16 de Março 2019
Greve
às aulas pelo clima
Os
jovens reencontram as causas perdidas?
Ver centenas de milhares de adolescentes em greve escolar e manifestações por todo o mundo em defesa do clima faz-me lembrar aquela madrugada das causas derrotadas em Portugal, faz hoje 45 anos. Esta juventude em luta pelo Ambiente permite matar saudades dos tempos das causas cantadas em cada balada de Zeca Afonso, discutidas em cada cantina universitária, gritadas em cada carga dos esbirros salazar-marcellistas sobre a populaça nas ruas de Lisboa.
Naquela hora madrugadora de 16 de Março de 1974, a ordem do comandante do CISMI, de Tavira, foi um choque despertador na messe de oficiais, situada fora da Unidade. Toca a correr para o quartel. Há um golpe de estado lá para cima e entrámos de prevenção.
Uma notícia tão ansiada, mas há quanto tempo! O despertar mais bonito que os militares avessos ao regime podiam desejar. Em escassos minutos, a tropa concentrava-se no interior da Unidade, enquanto os portões se fechavam. Um estado de prevenção.
Era verdade: uma coluna militar havia partido do RI5 das Caldas da Rainha para tomar o poder em Lisboa.
Em Tavira como no resto do País, o sonho ganha formas: implantar a democracia, resolver rapidamente a Guerra Colonial, extinguir a censura e as polícias políticas, construir uma Sociedade portuguesa sem as desigualdades gritantes da longa noite, enfim consumar a luta silenciosa e derrotar o fascismo.
Ontem mesmo, ao ver a juventude mundial, incluindo a portuguesa, avisar os políticos universais de que esta mobilização em defesa do clima, porque não há um Planeta B, é só o princípio, lembrei-me do choque da segunda notícia, naquele 16 de Março, de que a coluna militar subversiva desistira de tentar depor Thomaz e Marcello, estando já de regresso às Caldas, ao mesmo tempo que se preparavam as celas vagas de Caxias.
O sonho da madrugada transformara-se em pesadelo. O comandante mandou reabrir imediatamente os portões do CISMI, normalidade reposta sem comentários, e quanto aos aspirantes como eu era levar cada qual o seu pelotão para os campos da Atalaia e mandar formar em 'U' para mais uma aula de táctica anti-guerrilha ou análise das características da Breda.
Lembro-me de que, poucas semanas depois, nos acordaram outra vez na messe: mais um golpe de estado lá para cima, o quartel já entrou de prevenção, toca a mexer!
Era uma quinta-feira e era Abril: o primeiro mês da segunda especialidade que eu dava a cabos milicianos, logo furriéis milicianos, potenciais candidatos à mobilização para África.
Nessa manhã qualquer de Abril, ouvi como praguejavam os oficiais que saltaram da cama arrancando em passo de corrida para o quartel, só porque andavam lá para cima a brincar aos golpes de estado.
Continuei na cama, repimpado e descansado, porque o matreiro cabo miliciano Pinguinhas tomava conta do pelotão quando eu me atrasava. Só cheguei à Unidade depois das dez da manhã.
Àquela hora tardia, encontrei os portões ainda fechados.
9 comentários:
Na mamadeira continuamos sem futuro porque os nossos jovens continuam a ser marionetas dos grandes interesses e dos grandes partidos! Aqui os jovens tem medo de se manifestar. E não são independentes e livres de qualquer amarra! Porque será? A Universidade da Madeira que deveria ser um centro de rebeldia, é um centro de amestração de cordeirinhos, ou melhor de carneirinhos!
E tu foste à manifestação?
Caro Calisto,
infelizmente não comungo do seu optimismo em relação a estas greves pelo ambiente, aliás começar algo que requer muito trabalho efectivo com uma greve já é mau presságio, a menos que a greve às aulas tenha sido para trabalhar em prol do ambiente, mas trabalhar mesmo, não teorizar, reclamar, discursar e desfilar para a fotografia.
Estudantes a fazer greve pelo ambiente e entretanto terem de andar contínuos a limpar lixo no chão e jardins das escolas é contraproducente. Quem não acredita que passe ao pé de uma escola perto de si.
Será que os grevistas de ontem estão dispostos a sacrificar alguma comodidade, esforço fisico e tempo livre em prol do ambiente?
Na nossa terra quantos estudantes participam activamente em trabalhos ambientais, quantas associações ambientais de estudantes activas existem na Madeira?
Além de noticias de jornais e posts na internet alguém consegue-me identificar algum trabalho continuo de relevo feito pela comunidade estudantil na Ilha da Madeira em prol do ambiente, não falo de uma limpeza de praia ou de uma plantação de arvores de ano a ano.
Sei que posso parecer muito pessimista, mas infelizmente só acredito quando vejo trabalho e esforço físico no terreno, propostas e intenções, mais comissões e reuniões para mim é nada.
O ambiente não se regenera com greves, mas com muito trabalho e sacrifício.
Permitam-me discordar da afirmação do comentador das 10:44. Entre os estudantes da Universidade da Madeira corre tudo às mil maravilhas e a prova disso é a Associação de Alunos da Universidade da Madeira, que está a nadar em dinheiro e que por isso mesmo não vai andar a organizar protesto só porque sim.
Caro comentador das 10:44,
a universidade não é um centro de rebaldia, nem de doutrinação ideológica, é um local de estudo, aprendizagem e preparação para a vida.
Pena é que cada vez seja mais um campo de formatação e castração mental dos jovens, para não falar de outros interesses nada a haver o real propósito.
Concordo com o das 12.14,
Se existe preocupação com o ambiente, não é com greves que se devem expressar.
Mas com acções concretas, e particularmente com o cumprimento todos os dias de princípios básicos de civilidade e boas práticas ambientais.
Não é com greves que o ambiente melhora, mas certamente não melhora apenas com bocas num blog online.
A greve demonstrou a insatisfação dos jovens, sobre um problema que nós adultos temos vindo a ignorar à muito tempo, quem sabe, para nós não fará grande diferença mas para eles, o futuro está negro e só irá melhorar se nós adultos agirmos com cabeça, porque o tempo escasseia rapidamente.
É verdade, ó das 09.12.
Daí tu poderes deixar de mandar bocas num blogue on-line, e poderes fazer alguma coisa útil.
Estou de acordo contigo.
muitos foram para faltar as aulas , tão.se pouco importando com o ambiente
Paulinho do Bloco foi a está manifestação porque ? se acha jovem?
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