14 de Março 2019

Promiscuidade 

em casa dos outros

Foto de família laranja nas Angústias, ontem. Convívio de outra cor aconteceu logo depois na Câmara do Funchal, com autarcas, dirigentes partidários, candidatos às eleições, uma festa. Mas sem foto.

Hoje, manhãzinha cedo, o líder do PTP Quintino Costa pergunta-me ao balcão do café se me dei conta da polémica provocada pela recepção de Miguel Albuquerque ontem nas Angústias a uma comitiva social-democrata nacional que esteve em serviço no Funchal. O presidente trabalhista falou-me das críticas espalhadas numa rede social que denunciavam a promiscuidade daquele encontro. Posicionando-se na primeira linha dos ataques - especificou - um autarca socialista de S. Martinho, Duarte Caldeira.

Respondi que não vi. Mas também tinha lidado com o assunto e contei a Quintino as minhas diligências.

Contei que ontem fui alertado para essa recepção nas Angústias. E pensei na ocasião: Albuquerque a utilizar a Presidência do Governo para encontros partidários?! No tempo da monarquia é que o governador, fosse do Partido Regenerador ou do Partido Progressista, fazia as suas reuniões mais delicadas com os correligionários na sua residência oficial, o Palácio de S. Lourenço!

No cruzamento de dados, estabeleci contacto com o Dr. José Prada, secretário-geral do PSD-M e anfitrião do homólogo do PSD nacional, José Silvano, presente no Funchal. E o Dr. Prada, sob palavra de honra, explicou-me que as reuniões partidárias, que suponho terem em vista os apoios financeiros do partido nacional aos laranjas regionais, com três eleições à porta, decorreram exclusivamente na sede PSD, à Rua dos Netos. Na altura do regresso ao aeroporto é que os visitantes fizeram questão de apresentar cumprimentos ao Dr. Albuquerque. Daí a fotografia de família nas Angústias - aliás publicada, sublinha o secretário-geral do PSD-M.

Não vi nada de extraordinários à volta destes procedimentos. E passei à frente.

Mas Quintino Costa, atento, ligou os episódios da trama. Vamos ao discurso directo de Quintino: "Depois de ver o alarido no FB, sem querer fui deparar-me com uma cena engraçada, eram umas seis da tarde, no átrio traseiro da Câmara. Estava lá uma carrinha preta, daquelas que os americanos usam nas campanhas eleitorais (e em Portugal também, digo eu). Nisto, aparece Emanuel Câmara esbaforido, de baixo, entra na Câmara e sai logo a seguir, acompanhado pelo Paulo Cafofo, o candidato europeu Pedro Marques, a candidata Sara Cerdas, uns vereadores... e o Duarte Caldeira! Então! Depois de falarem da Quinta Vigia, vi eu mesmo aquele grupo em pré-campanha eleitoral a sair de uma instituição oficial como é a Câmara Municipal. Já não era promiscuidade? E lá entraram na carrinha preta o presidente da Câmara, o Marques, a Cerdas, o Emanuel, ou seja, autarcas da casa, dirigentes partidários, candidatos, tudo!"

Quintino Costa soltou a gargalhada que o caso requeria, teceu uns comentários lacónicos e, antes de ir à sua vida, fez questão de vincar: "Diga mesmo que fui eu que lhe contei!"

Desta vez a contradição explodiu num espaço de poucas horas. Mas o caso faz-me lembrar as voltas que a política e os políticos dão. Mesmo agora. Veja-se o caso dos critérios que devem orientar os titulares de cargos governamentais durante as campanhas. Apareceu a CNE, e muito bem, a proibir que os governantes façam promessas e inaugurações de obras no tempo que falta para as eleições. Para que se não utilizem meios públicos na propaganda partidária. 

Finalmente! O que em vão se protestou na Madeira contra as centenas de inaugurações embandeiradas a cor laranja que vimos antes de cada acto eleitoral, durante 40 anos! Sem que as entidades nacionais competentes acudissem aos apelos. Agora viram a deslealdade, a batota!

Pois viram. Mas por pouco tempo. A pressão do Sargento Costa e acólitos foi de tal ordem que, uns 20 minutos depois da primeira 'ordem', a CNE voltou atrás para dizer que, sim senhor, inaugurem à vontade, mas não façam demasiado barulho.

E a gente a pensar que naqueles 40 anos...

Vão bugiar os senhores daquelas CNE's e afins, que como ontem só servem para albergar boys das cores certas.