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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Cultura, Culturas

HIPOCRISIA NAS COMEMORAÇÕES DA REVOLTA DA MADEIRA


O 4 de Abril teve como antecedente próximo a Revolução da Farinha, que nunca rebentaria se dependesse do acomodado povo de hoje.


Alguns dignitários da burlesca Madeira Nova tornam a celebrar neste 4 de Abril a Revolta da Madeira, de 1931. Temos nesta manhã de quarta-feira mais uma farsa de quem até dedica rancor e repulsa a tudo o que faz lembrar Abril.
Os fascistas desta Madeira Nova o que gostariam de celebrar era o 28 de Maio de 1926 e só não o fazem por vergonha. O 'rei das Angústias' bem vomita o seu ódio à I República, evocando em todas as oportunidade os excessos daquele conturbado período, escamoteando propositadamente a lógica desses excessos resultantes de um regime absolutamente novo em Portugal, o republicano, que acabou com hábitos monárquicos velhos de 7 séculos.
Nota-se-lhes, aos anti-democratas da Madeira Nova, e àqueles trogloditas da política salazarenta disfarçados na nova classe política do Continente - nota-se-lhes a íntima satisfação pelo golpe de Maio de 1926. Não podem negar. Foi esse 'pontapé na democracia' que lhes proporcionou 48 anos de fascismo. O 4 de Abril nada tem a ver com certa escumalha político-partidária que ocupa hoje a vida pública regional a coberto de uma descarada camuflagem de liberdade e democracia.

Os bravos militares madeirenses e continentais que saíram para tomar o poder no Funchal na gloriosa madrugada de aleluia, aquele magistral sábado 4 de Abril de 1931, arriscaram a vida precisamente para derrubar o regime nascido a 28 de Maio de 1926. Foi mobilizado por essa inalienável aspiração que o povo em massa festejou a sublevação, pelas ruas da capital e pelos campos da Madeira. O 4 de Abril de 1931 foi um grito de liberdade, uma declaração de guerra ao então emergente fascismo salazarista.
Perante a pusilanimidade açoriana e a cobardia continental, que faltaram com a prometida adesão, povo e tropas na Madeira encarnaram o golpe a corpo inteiro.
Adesão à distância durante o mês de Revolta da Madeira, só a do herói madeirense Gabriel Pereira, tenente da Marinha, que tomou Bissau e manteve toda a Guiné ocupada em nome dos revolucionários da Madeira.

Quem os saudosistas do salazarismo comemoram hoje no Funchal são os contra-revolucionários seus antepassados, aqueles que em nome do fascismo prenderam, deportaram e marginalizaram para o resto da vida os bravos militares e muitos civis, madeirenses e continentais, que se arriscaram em 1931 durante um mês, pela democracia e pela autonomia.


Os saudosistas de Salazar

Os admiradores de Salazar que actualmente detêm o poder nesta terra desgraçada são os homólogos e os descendentes daqueles que preferiram dar entrada no Lazareto e nas prisões de São Lourenço e do Forte Santiago a festejar a Bandeira Nacional desfraldada naquela madrugada pelos libertadores das consciências madeirenses e portuguesas em geral.
Ou desconhecem a história ou agem com uma inconcebível hipocrisia. Eles, os Jardins e companhia político-partidária, não festejam conscientemente o capitão Frazão Sardinha, o tenente Gabriel Pereira, Aciaiuoli, Ascensão, Flávio Albuquerque, Correia de Gouveia, tantos militares madeirenses e continentais como Sousa Dias, Augusto Casimiro, Fernando Freiria, o heróico tenente artilheiro Gil, o 'Gil da Peça'. Muito menos o dr. Vasco Marques, o dr. Pestana Júnior e outros operacionais da Revolução, porque estes foram protagonistas incontornáveis da I República, tão odiada e maltratada por estes politicões de trazer por casa. Uns oportunistas que hoje conspurcam a memória daqueles nossos antepassados só para armarem em adeptos de uma Revolução a que cobardemente não adeririam, se dela fossem coevos.

Eles gostariam de festejar era o 28 de Maio

Os trogloditas da triste actualidade no fundo apoiam o 28 de Maio e não o 4 de Abril, por mais discursatas ocas que façam esta manhã, aos pés do monumento do Pilar. Da mesma forma que apoiam o 25 de Novembro de 1975 e abjuram o 25 de Abril de 1974. Alguém acha que eles detestam o 25 de Abril por causa do 'perigo comunista' que eles delirantemente associam à data? Não. Odeiam o 25 de Abril porque foi o 25 de Abril que derrubou o regime anterior salazar-marcellista. Contra o qual arriscaram a vida os nossos antepassados de 1931, aqueles que de arma na mão enfrentaram Salazar e a sua 'frota do carapau' em defesa da democracia e da autonomia da Madeira. Foi o 25 de Abril a derrubar os antepassados dos mandantes de hoje, aqueles antepassados salazaristas que, abortado o golpe de 1931, prenderam, deportaram e depois marginalizaram para o resto da vida os corajosos da Revolta da Madeira, que hoje não nos saem do coração.

Os descendentes do fascismo, inimigos do 25 de Abril de 1974 e hipócritas comemoradores do 4 de Abril de 1931, que se assumam e, dentro de um mês e meio, festejem o 28 de Maio. Sem complexos. Se calhar, este povo mercenário, indigno dos pais e avós de 1931, compareceria na rua cobrindo os saudosistas da ditadura com flores e cânticos de ritmo marcial, misturando o 'Paz, pão, povo e liberdade' com o 'Lá vamos, cantando e rindo'.


1 comentário:

jorge figueira disse...

Não está acontecendo nada de novo nesta terra. Os totalitarismos procedem sempre à "revisão" da história. Encontram, normalmente, a troco de uma boa ração de lentilhas, um mastim disposto a rever a Verdade histórica.Felizmente, entre nós, os poderes pretendidos não tiveram a dimensão desejada.