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terça-feira, 7 de novembro de 2017

Contra a hipocrisia medieval



Acabem o celibato porque esta Igreja
precisa urgentemente de coerência
e de mais padres Giselos


O pároco do Monte, em momento amoroso e, vá lá, de alguma libidinosidade, abanou a pasmaceira noticiosa da actualidade. Essa não era a sua intenção, presumo, mas o sacerdote sabia perfeitamente das ondas de mexericada que se propagariam em círculos a partir do templo onde exerce a sua actividade. 
Giselo Andrade produziu um facto social-religioso: assumiu a paternidade de uma nova madeirense nascida em 18 de Agosto passado. Poderia ter escondido a paternidade da pequena e torná-la qualquer dia sua protegida ou sobrinha, postura que se tornou tradição noutras freguesias e em todo o sempre com a surda aprovação da Igreja. Mas não. Giselo meteu ombro ao templo e assume a sua nova situação de pai. De padre-pai, até novos desenvolvimentos.

Os santarrões da praça que nunca pecaram não perderam tempo: atiraram-se ao pecador com espavento. Cruzam os ares pedras atiradas de todos os recantos da ilha - e não apenas - em direcção ao templo da 'Sintra Madeirense', onde os fiéis fanatizados costumam ensanguentar os joelhos no sacrifício de subir escadarias para pagar promessas. Prática medieval como outras com permissão e tácito incitamento dos manda-chuva católicos. 

Padre Giselo é alvo fácil dos que se sentem em condições espirituais de atirar a primeira pedra. Mas o sacerdote, na minha forma herética de ver o caso, não cometeu pecado. Na Igreja, pecado é não respeitar o celibato. Ora, o padre Giselo não se casou. Ainda. Apenas foi pai de uma menina. Desconheço o Direito Canónico, pelo que os doutores da Igreja mandam esta teoria para o Inferno tão sumariamente quanto deixam arder o padre Giselo na fogueira da moderna Inquisição.  
A situação do sacerdote é complexa. Nos preconceitos hipócritas da sociedade, é preciso ir ao altar e dar boda para ter filhos. Casar. Ora, o padre do Monte não pode casar, porque os padres precisam de se dedicar inteiramente a Deus e às ovelhas do seu redil, dizem os cânones. Como se os profissionais de outros ramos muito dedicados devessem viver como eremitas. 
Diz o Bispo das Quatro Fontes que a Igreja "perdoa mas não admite vidas duplas". Afirma-o Carrilho sabendo que a própria Igreja tem vidas múltiplas - religiosa, ultramontana, política, financeira e por aí acima. 
O padre Giselo sabe o que está a fazer. Deve partir do acertado princípio de que quem está errado nisto é a Igreja, que se mantém fiel a princípios hipocritamente conservados desde o tempo das trevas, em nome do seu poder imposto à custa de infundir nos ignorantes o temor do inferno. Se não fores à missa e não fizeres o que o sr. padre manda, arderás nas labaredas do mafarrico.
Até quando tal obscurantismo? 
A Igreja, para não deitar a perder os créditos que também tem coleccionado ao longo da História - a Igreja é que precisa de erradicar aberrações como o celibato. Se o fizer, verá como os seminários serão povoados por futuros padres Giselos, pessoas em quem podemos acreditar porque assumem o que fazem. Homens - e mulheres - que se dedicam à causa com verdade e transparência, como seres humanos que são e não como anjos que não são.      
Melhor forma de acabar esta interferência é reproduzir o que escreve o padre José Luís no seu desempoeirado e desprendido 'Banquete da Palavra': 


"A versão madeirense de Eça de Queirós em o "Crime do Padre Amaro" provocou uma verborreia de comentários tão eruditos, juízos de valor tão aturados, incomportável sabedoria de tanta gente sobre leis da Igreja e compromissos... que, parece, passamos a viver numa sociedade tão perfeita que deixou de haver traição, adultério, infidelidade, filhos fora do casamento, mães solteiras, violência doméstica, divórcios, separações, filhos das varas verdes, casais desavindos, famílias desfeitas, homens e mulheres com filhos de várias mulheres e vários homens."    

13 comentários:

Luis Figueira disse...

Não acredito que num tema como este não haja nenhum comentario. nem na qualidade de anonimos?

Anónimo disse...

