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terça-feira, 10 de abril de 2012

Bola para ao sarrame

EFEITOS DA GOLEADA



Um só resultado alguma vez pode abalar a inimitável história de um clube?


Depois de um período de nojo, frequentando zonas mais recônditas do Funchal, os maritimistas experimentaram aparecer aos cafés habituais, na esperança de que os rivais, adeptos do Nacional, estivessem esquecidos daquela noite atípica de sábado à noite e dos 4-2 nos Barreiros. Mas nem pensar.



Na mesa onde tive o azar de cair, entre outras de sinal hostil pela esplanada fora, desataram as indirectas e as directas. O antigo subchefe Fernandes da polícia, conhecido pelos fados e pelas anedotas, dizia que foi bom para o Marítimo estar a lutar pelo 4.º lugar, porque se fosse para o 5.º certamente apanhava 'chapa 5', aliás várias vezes à vista no jogo, segundo dizia.
Outro incondicional nacionalista castigava: "Alguém viu o Dr. Raimundo? Desde sábado que foi para a serra tratar das plantas e ainda não voltou..."
"O juiz (Sílvio Silva) também desapareceu da zona, deve estar com muito trabalho", carrega outro.
Quanto a Isaque Ladeira, João Carlos e este vosso amigo, todos antigos jogadores do Glorioso, precisámos de recorrer à artilharia pesada para rechaçar ímpetos recalcados há muito tempo pelas gentes da bandeira alvi-negra. Entre outras farpas de contra-ataque, alegámos que uma vitória de quatro em quatro anos provoca tais excessos, quanto mais se ganhassem sistematicamente como o Marítimo! E mais: nenhum dos antigos atletas maritimistas presentes se lembrava de ter perdido mais de uma vez com o Nacional, em 15 ou 20 anos de dérbis de 4 em 4 semanas!
Mas a barra não favorecia as cores do Almirante Reis: que no sábado podiam ter sido 5 ou 6, que o futebol filigranado do Nacional chegou a humilhar o adversário... Enfim, os exageros do costume. Acontece que os unionistas vieram reforçar os pelotões alvi-negros em campo, acentuando a versão do costume: o árbitro desta vez não ajudou, o Marítimo apanhou.
E nós a dizermos aos unionistas que estamos a falar de divisões diferentes, que o Santa Clara já devia estar a ganhar (União-Santa Clara decorria nos Barreiros e aqueles unionistas no café!), e que não se podia estar a misturar quem luta pelo 4.º lugar da I Liga com os que estrebucham no charco da descida para o terceiro escalão.
Mas era dia não. Alguém informa: o União marcou. E pouco depois: o União já ganha ao Santa Clara por 2-0.

...E eis que chega o Eng.º Rui Alves, em pessoa!


Perante a coligação União-Nacional (salvo seja), acabei por procurar novo poiso, a pretexto de que, aí sim, o écran se preparava para transmitir o Sporting-Benfica, o tal dérbi capaz de manter o Marítimo no devido 4.º lugar. E lá vieram umas cervejas para a rapaziada beber descansada.
Mas... Pior a emenda do que o soneto! Quem havia de entrar por lá dentro senão o presidente do Nacional! O Eng.º Rui Alves, em pessoa!
Mais tarde percebemos que o engenheiro fazia hora para o 'Prolongamento', o programa desportivo da RTP-M apresentado por Nélio Gouveia. Mas, enquanto a hora não passava, um tormento! Os maritimistas presentes e os que entraram depois, todos a reconhecer a derrota de sábado com os parabéns ao presidente nacionalista, muito padeceram com o espectro da goleada histórica à vista no dérbi, segundo 'matracava' insistentemente o engenheiro, mas com aquele cinismo da grande área, a fingir que foi melhor as coisas pararem pelos 4-2. 
Ainda brincou o polémico presidente, a respeito de o Nacional poder ajudar o Marítimo e o seu 4.º lugar no jogo com o Sporting: "Infelizmente acho que teremos de pôr os juniores a jogar, mas tudo faremos para vos ajudar..." - ironizava.
Mesmo assim, ainda conseguimos felicitar o líder adversário por ter escolhido um treinador, Pedro Caixinha, bom conhecedor da História da Madeira - o que surpreendentemente revelou ao dizer que o Nacional, nos Barreiros, iria jogar em casa...

O melhor, porém, foi optar pela segunda fuga da noite. Gira para casa, ver o dérbi lisboeta sem determinadas 'aves' nas redondezas.
O resultado foi o que se sabe. E já não havia hipóteses de fugir pela terceira vez.
Moral da história: o período de nojo será prolongado por mais uns dias longe dos 'manatas'. (1)

(1) - 'Manatas' era como o povo do Almirante Reis antigamente chamava aos funchalenses que moravam da Ribeira de João Gomes para oeste - e desportivamente aos nacionalistas da burguesia da capital, com sede naqueles lados.

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