CURIOSAS ESTRATÉGIAS NA OPOSIÇÃO
Até há uns anos, era impensável prever que alguns oposicionistas desta terra haviam de saltar em defesa do grande chefe em lugar de aproveitarem o momento próprio para o ataque decisivo. |
Já não é o primeiro jornalista que se queixa de lhe terem chegado reparos de alguns membros da oposição regional contra o destaque ultimamente proporcionado à situação interna do PSD, que acham exagerado. E, mais do que exagerado, possivelmente delineado para favorecer e conservar o situacionismo fascista regional. Deste prisma: os jornais estão a entreter a opinião pública mostrando as peripécias dentro do laranjal a fim de o povo desviar as suas preocupações do dramático estado sócio-económico-financeiro que conduz a Madeira para o abismo.
Esta forma um pouco estranha de ler a comunicação informativa não é original. Esta forma de pensar sedimentou-se como estado de espírito. Um hábito que persiste. Um tique de quem gosta de aparecer esquecendo, esses sim, os verdadeiros fundamentos e objectivos da luta... que devia ser deles e não prioritariamente dos jornalistas.
Bater para não deixar levantar
Pelos anos fora, a táctica do 'rei das Angústias' consistiu - e ainda consiste - em infligir ao adversário que lhe aparece no ringue uma persistente flagelação de socos, golpes irritantemente curtos, para estudar e manter a certa distância o challenger ou o franco-rival. Chama-lhe nomes, associa-o a sinistras organizações, lembra-lhe esqueletos do passado, denigre as mulheres e enxovalha os homens lá da família. Aos poucos, o desgraçado acusa a intimidação, perde forças e motivação, sente-se definitivamente incapaz de reagir para tentar a solene sova que o déspota da tribo merece. Em muitos casos, dá-se a desistência pura e simples e o soba fica em ringue sob aplausos, a gozar o vilipendiado até dele se esquecer. Noutros casos, quando o challenger consegue aguentar-se das pernas até ao fim do combate, embora com o rosto feito num Cristo flagelado, é o júri a decidir, fazendo-o sempre favoravelmente ao campeão em título, mesmo que numa vez ou noutra se tornasse necessária, na contagem de votos, a velha chapelada .
Mas em muitas outras vezes, a luta é abreviada: o campeão consegue aplicar um nocaute no queixo do 'cliente', mandando-o como um saco de batatas ao tapete. E, quanto o triste lutador tem o azar de se levantar, zonzo e atordoado, antes de terminada a contagem dos 10 segundos, o campeão massacra-o violentamente, sem dó nem piedade, até o deixar KO prostrado no tapete, a ouvir muito ao longe, como num pesadelo, a multidão aclamar delirantemente o vencedor.
Nestas alturas, os adversários costumam dizer: enquanto 'ele' estiver acolá, com os meios que ele tem, não há maneira de mudar o campeonato.
Que falem antigos líderes e dirigentes partidários, que digam quanto trabalharam por um regime democrático e quanto sofreram naqueles anos, para depois ouvir o povo aclamar a ditadura. Vezes seguidas.
Em defesa do troglodita da política!
Gerações de oposicionistas passaram por isto. Todas ansiosas pelo dia em que 'ele' deixasse de 'estar acolá', fosse batido num combate normal, fosse por implosão lá na sua equipa política, experiente mas cansada. Pois agora, pela primeira vez, e depois do avanço de Miguel Albuquerque, o próprio chefe deu ordens a Manuel António Correia para se perfilar na corrida à sua sucessão. O que se entende como um reconhecimento de que lhe falta pujança para encabeçar, ele próprio, uma luta que julgou impossível, dadas as três décadas vividas sem que um rebento do laranjal se atrevesse a disputar votos internamente, muito menos contra o grande líder do musseque.
Então, como reage a oposição? Será que, ao perceber que o grande rival sofreu nocaute provocado pela surpresa da 'desobediência' interna, a oposição cai em cima daquele que maltratou, enxovalhou e expulsou do ringue tantos adversários que pretendiam fazer política honesta, em defesa da sua terra e não em proveito próprio e dos amigos? Será que a oposição aproveita o atordoamento do adversário responsável pelo regime pró-nazi para o levar às cordas e aplicar, como ele tantas vezes fez a outros, o tão sonhado KO final?
Não. Alguns elementos da oposição saltam em redor da pista pedindo que se acabe com a luta, o que significa dar tempo ao campeão desacordado para que se levante e recomponha, para continuar o regime de crápula que instalou na Madeira há 36 anos.
Pelas palavras de tanta gente da Oposição nas últimas décadas, sempre julgámos que a estratégia seria derrubar o grande chefe da tribo e depois, acontecesse o que acontecesse então, aplicar todas as forças para, já sem tal empecilho no caminho, derrubar o sistema instalado na Região, na pessoa do sucessor.
Afinal, não é assim. Muitos oposicionistas acabam de saltar em defesa do troglodita que anda com a chave da caverna bem segura na cinta. Evidenciar as fragilidades do eterno chefe - dizem eles - é desviar as atenções populares da crise em marcha.
Troca do escândalo da RTP-M por uns minutos de écran
Há quem diga, na classe de jornalistas, que certos oposicionistas o que mais ambicionam é também aparecer em público, botar figura na fotografia e na TV. Pelo que abordarem os jornalistas a situação interna do PPD jardinista é igual a promover Miguel Albuquerque, Manuel António ou Cunha e Silva.
Tudo menos a frustração de não sentir câmaras e holofotes por perto.
Pelo que ouço das queixas de antigos colegas que hoje sofrem no activo aquilo que outros sofreram durante muitos anos, certos oposicionistas - que nada têm de comum com os verdadeiros suportes do combate ao jardinismo - não olham a meios para vegetar nos patamares da fama. E é aqui que me ocorre comparar velhas situações relacionadas com a RTP-Madeira, quando os tempos de reportagem no telejornal eram contados à fracção de segundo e era permanente a chantagem baseada no argumento de que a TV fazia o jogo da maioria. Ora, ainda há pouco assistimos à manobra mais aberrante para o assalto à estação pública. Um administrador da RTP de nome Marquitos, que já lá não está, consegue engendrar a ocupação da RTP-M por uma clique constituída segundo critérios familiares e económicos. Depois, formava-se mesmo uma comissão de acompanhamento chefiada por Luís Miguel de Sousa, figura em destaque do regime instalado. E os partidos de oposição, excepto as honrosas excepções conhecidas, ficaram praticamente calados, como se o monumental escândalo que ainda persiste na RTP-M, estação já está com um pé no outro mundo, para mal dos seus honestos trabalhadores - como se tal escandaleira fosse muito natural.
Como uns quantos minutos de imagem no ecran televisivo podem transformar as mentes!
A cada qual assiste o direito de proceder em liberdade, defender a viragem nesta terra ou fingir que a defende. Pois que não nos privem a nós do direito de achar estranhos certos comportamentos da praça política.
Já chegavam o chefe da tribo e seus guerreiros.
2 comentários:
São os interesses transformados em bens colectivos divididos a contento de todos e com as bênçãos partidárias.
E a saga continua, cantando e rindo...
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