MANUEL ANTÓNIO CORREIA FOI À 'CASA DE LOUCOS': A REBOQUE DE ALBUQUERQUE, FACADA NAS COSTAS DO CHEFE OU INICIATIVA PESSOAL DE FUNDO
O governante apareceu inesperadamente no plenário na sequência do Pacto da Oposição; mas outros factores podem também tê-lo incentivado à mudança de atitude...
Miguel Albuquerque |
Manuel António |
Surpreendentemente, o secretário regional do Ambiente e Recursos Naturais compareceu na manhã desta terça-feira no plenário parlamentar. Tratava-se de discutir um diploma sobre actividade pecuária e sua adaptação à Madeira. Os deputados admiraram-se com a comparência de Manuel António Correia, já que, até agora, nem presidente do executivo nem secretários costumavam enfrentar o parlamento, postura assumida a coberto da teoria do chefe Jardim de que o governo regional não deve 'baixar-se' ao nível 'daquela casa de loucos'.
O ambiente dentro do edifício da Assembleia e fora dele animou-se, com deputados e observadores a trocar alvitres sobre os motivos do assomo de humildade revelado pelo secretário que há semanas se anunciou candidato à liderança do PSD-Madeira.
Falou-se na hipótese de uma cedência do executivo à oposição unida no 'Pacto Democrático' assinado recentemente para, entre outras medidas, pugnar pelo normal funcionamento da Assembleia. O que impõe o respeito do governo por aquela casa.
Objectivamente, a oposição avisou que abandonaria o plenário sempre que um diploma do governo subisse a debate sem a presença do secretário da respectiva área.
De facto, Manuel António afirmou na manhã desta terça-feira que tudo fará para normalizar as relações entre governo e parlamento.
Trata-se, assim, de uma primeira vitória da unanimidade dos partidos da oposição reunida no referido Pacto.
A inesperada presença de um governante no plenário foi motivo de todas as conversas na manhã de hoje, como presumivelmente esta entre os líderes João Isidoro, do MPT, e Victor Freitas, do PS. |
Mas não se pode deixar de alargar a contextualização da novel atitude do governante. Sábado passado, outro candidato assumido à liderança do PSD-M, Miguel Albuquerque, afirmou em entrevista ao 'Expresso' aquilo que passamos a citar e vale a pena recordar:
"A Assembleia Legislativa Regional - palavras textuais do candidato e presidente da Câmara da capital - está a funcionar mal. É fundamental dignificar o órgão base da autonomia. Uma das questões essenciais é o próprio governo prestar contas à Assembleia. Deve lá ir semanalmente ou quinzenalmente. Quando eu estive na Assembleia, o partido nunca fugia ao debate (...) No Parlamento nacional, o primeiro-ministro comparece de 15 em 15 dias. Nalguns círculos, confunde-se democracia com fraqueza. Na Câmara do Funchal, sempre dialoguei com a oposição e aceitei propostas da oposição e, ao longo de 16 anos, sempre ganhei a Câmara. Na democracia tem de haver dialéctica. A democracia enriquece-se com a pluralidade."
'Mea culpa' governamental
A entrevista com estas declarações saiu sábado, uns dias depois do Pacto da Oposição. Nesta terça, eis Manuel António Correia no parlamento com promessas soando a 'mea culpa' governamental.
À primeira, somos assaltados por uma ideia: chefe Jardim resolveu, de uma cajadada, matar dois coelhos: neutralizar a oposição nos mediáticos números de abandonar o plenário por falta de secretário nos debates; esvaziar as declarações nacionais de Miguel Albuquerque, anulando-lhe, daqui para a frente, os argumentos que apresentou aos leitores do 'Expresso'.
Nesta primeira possibilidade, temos um governo obrigado a cedências à oposição e a reboque das observações que o 'indesejável sucessor' Albuquerque anda exprimindo pela comunicação social.
Mas há uma segunda hipótese: Manuel António Correia resolveu unilateralmente e 'a solo' - até porque o seu chefe das Angústias anda de passeio lá por fora - calar as vozes hostis e harmonizar com a solidez possível o relacionamento governantes-deputados.
Então, temos mais uma situação de 'facada nas costas' de Jardim, uma vez que o chefe superior desatina com aquela 'casa de loucos' e, além disso, Manuel António, apesar de Delfim predilecto das Angústias, reconhece com o seu atrevimento que o governo falha desde sempre no respeito ao parlamento a que a lei obriga.
Pode pôr-se ainda uma terceira hipótese: Jardim está por dentro da mudança e permitiu a viragem de comportamento do secretário do Ambiente, para que ele, sem trunfos na manga e no papel de forte candidato a chefe do PSD e do governo, num futuro próximo, chame a si a tarefa de acabar com a imagem trauliteira do executivo e partido suporte.
Alguém acredita nesta terceira versão?
Nós não.
3 comentários:
Caro Luís Calisto
Penso que o rapaz está a tentar convencer-nos de que pensa pela cabeça dele e que é independente do patrão. Algo que só os patas-rapadas do povo supetrior acredita.
Mudam-se os tempos mudam-se as vontades. Dizia Camões. Nestes tempos em que ninguém insistiu para que os estudos que, há anos, procuram determinar com exactidão o valor da dívida desde o Zarco terminem (tão úteis que seriam na mobilização para os anos do João)o melhor é continuar Português. A selecção até está a ganhar... e Madeirense mais mediatico, qual sol, empalidece qualquer Lua ansiosa de protagonismo.
Ora ai está uma bela foto da oposição que temos cá na Madeira.
As pessoas deveriam estar preocupadas a pensar em quem votar nas proximas eleições (obviamente deixando de fora o PSD. Por razões evidentes e do tamanho de um buraco), e não tanto a discutir a sucessão.
Mas olhando para a foto...até percebo!
Enviar um comentário