27 de Março 2019

Qual é o espanto?

Em 31 de Março de 1964, João Goulart, advogado e político descendente de açorianos cognominado de 'Jango', foi deposto de Presidente do Brasil por um golpe de estado. Instaurou-se uma ditadura que durante 21 anos prendeu, torturou e matou montes de brasileiros de esquerda.

Quando em 1985 a democracia voltou, pondo termo a vários governos militares, os adeptos da ditadura simplesmente aceitaram fazer um compasso de espera. Gozaram 'de fininho' de ver os familiares dos democratas assassinados naqueles 21 anos à procura de restos mortais. Nesse período, até o actual presidente Bolsonaro ajudou à paródia: "Quem desenterra ossos é o cachorro."

A mesma personagem não hesita hoje, refastelado no Planalto, reconfortado com os militares que incluiu no seu governo e com a 'brigada do reumático' na reserva ('generais de pijama', para os brasileiros) - não se inibe de incentivar os 'tropeiros' a comemorarem nos quartéis a data da instauração da ditadura que depôs o democrata 'Jango'.
Para o ano é uma grande parada em Brasília com réplicas em São Paulo e no Rio, aposto.

E qual o espanto? Que esperavam de um homem que não escondeu as suas manias durante a campanha eleitoral? Que se espera que aconteça, mais tarde ou mais cedo, num país onde a maior parte dos presidentes eleitos depois da ditadura acabou na prisão?

Bolsonaro não é o único no mundo. Temos Trump, Maduro, Erdogan, Putin e uns ameaços muito sérios na Coreia do Norte, China, Itália, França, no sul de Espanha.

Descansados em Portugal? Dizem que a União Europeia não admite a instauração de ditaduras nos países membros. Pois. Como se um populista coberto de votos populares fosse perguntar a idade à UE.

A verdade é que a nossa Castela ocidental também se está pondo a jeito. Já vimos um primeiro-ministro na cadeia e actualmente à espera de ver se para lá volta. Mais ex-ministros e ex-secretários de Estado também à sombra. E banqueiros muito respeitáveis metidos em grandes alhadas. Não haverá nenhum D. Sebastião pr'aí em pulgas para tomar conta do leme, legitimar as manifes pró-Salazar e mandar celebrar o 28 de Maio de 1926, protagonizado pelo carroceiro Gomes da Costa?

Qual o espanto de se assistir a uma golpada dessas? O país, com a Madeira muito bem representada no movimento, é corrupção de cima a baixo. Ninguém confia nos políticos nem nos chefes da banca. 

E no entanto... não haverá grandes desgostos, se chegarmos a um extremo ao estilo Bolsonaro. Não são apenas os corruptos a reabrir o flanco. O povo assiste à roubalheira e vota neles, nos corruptos e nos populistas aproveitadores. 

Quem corre por gosto não cansa.