30 de Março 2019

António Costa defende-se

Governo-família?

E a Câmara do Funchal?

"Não há confusão entre família política e política familiar", desabafou o nosso Primeiro Costa, apertado pela imprensa. 

Confesso que ainda fiquei mais confundido. 

Pensei, pensei... 

É isso. Sargentão quis dizer que família política são os militantes socialistas. E que política familiar é a sua estratégia que consiste em evitar o costume indecente de meter boys e girls no governo, optando por privilegiar  maridos, mulheres, pais, filhos, sobrinhos, sobrinhas, irmãos e irmãs, enteados e ex-cônjuges. 

Com um conselho de ministros purgado na medida do possível de carreiristas do partido, os adversários perdem o habitual argumento de propaganda utilizado quando cheira a eleições. 

Uma coisa é dizer, merecendo apoio da opinião pública: o teu governo é um albergue de tachistas do PS.

Outra coisa é ir buscar a família de cada um para atingir fins políticos, mesmo tratando-se do governo, porque o povo, sempre respeitado nestes credos e princípios, não perdoa.

É assim que as reuniões dos membros do Governo decorrem numa atmosfera sentimental e fraterna.

O nosso Primeiro pergunta:

- Então, Marianinha, como vamos de modernização administrativa?

Responde Mariana, dengosa:

- Vamos bem, mas aqui o papá lá em casa diz-me que não quer modernices no Ministério do Trabalho...  

Atalha Vieira da Silva:

- 'Mari', já te disse que o que se passa em casa não vem para aqui. Queres que conte aqui ao Tó sobre a sopa de ontem?

António Costa suspira e muda de campo.

- Oh Pedro Nuno, o secretário dos Assuntos Parlamentares diz que tua mulher ultimamente está a chegar um bocado tarde ao serviço... quando lá põe os pés.

Responde o ministro das Infra-estruturas:

- Pois, já lhe disse para não se deslocar no eléctrico, mas ela é tão frugal, e depois é ela a chegar tarde ao Ministério, é a irmã, é a prima... E eu é que ouço.

Conversa puxa conversa, o Sargentão pergunta ao casal de ministros se a criança está melhor e na mesma toada vai dando a volta à mesa de participantes nos trabalhos, a fazer hora para divulgar a nota com as deliberações do dia.

Está visto que os governantes da nova vaga continuam a ser falsos católicos e uns vende-pátrias como nunca se viu. Mas o pilar Família, alto lá, esse não o deixam cair. Pelo menos aí agradam ao Botas de Santa Comba. Acusem-nos de nepotismo os desenraizados e as ovelhas-negras das famílias portuguesas, à vontade.

...E critiquem-nos os anti-fascistas de pacotilha. A verdade é que a solidariedade intra-família não é só de Salazares, Saddames, Kadafis, Sungs coreanos e Castros. A maior democracia do mundo privilegia também os seus - vejam quem entrou com Trump na Casa Branca.

Segundo nos sopraram, o chefe do governo luso António Costa, impiedosamente pressionado por causa de uma postura que já ultrapassou fronteiras e faz rir os países da UE da Espanha p'ra lá, terá desabafado um dia destes, ao finalizar um conselho de família, sem se preocupar com a farpa a um amigo: 

- Falam de mim! Por que não vão ver a pouca vergonha de familiares e amigos na Câmara do Funchal?

Neste pormenor, o 1.º Cabo Cafofo pode responder que aprendeu tudo com o próprio Sargento. António Costa começou as suas experiências de negócio familiar nos seus tempos de presidente da Câmara de Lisboa. 

É natural que Cafofo também tenha aprendido alguma coisa com o camarada Carlos César, que estendeu passadeira de luxo à mulher, filho, nora e irmão, fora os para-familiares.

No caso da Câmara do Funchal, convém saltar o assunto. Não quero de maneira nenhuma maçar o Leitor num fim-de-semana com listas e listas intermináveis recheadas de familiares naturais e circunstanciais, de boys e de girls, de primos dos boys e de tias das girls.

Diz quem frequenta os corredores do Consulado Cubano e dos institutos dependentes de Cafofo/PS que o estilo de conversação entre 'quadros' mudou radicalmente.

- Priminha, teu marido já chegou ao gabinete?

- Mano, é hoje que o tio vai às zonas altas?

- Querido, vai lá dentro que meu irmão precisa de falar contigo para tratar dos convidados para o jantar.

- Cunhada, tens um adjunto disponível para me tratar das matrículas dos pequenos?

- 'Mor, manda reunir os nossos vereadores porque os chatos da oposição andam a preparar alguma.

E vem Carlos Jardim hoje no JM reclamar eleições primárias no PS para escolha das listas de candidatos às legislativas regionais e nacionais! Que são os patamares próprios para resolver problemas de familiares em dificuldades de emprego, com extensão ao cão, ao gato e ao papagaio! 

Um eterno lírico, o socialista Carlos Jardim, que fugiu a tempo daquele inferno.

No meio desta onda familiar, lá e cá, subjaz uma subversão que está a passar despercebida aos protagonistas do esquema. 

O Leitor conhece a teoria "brigam tanto que parecem irmãos". 

Pois é.

Certo que tanto a clique de Costa como a de Cafofo têm praticamente metidos todos os familiares em cargos de nomeação política. Na Madeira, o resto dos desempregados lá de casa entram depois de 22 de Setembro. A disputa entre os familiares levados para os governos e os que ficam em lista de espera pode ser gerida com algum êxito. Só que os chefões se estão a esquecer de uma patente familiar de muito peso (geralmente em todos os sentidos): a sogra. Uma instituição em cada lar. Quem me alertou para isto foi um cronista de determinado órgão nacional. "Ninguém nomeia a sogra?", pergunta ele, incisivamente, referindo-se ao elenco executivo do nosso Primeiro.

Se as sogras se começam a sentir marginalizadas, cuidado. Logo as sogras! Ai dos genros que caiam nas línguas viperinas da família. 

É urgente, pois, que a LPM convença o elenco executivo a mandar mais uns arquitectos e engenheiros experientes e competentes vigiar adufas e substituí-los por sogras da grande família.

Será um problema cada responsável saber qual das suas sogras será contemplada com um gabinete municipal, mas isso é problema deles.
Por lá, até o cara-de-pau do Cavaco diz que nunca viu em país nenhum situação de tal jaez. Rui Rio diz que deve haver, mas no Terceiro Mundo.
Isto é que é bater na árvore genealógica que o nosso Sargentão montou no aparelho de governo!

Marcelo e Cavaco já brigam a ver qual dos dois pode ser mais responsabilizado pela endogamia que está a divulgar o nome de Portugal no estrangeiro. Quando souberem do estado da sua embaixada no Funchal!...