24 de Março 2019

O enigma Cafofo

Do ponto de vista político, Paulo Cafofo tem um dom estranho: ele causa estranheza pela sua ausência e causa estranheza quando aparece. 

As pessoas acham singular que ele só apareça na câmara uma vez por outra, já que passa o tempo a viajar por conta da casa e a fazer campanha eleitoral matreira  por aí, como se não estivesse a ser pago para trabalhar. 

Quando aparece, surpreende por não conseguir fugir às banalidades que ameaçam passar ao estádio da anedota e pelos pensamentos retóricos que ninguém entende.

Esta semana madeirense foi uma das mais escaldantes dos últimos tempos. Um terramoto de proporções nucleares que toda a gente sentiu. Pois a reacção de Cafofo à convulsão criada pelos sarilhos do Dr. Rafael Macedo foi uma inesperada crítica à "guerrilha política constante".

O candidato à substituição de Miguel Albuquerque na Quinta das Angústias, a quem interessa que sejam movidas todas as guerras possíveis ao governo, apareceu nos ditos 'estados gerais' do PS-M muito preocupado, pedindo que se acabe com o clima de zaragata incessante.

Estranho. Não é fácil de entender. Mesmo sendo tacticismo, confunde.

Também não consigo traduzir a expressão utilizada pelo homem ao lastimar o mau ambiente que, pelos vistos, não lhe agrada: "A única coisa que existe é uma arrogância e uma guerrilha política constante", afirmou nos 'estados gerais'.

Arrogância exibida por quem, guerrilha praticada por quem e contra quem? A que propósito ele relaciona os dois conceitos no mesmo período? Sr. professor, 'uma frase, uma ideia'! Já se esqueceu? Quer apanhar uma reguada das antigas?

Já me cansei de suplicar aos deuses que levem o homem a dizer alguma coisa nova. Mas há 7 anos que não saímos do "focar nas pessoas", "melhorar a vida dessas mesmas pessoas", "não andarmos distraídos com questões de política baixa". 

[O que serão questões de política baixa? É assim mesmo que se diz?]

Isso e mais uma fiada de frases (mal) decoradas, a bater no betão, na dívida, a mandar focar nas pessoas, tudo a propósito do tema da conferência dos 'estados gerais', que era qualquer coisa sobre educação, igualdade, inclusão - conceitos que, vendo bem, se poderiam resumir a uma só palavra. 'Educação' contempla o resto. Ou então 'treta', que dá no mesmo. 

Cafofo só me obriga a pensar numa frase que debitou, não sei se casual ou se pensada e de grande alcance: "O que queremos é ser positivos e isso só é possível se mudar o governo."

Toma!

É uma expressão confusa, como o seu autor. 

Será que o homem com a história de querer que as pessoas sejam positivas está mesmo a recomendar serenidade, abertura para encarar as coisas pelo lado bom, sem as tais "guerrilhas constantes", como as originadas pelo furacão Rafael Macedo nos últimos dias? 

Isto de uma pessoa ser positiva... Será passar o dia com a cremalheira exposta?

Parece insinuar Cafofo que só mudando o governo se consegue ver as coisas pela positiva. Ou seja: quando o PS estiver no governo, e só então, vamos acabar com a guerrilha e ver a Madeira a cor-de-rosa. Psoas, já sabem: quando ele chegar às Angústias, acabou-se o negativismo e a má-língua. Pouco barulho! Até porque o homem, embora prometa resolver Saúde e o resto das desgraças num abrir e fechar de olhos, vai argumentar depois que a situação herdada não permite milagres.

Por alguma razão, e porque andam a dizer que isto está tudo ligado, o moderador da conferência sobre aquela educação e aquela igualdade inclusiva, com que Cafofo quer chegar ao poder e acabar com a guerrilha, foi Laureano Ascensão Macedo, ao que nos dizem irmão de Rafael Macedo, incendiário de serviço nesta fase da campanha eleitoral. Primeiro pro-actividade, depois serenidade.  

Tudo o que escrevi pode estar certo e errado ao mesmo tempo. Ou pelo menos 'nem sim nem não, pelo contrário'. É assim quando se aborda o enigma Cafofo.