Novo Governo

'A MADEIRA A CANTAR'

Antes, era na edilidade funchalense. De futuro, a nomenclatura passará a ouvir cantar os reis nas Angústias. Era o Funchal, agora é a Madeira a cantar.

O povo está perplexo, a começar pelos próprios militantes social-democratas mais informados. Mas os novos capatazes não dão explicação nenhuma para o arraial de salsada que marca a preparação da nova temporada política na Tabanca

A construção do executivo Albuquerque e as escolhas para cargos no parlamento fazem recordar os tempos do PPD municipal: concursos para o povo cantar, piano bar no Teatro, altares de São João, fecho de umas ruas ao trânsito e pontapé para a frente.

Já nos perdemos no meio da bagunça que tem agitado a Região no último ano, processo da sucessão no Laranjal. E nem sequer queremos recordar os solavancos daquela corrida dos delfins, espécie de carro do Négus a galgar à louca o empedrado das vielas impossíveis que subiam até à Rochinha.

Como se tem visto, aquilo é uma 'renovação' parlamentar a dar nas vistas, com Tranquada, Miguel de Sousa e Jaime Filipe - sem esquecer os anúncios pagos por Miguel de Sousa para literalmente enxovalhar Albuquerque, na campanha interna. 

Quanto ao governo, é Pedro Calado que representa o espírito de mudança, depois é Pedro Calado que nem sequer entra para o governo, à pega com Sérgio Marques, que por sua vez, depois de ter feito campanha picuinhas fixa no Delfim favorito, ultrapassa os apoiantes deste último e impõe-se como número 2 do governo. E Albuquerque não explica ao povo isso de Calado, aquilo de Sérgio.

Depois é a economia que fica com este, que entretanto se divide por uns quantos membros do executivo, que finalmente cai nas mãos de Jesus - e aquela gente sem uma justificação que aplaque os receios de hecatombe.

...Mais competências que vão para este e depois voltam para trás para aquele, informação prestada aos órgãos do partido depois de até cães e gaivotas da capital saberem tim tim por tim tim o que se passa lá dentro - um festival de barracada e insegurança.

E são nomeações que não lembravam ao diabo, um desfile de nomes e caras como no charme da passagem de vedetas pela night mais in. E ainda uma recuperação de chefes de gabinete que eram da confiança anterior. Agora surge Bruno Pereira outra vez na ribalta, e, se as suas qualidades não são chamadas para aqui, os votantes no PSD mereciam uma simples enunciação de argumentos para explicar a reviravolta.

Se o espectáculo da chamada de nomes ao palco é anedótico, aquilo lá dentro é um túmulo ao nível de explicações para cada trapalhada. Compreende-se: nem eles sabem o porquê daquilo, acontece porque sim. Ganharam, fazem legitimamente as trapalhadas que querem e não têm que se explicar a ninguém. O povo votou neles... 

Tal como o 'outro' dizia. O povo legitimava-o nas urnas, então podia chamar maricas, bêbedos, cubanos e nojentos a quem lhe apetecesse, ou pôr na rua do emprego quem olhasse um pouco mais acima.

Esse, o 'outro' que, sem o menor escrúpulo, gasta até aos últimos cêntimos do erário com uma viagem lá por fora, saindo como entrou no PPD em 1974: um desconhecido.

Sai e não se percebe que alguém esteja interessado - a não ser o Bloco de Esquerda - em pedir investigações para se saber o seguinte: com tanta 'obra' feita à custa de tanto dinheiro lisboeta e europeu, como é que ficamos ainda com 7 mil milhões para pagar? Quem é o responsável pelo descalabro financeiro de 40 anos?

Pois, disto não se ouve Albuquerque falar. Não nos disse ainda como é que vai arranjar perto de 500 milhões para assistir anualmente ao serviço da dívida (geramos 800 milhões de receita...). Ou por que pontas irá combater a situação de 23 mil desempregados. Ou a pobreza extrema que alastra nesta terra - enquanto o 'outro' come e bebe nas Europas e Albuquerque continua inebriado pela ascensão ao poder. Deliciado a ver como as pessoas se põem em bicos-de-pés a ver se vêem também a imagem na tv e nos jornais, com cargo de destaque na nova nomenclatura.

Que visão mais embaciada! Aquela importância! Uma provinciana escadaria político-social a roçar o céu e que afinal cabe em tantas autarquias do continente. 

Mas, se lhes dá gosto e gozo, aproveitem. Afinal, a Tabanca do 'outro' não se encontrava em vias de extinção, está para durar.