclavagistas - e Unionistas – Estados do Norte. Nas eleições Presidenciais de 1860, o Republicano Abraham Lincoln opôs-se ao alargamento da escravatura e, na transição, o Democrata James Buchanan, corrobora a ilegalidade da secessão. Quatro anos e mais de 600.000 mortos depois, acabava a Guerra Civil Americana, nascia o Império Americano. 

Republicanos e Democratas, na esteira de Lincoln e Buchanan, impuseram as regras imperiais, do México à Patagónia. Umas vezes pela diplomacia, outras pela força. A Europa no séc. XX, envolveu-se em dois conflitos com repercussões Mundiais. As FA’s Americanas intervieram com elevados custos financeiros e Humanos. Se em 1865 a dinamite fora a surpresa do progresso científico para fins bélicos, em 1946 tínhamos a bomba atómica. Falei já dos custos, mas também houve o benefício de, Democratas e Republicanos, alcandorarem o Império Americano a um estatuto idêntico ao do Império Romano de há 2.000 anos. O mediterrâneo é, agora, o Mundo, onde os “bárbaros” ameaçam as “fronteiras de Washington”. 

Podem os EUA demitirem-se da confiança em que se viram investidos em 1946? O grande progresso da ciência não ocorreu só nas armas. A componente não bélica aproveitada pelo Mundo dos negócios - Bussiness as Usual – causou distúrbios Planetários. O isolacionismo populista e demagógico gerado pela eleição de Trump deita por terra tudo quanto se conseguiu negociar com os EUA sobre alterações climáticas e, provavelmente, sobre o controlo das armas atómicas. São, ou não, incomensuráveis estes riscos para os Seres Humanos? Em minha opinião são. 

A Humanidade está inquieta, pois fica-lhe a sensação de que o futuro se resumirá à destruição da Vida na Terra ou, em alternativa, uma nova forma de escravatura, ao gosto de Republicanos e Democratas, em benefício dos omnipresentes “mercados”. 
     
GAUDÊNCIO FIGUEIRA

2 comentários:

Fernando Vouga disse...

Não sendo as promessas eleitorais para levar a sério, poderíamos nós dormir descansados, porque o Trump não faria nada do que prometeu. Se o fizesse, seria o primeiro político da História a fazê-lo...
Mas o que essa criatura disse, e anda a dizer, não são promessas são ameaças. E essas sim, são para levar a sério.
Logo, estamos "fotografados".

Jorge Figueira disse...

Concordo consigo Fernando.
Vai sendo tempo das pessoas deixarem de votar em "Mandões Ameaçadores". Terrível é que, de vez em quando, geram-se nas Nações ambientes propícios ao aparecimento de criaturas destas.
Os incautos aceitam tudo sem pestanejarem e, ainda por cima, insultam quem lhes os olhos!