CUNHA E SILVA DESAFIA JARDIM E PERFILA-SE PARA A SUCESSÃO
Linha de Albuquerque reage com satisfação à candidatura do vice do governo, que "divide as forças adversárias", e prepara luta com o candidato Jardim: "Estoirou o saco de gatos e de paus mandados de terceira categoria"
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| Cunha e Silva: hesitou, atrasou-se e agora chega-se à frente. |
| Miguel Albuquerque: candidata-se pela sua cabeça e segundo os seus próprios prazos. |
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| Manuel António: escolha recente de Jardim, mas um forte candidato. |
Quando tudo apontava para uma disputa clara no PSD-Madeira entre dois candidatos, um da linha maioritária de Jardim, representada por Manuel António, e outro da linha minoritária de Miguel Albuquerque, encabeçada pelo próprio, eis que o vice do governo João Cunha e Silva saltou hoje para a ribalta dos noticiários avisando que não está fora da corrida.
Alegando desconhecimento do anúncio de candidatura feito pelo secretário do Ambiente, o que não pode ser verdade, o vice de Jardim no governo regional afirmou claramente que a sua candidatura está em aberto, a não ser que o líder se recandidate, possibilidade que aliás admite muito provável.
João Cunha e Silva deixou mesmo uma farpa cortante ao seu colega de governo Manuel António, ao afirmar - segundo citação no Diário de Notícias 'on line' - que nada lhe disseram sobre a candidatura falada nos Canhas, nem tinham de lhe falar. Nesta base: se calhar, só têm de lhe comunicar a ele, vice, aquilo que é importante, e a candidatura de Manuel António Correia certamente "não é importante".
E seguiu-se uma bicada ao próprio chefe Jardim, que atacara a candidatura de Albuquerque no JM, dizendo-a obra da maçonaria e dos Blandy: todas as candidaturas são legítimas e bem-vindas - arriscou João Cunha e Silva.
Trata-se de um claro desafio a Jardim. João Cunha e Silva sabe que Manuel António Correia jamais anunciaria a sua candidatura, e muito menos a do próprio chefe para a Mesa do conselho regional e do congresso do PSD-M, sem ordem superior.
A nova situação naturalmente provocará consequências no partido e no governo. A não ser que Jardim queira pegar nesta evolução dos acontecimentos para satisfazer a obsessão de se eternizar no poder. Se é que, arrependido pelo passo a quente de lançar Manuel António só para tramar Albuquerque, não encomendou mesmo a Cunha e Silva este papel para destruir a candidatura do secretário do Ambiente.
Governo regional escaqueirado
Partindo do princípio de que estes cenários seriam maquiavelismo a mais, então Cunha e Silva 'tirou o casaco' finalmente, se bem que ao estilo vacilante de que nunca se conseguiu libertar. Se quer ser candidato, teria de o dizer abertamente. Em lugar do simples 'admitir a hipótese'.
Em todo o caso, é mais um nome lançado.
Como se esperava, deu para o torto a ideia intempestiva do chefe de mandar o 4.º elemento do governo ultrapassar os demais executivos quando faltam três anos de mandato. O próprio vice ficou para trás.
Jardim já pouca autoridade tem para governar. Porque persiste ali a sombra que criou para si próprio, a do sucessor por ele indigitado. Mas agora as coisas pioram: há um vice que discorda da escolha do chefe e que ameaça concorrer contra essa escolha... e o chefe.
Que ambiente rodeará os plenários de governo, que já não era muito saudável? Jardim chegou a queixar-se das hesitações de João Cunha e Silva - que ora queria ser o sucessor, ora recuava, depois amuava quando se falava noutro. Pois a situação torna-se agora explosiva. O facto de Jardim fazer discursos avisando a plenos pulmões que o PSD-M está unido e que ninguém tem autorização para o desunir, essa estratégia surge agora desprovida do vigor de outrora. Jardim perdeu a mão no partido e agora acaba de perder o resto da liderança do governo. É, quando muito, um presidente honorário, e mesmo assim a prazo. Ele recusa-se a crer em tal traição, mas a verdade é outra, bem ruim para ele.
Tanto assim que será curioso ver o que ele fará com os desenvolvimentos da cegada que criou ao precipitar-se na reacção à candidatura de Miguel Albuquerque. Das duas, uma: ou deixa correr tudo como está, negando, como costuma fazer, a fractura sem conserto no governo; ou puxa da voz já rouca para operar uma limpeza, remodelando as partes da governação que lhe fazem frente. Isto porque, claro, ninguém espera que opte pela saída mais inteligente, que seria a sua própria demissão.
A realidade só não a vê um fanático: este governo regional, se está sem condições para governar devido à falta de dinheiro, mais frágil se tornou por causa da luta pelo poder dentro do plenário que Jardim julgava mais obediente do que é.
Os municipais divertem-se com a novela
A reacção espalhafatosa de Cunha e Silva, ao perfilar-se também para a corrida à sucessão, foi recebida com um quase júbilo nas hostes de Miguel Albquerque. "Trata-se de uma divisão nas hostes adversárias e claro que isso é bom para nós", diz-nos um dos mais directos colaboradores do presidente da Câmara. Que informa terem os apoios à candidatura crescido "de forma agradável e mais depressa" do que se podia calcular.
A facção laranja liderada por Miguel Albuquerque ensaia já o endurecimento do discurso para quando a lutar no terreno começar. Daí dizerem já que a corrida será com o próprio Alberto João Jardim. Por isto: "O saco de gatos estoirou e não é possível aguentá-los, o chefe perdeu o controlo daquilo. Aquele governo é uma nau que mete água por todos os lados. O número 4 e o número 2 passam o tempo a olhar para o poleiro do número 1... e o número 1 fica espantado porque julgava controlar as ambições de ambos. Linda novela."
Albuquerque apresentará projecto mas não quando Jardim quiser
Diz o mesmo elemento: "O Miguel (Albuquerque) já se prepara para defrontar nas eleições internas é o Alberto João, porque os outros dois vão neutralizar-se um ao outro."
O endurecimento visa já o próprio líder até aqui incontestável: "Como é que o Alberto João, que não consegue controlar o seu governo, quer mandar na Madeira, daqui para a frente?" Podemos ler daqui um apelo à demissão de Jardim. E objectamos: Alberto João Jardim tem posto em dúvida que Albuquerque tenha um projecto para a Madeira. Eis a reacção de um miguelista de primeira hora: "Já falámos sobre isso, porque nos rimos quando ele (Jardim) põe isso nos bonecos do Jornal da Madeira. E a resposta é uma só: o Miguel vai apresentar um projecto para a nossa terra assente no desenvolvimento e em princípios democráticos. Mas vai apresentar o projecto quando bem entender e não quando o Alberto João Jardim quiser, porque não manda nada. Sem querermos ter piada como os bonecos, dizemos seriamente que gostaríamos de saber que projecto tem o Alberto João para o futuro da Madeira."



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