6 de Março 2019

Trapalhões há muitos

O adiamento do 'Trapalhão' decepcionou bastante os apreciadores das boas piadas, mas não houve propriamente um fim do mundo. Lá foi o tempo em que o bem conseguido cortejo dos improvisadores constituía na Madeira um espectáculo raro, único no seu género, insubstituível. Aliás, torna-se cada vez mais difícil aos foliões apresentarem-se nas avenidas com sketches verdadeiramente originais. Hoje por hoje, por muito que uma pessoa seja criativa, não tem muito por onde satirizar as figuras públicas.

Alguém vence um concurso se se disfarçar de Albuquerque com uma caçadeira na mão? Não. O quadro já foi inventado. Paulo Cafofo em farda de trabalho? Muito desajustado à realidade. Um polícia municipal a prender um polícia da PSP? Pouco imaginativo. Um chefe socialista de bandeja a servir arroz de lapas à Catarina Mendes? Piada cansada. Um dirigente centrista agarrado a uma slot machine? Ao tempo! Outro centrista sentado no wc num momento de precisões a fazer força? Muito batido. Victor Freitas a conduzir o calhambeque dos cinco? Banal. Sargento Costa com a pregagem às escâncaras a devorar lagosta com vinho branco fresquinho e Pedro Calado com bata de maqueiro a pagar a dolorosa? 

Voltando a Miguel Albuquerque, e já que o desfile só será no sábado, não seria mal pensado se o nosso Blue participasse efectivamente no Trapalhão. Para o ano já estaria habituado, uma vez que nessa altura não deverá ter lugar cativo na bancada de honra.  

Como se vê, o Trapalhão ainda goza de muito cartaz, mas começa a enfrentar dificuldades. E não apenas pelo facto de os quadros serem recorrentes. É preciso contar com uma crescente concorrência movida por determinados sectores carnavalescos da nossa vida quotidiana. Desta vez, por exemplo, não me dei mal com o que encontrei ao preencher o tempo deixado livre pelo não-cortejo de ontem à tarde. Desde logo ao saber da nova app que a câmara se prepara para lançar tendo em vista a mobilidade das PSoas. Pelo que percebi na esplanada, muita gente vai pedir à Câmara que lance uma aplicação em 3D que permita perceber o que é mesmo a nova app da mobilidade.

Durante o cafezinho, dois curiosos pediram-me para traduzir a mensagem do consulado cubano sobre a visão estratégica do município que disponibilizará a nova ferramenta de mobilidade sustentável devidamente enquadrada com a conectividade digital, uma mobilização por acaso muito inteligente assente na autonomização e na recolha em tempo real e isso tudo, com montes de tráfegos, processos e dinâmicas... Perdi o fôlego, enquanto os curiosos mostravam certo espanto e admiração com tanto conhecimento municipal, manifestando o desejo de saber se a parte do estacionamento georeferenciado significava também a possibilidade de lombas georeferenciadas, mas aqui desataram a rir com a minha atrapalhação de trapalhão.

Outro número engraçado, embora pareça humor negro, foi o dos laranjas do Porto da Cruz escolherem a terça-feira de carnaval, dia de trapalhões, para implicarem com o presidente municipal de Machico sobre o cemitério. O tema aqui não se presta muito à graçola. Mas é justo reconhecer que os representantes do PSD avançaram para a diligência política esporeados por relatos frequentes da população, ainda por cima convergentes com alguma insatisfação com a situação do cemitério, e por uma irresistível carta do leitor sobre o candente assunto. Está escrito. Compreende-se pois a preocupação do PSD perante a falta de operacionalidade do executivo socialista liderado pelo Ricardo Franco. Lógico.

É carnaval e ninguém leva a mal, porém as piadas diárias são tantas que se dispensava esta. Até porque o cemitério está desactivado devido à degradação resultante de um deslizamento de terras - conforme o comunicado dos laranjas - e então ficamos sem perceber em que consiste propriamente a queixa.

Outro chiste de ontem que nada ficaria a dever ao Trapalhão foi a história de o PS, depois de 5 tentativas, não conseguir ocupar o lugar que ganhou na regedoria da Boaventura. Melhor ainda: o azarado partido atribui o estranho vazio a hipotéticas pressões políticas sobre os militantes, que pelos vistos devem ser pouquíssimos. Pressões políticas? Mas pressões políticas sobre quem, se não há quem? Aquele Garcês!...

De gritos foi também o estrelato vertido sobre o folião Pedro Coelho, pela proeza de o autarca social-democrata ser folião em Câmara de Lobos.

Este cortejo de trapalhões, com mais uma caterva de sketches que ficam para a próxima, substituiu bem o cortejo oficial. Banda sonora? Não faltou. Em fundo, mas suficientemente audível, houve animação vocal com Iglésias, Calado e Prada no estúdio, actuação seguida de um curioso despique ao ritmo do samba, com Guida Vieira e Trancoso a gritar Cafofo-Cafofo e Paulino a fazer segunda voz com fora-fora!

Para quem esteve atento aos números que fizeram rir no dia de ontem, atenção organizadores do Turismo: a fasquia do Trapalhão para sábado subiu dois furos.