Concordo com o fim do Celibato, mas não é o Padre Giselo, nem o Bispo nem o Cardeal e por vezes nem o próprio Papa a decidirem, isto é um assunto com muitos envolvimentos.
Quando o Padre Giselo entrou para a Igreja sabia e teve conhecimento das normas da Entidade Religiosa e como qualquer um Funcionário tanto publico como privado sabe ou deveria saber o seu código de conduta.
Acho uma atitude nobre ter assumido a paternidade da criança, mas todo este assunto ele já está ou devia estar a ponderar não de agora mas desde há uns 6 meses atrás, qual a atitude que deveria exercer agora.
Como organização fechada que é a Igreja Católica, não poderá haver excessões para A ou B, julgo que ele só terá um caminho e ser feliz.
Mas este assunto como dizem nos meandros da Igreja, a Procissão ainda está a sair do adro e há muita coisa a desvendar.
Pergunta-se: Há quanto tempo a sua Princesa está divorciada e o porque da sua separação?? Não existiria navegação dentro dos lençois há mais tempo quando a mesma ainda era casada?
Atenção que estes dois elementos são pessoas adultas com mais de 35 anos e não crianças.
A vida privada é deles e só a eles diz respeito, mas atenção que ele neste momento não é um ser normal e tanto Ele como ELA quando mergulhou sabiam perfeitamente naquilo que estavam a se meter.
Ela sabia perfeitamente que ele já não era o colega do Liceu e teve muitas responsabilidades neste ato, portanto assumem.

Anónimo disse...

Ele foi forçado a assumir a paternidade pela mãe da sua filha e no entanto fala-se e escreve-se como se tivesse sido um ato de coragem...

Anónimo disse...

Esta questão do celibato é muito antiga.
Nada nas escrituras impõe tal medida. O celibato não tem a ver com religião, mas com a organização da instituição Igreja.
Na verdade, 300 anos após Cristo houve um concílio que proibiu o casamento dos padres depois da sua ordenação.
Já na idade média, cerca de 1000 anos após Cristo, no concílio de Nice (se não me engano) foi instituído o celibato obrigatório para os sacerdotes. Foi considerada uma heresia (é de notar a época em que se vivia), a existência do sacerdote com descendência. Entendeu aquele concílio que não era compatível a dedicação a Deus, e, simultaneamente à família.
Na realidade, muito histiriadores consideram que, a razão principal da imposição do celibato pelo concílio de Nice, teve a ver com o facto de padres, bispos e cardeais de largo património deixarem aos filhos e não à Igreja, os seus bens.
Ao longo de séculos esta imposição foi contornada por muitos sacerdotes, inclusivamente papas, dos quais Borgia será o mais conhecido.
Mas, recordo, o celibato não existe nas escrituras, é uma questão da própria organização da Igreja, e da própria sociedade. E aqui, parece-me que a opinião maioritaria é a da abertura do sacerdócio a padres casados e com filhos.
Eu também sou favorável ao fim do celibato. Acho que é hora da hierarquia da Igreja dar esse passo. Seria até um sinal de coragem e de abertura aos novos tempos.
Quanto ao caso isolado do P. Giselo, ele não casou, assumiu a paternidade de uma criança como era seu dever.
Não embarco em críticas pseudo-moralistas que por aí andam. Melhor do que ninguém será ele próprio a fazer o seu mea-culpa ea decidir aquilo que entende ser mais correcto de acordo com a sua consciência.
Apenas digo uma coisa: quem nunca pecou, que atire a primeira pedra.

Anónimo disse...

14,27h
Julgo que isso deverá ter sido realmente aquilo que se passou.
Eles não encontraram um bode expiatório/corno para registar e sendo assim não houve alternativa e o Pde teve mesmo de assumir o seu ato.
Agora não venham fazer dele um Padre e Pai Herói!

Anónimo disse...

