12 de Março 2019

Só metade do Bloco de Esquerda apoia Paulo Cafofo/PS?

Catarina Martins apontou com cuidado e abateu os dois coelhos de uma cajadada: criou um facto político e demarcou-se do Partido Socialista no actual cenário de eleições à porta. A vida está má para todos e se houver bipolarização alguém desaparece do mapa. Se o PCP tem eleitorado seguro, onde votar foice e martelo, mesmo sob disfarce de CDU, é maquinal como um católico convicto ir à missa, nem todos os grupos políticos se podem gabar de tal fidelidade.

A líder do Bloco de Esquerda tirou proveito das comemorações do 20.º aniversário do partido e atacou à falsa fé, acusando António Costa de ter feito igual a Passos Coelho, em matéria de refinanciamento da banca. Catarina falou sem guardanapo, atribuindo ao primeiro-ministro, seu aliado parlamentar, a prática herética de, uma vez na posse do voto dos socialistas em 2015, tapar o buraco dos bancos falidos com o dinheiro de todos.

A outra Catarina - Ana Catarina Mendes, secretária-geral do PS - veio imediatamente a terreiro denunciar a "comparação inaceitável" feita pela homónima bloquista, explicando a política de Costa que foi preciso aplicar para tentar resolver os casos "explosivos" na banca.

Sem dúvida que foi um ataque tão inesperado quanto violento, aquele que a presidente do BE desferiu contra o governo socialista. Com um argumento irrebatível: tal como fez Passos Coelho, António Costa desbarata um dinheirão público para socorrer um banco, o Novo, agora com mil e 400 milhões de euros. Ficando no ar a sensação de que os próximos meses serão de tensão entre PS e Bloco, mesmo no plano parlamentar, onde ambos os partidos têm respeitado uma espécie de acordo de não-agressão.

Esta investida brusca do Bloco nacional coincide com uma situação no mínimo curiosa que o mesmo partido vive na Madeira. O bloquista Rodrigo Trancoso tem-se batido com denodo na Assembleia Municipal do Funchal em defesa do presidente da Câmara, Paulo Cafofo, e por tabela em defesa do PS-M. Guida Vieira, depois da guinada que imprimiu às suas velhas ideias a respeito do poder burguês inimigo do proletariado, é também peça implicada no situacionismo municipal, como apoiante inflamada de Cafofo. Porém, ao mesmo tempo, o líder do BE-Madeira, Paulino Ascenção, não pensa duas vezes para exigir publicamente o afastamento de Cafofo da presidência do município, para que não beneficie do cargo oficial nas campanhas eleitorais praticamente em curso.

Que parte do Bloco de Esquerda apoia e que parte quer arredar Cafofo?

Isto é que vai uma açorda, como diria Camilo de Oliveira.

Ajudemos a suavizar o berbicacho. Por que cargas de água Catarina Martins não votou a favor da moção de censura com que o CDS tentou, dias atrás, derrubar o tal primeiro-ministro que tem procedimento igual ao do satânico Passos Coelho?

Será que nas regionais o Bloco de Esquerda irá apoiar o PS-M que vem actuando em linha com um primeiro-ministro igual a Passos Coelho? Será que o BE arriscará o haraquiri, desaparecendo do mapa político-partidário a favor de Cafofo, Câmara e Victor Freitas? Quantos blocos existem no Bloco? Qual deles manda? Um militante leal ao BE vota BE ou PS? E que pensa Roberto Almada disto tudo?
Não é fácil perceber esta ciência política.
Catarina Martins, da sua parte, vai fazer render o facto político que inventou como prova de vida. Joana Mortágua ajuda a festa chamando arrogante ao governo por causa da guerra dos professores. Nem mais. Para começar, Marisa Matias quer ser reeleita eurodeputada. E a vida não está fácil para ninguém.