Não concordo, como é obvio o Padre Giselo ao assumir a criança devia ter posto imediatamente a "batina à disposição", pois à partida tem um juramento com as leis e regulamentos da atual igreja catolica. Quem vai para padre tem de fazer este juramento de celibato, assim como quem vai para o exercito, jura morrer pela pátria, “Dulce et decorum est pro patria mori”, e por ai adiante...quem nao quiser, ou não concordar, simplesmente nao vai para a vida religiosa ou se, mudar de ideias, deve sair, que era precisamente o que este senhor devia ter feito logo a seguir a ter assumido a paternidade da criança.De resto, a questão do celibato dos padres, deve ser discutida ao nivel do vaticano e das altas patentes da igreja, pessoalmente até concordo com a sua abolição, mas isso é um processo muito serio e que devera ser bem debatido com os fieis e crentes, se o padres ( ou sacerdotes) puderem casar, o Papa tambem vai pode casar? Os cardeais? os Bispos? ou a "legalização" do casamento para padres é so para os paracos de aldeia?

Anónimo disse...

Como dizia os nossos antepassados, talvez agora saibamos mais do porque da queda da Arvore naquele dia, o problema é como em tudo os efeitos colaterais que provoca e que provocou.

Anónimo disse...

Acho muito bem acabar celibato, acho bem que tinha assumido a paternidade, porque eles padres são homens como os outros e para mim ainda é uma profissão igual as outras e ainda bem que assumido porque há tantos padres que tem e escondem assim todos sabem assim não á enjeitados de padres, é bom bonito o padre Giselo .

Anónimo disse...

Aconselho a ler a lei canônica. O que o Sr. Padre sabia é que o bispo poderia atuar de 3 maneiras diferentes e que se revelasse arrependimento , talvez, e só talvez pudesse a ser padre. Ou será que pretende assumir a relação com a mãe da criança? É que dessa forma terá convidado a sair do sacerdócio.

Anónimo disse...

Caro Calisto apesar de concordar com algumas coisas que escreveu e de há muitos anos ser a favor do fim do celibato dos Padres e de o sacerdócio ser aberto às mulheres e homossexuais, penso que neste caso em particular o que está a gerar confusão é a maneira como o Padre geriu a situação e a sua própria indefinição.

Ele não foi o primeiro padre nem será o ultimo a passar por esta situação, ainda à pouco tempo houve um caso aqui na Madeira em que um Padre apaixonou-se por uma senhora e resolveu abandonar a vida sacerdotal e constituir família, gerou algum burburinho natural, mas seguiu a sua vida normalmente.

Ele quando escolheu a sua profissão sabia o que lhe esperava, como quando assumiu a paternidade também sabia a que estava sujeito.

A vida é feita de escolhas, era bom podermos ter tudo mas infelizmente raramente isso é possível.


Anónimo disse...

Ao contrário do que aqui foi escrito, o sacerdócio não é uma profissão como as outras. Nem sequer é uma profissão.
Há regras, concorde-se ou não com elas, e eu não concordo com o celibato nos dias de hoje, para além de entender que o casamento devia ser permitido aos sacerdotes. Quem não as quer cumprir, sai.
E, registo, há uma grande confusão sobre o que é o celibato. É uma opção de vida, não só para os padres, que implica o não ter relações sexuais. Nada tem a ver com o casamento, esse interdito aos sacerdotes. O celibato é uma profissão de fé.
Pode ser um pouco complicado, mas convém não confundir as coisas.

Anónimo disse...

Vao deixar de ser padre? E vai ganhar dinheiro como? Vai trabalhar onde? Obvio q ele quer continuar a ser sacerdote.

Anónimo disse...

Acabar com o Celibato na Igreja? E depois já pensaram que todos os Filhos e Esposas de Padres seriam afortunados com Euros e viveriam uma vida sem problemas financeiros e a Igreja entraria em decadência.
Teria de haver um Super Tribunal de Contas Catolico que não teria mãos a medir.

Já agora era bom o Pde Gisélio prestar contas referente aos donativos adquiridos para a Reconstrução da Capela das Babosas.
Sendo eu um residente na Freguesia, acho que atualmente não seria necessário a reconstrução da mesma, uma vez que este Presidente da Camara construiu uma coisa que era uma grande aspiração desta freguesia e dos seus antepassados que foi a Construção da Capela junto ao Cemitério.
Que utilidade seria dada a Nova Capela? Apenas para ser celebrada Missa uma vez por ano na Festividade de N Sra da Conceição, pois perdeu toda a sua utilidade no velório dos mortos que foi transferido e bem para a Capela recentemente construída junto ao Cemitério.
Só a muralha a Norte que teria de ser construída para evitar novas avalanches seria mais onerosa do que a própria Capela.