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terça-feira, 19 de junho de 2012

O que vai na praça




UM GRITO CONTRA TUDO AQUILO QUE CHEIRE A INTRIGA



Se os convidados para os 'anos do João' estão a dar 'tampa' na festa alegando que aquilo no Lagar é um jantar contra o Albuquerque, melhor fariam se fossem sinceros: ninguém tem dinheiro para uma sopa.
E, por outro lado, quando não houver dinheiro para um copo de vinho num arraial, fecha-se a tasca



A programar festas para adormecer o povo, Albuquerque equilibra-se com o rei das Angústias. E a Igreja ajuda.




















Inebriado com os incessantes acordes, cheiros e cores dos arraiais que por cá se realizam, mal temos conseguido contar aos nossos Amigos as novidades que correm na praça.
Esse não mais acabar de festas da cidade, da cultura, altares de São João, santos populares, sábados com fogo nos céus do anfiteatro regado a champanhe, tudo sem tempo para curar vapores, serviu de abertura na coversa em que participámos segunda-feira nas esplanadas centrais.

"A pôr o povo a comer, a beber e a dançar, o Albuquerque aprendeu bem com o outro, o das Angústias", provocou aquele funcionário público, freguês assíduo do café e que exibe ressabiamento feroz para se demarcar do aparelho laranja em decomposição. "Pode o rapaz rebelde que manda na câmara muito bem acusar o chefe das Angústias de governar pelo medo e de controlar o partido desrespeitando as datas do congresso, como fez no 'Expresso'... mas quanto a forrobodó e demagogia de arraial, muito lhe fica a dever. Aprendeu muito com o seu antigo ídolo."

O contabilista sem trabalho, a ver numa primeira página o Ronaldo a chupar no dedo após o primeiro golo contra os holandeses, resmunga antes que os outros convivas intervenham: "Todos criticam o das Angústias, mas até os partidos da oposição, pelo menos alguns deles, imitaram os comícios de Verão com artistas do bacalhau."

O antigo vendedor de tabaibos à roda do Mercado aproveitou para se confessar: "Tanto nas festas de uns como de outros, sempre arrematei a minha barraquinha para ganhar uns trocos e passar o Verão regado. Não critico isso das festas. Com o raio desta crise então, se o povo não tem uns pedaços para se distrair..."



O futebol difunde a bandeira nacional pelos corações e pelos lares madeirenses.


"Homem, nesta altura o povo tem a selecção para criticar e festejar", torna o contabilista sem trabalho.
O empregado põe o carioca de limão na mesa e enquanto espera pelo dinheiro, por causa dos esquecimentos, desabafa: "Faz-me confusão é onde o povo anda a ver os jogos. Todos têm Sport TV? Os jogos não dão todos em canal aberto. Ora, temos aqui um ecran gigante, promoção de imperial e de doses, e mesmo assim o café e a esplanada ficam às moscas durante os jogos... como acontece nos dias normais."

"O mal é este", comenta o antigo dos tabaibos, hoje assistente-segurança de uma conhecida figura da capital. "Nunca mais evoluimos. Se não são festas, é futebol. Se não é futebol, são festas!"

O empregado recolhe o dinheiro e diz, antes de voltar a encostar-se à porta, por falta de movimento: "Foi a política do João das Festas. O povo não tem votado? Então não se queixem."


O mistério da festa do 'João'
"Por falar nisso, tenho ouvido lá nos serviços... Parece que os bilhetes para os 'anos do João', dia 30, estão todos vendidos."
O contabilista sem trabalho contrapõe: "Sei de fonte segura, e não é que seja lá da religião laranja, mas consegui saber que os organizadores andam à rasca para encher a sala do Lagar. Muitos convidados têm recusado por entenderem que aquilo é um jantar contra o Miguel Albuquerque, e então..."
Há um compasso de espera na mesa. Comprometedor.

"Mas de que lado está esta gente, afinal?", intervimos nós, para não deixar extinguir o incêndio. "Esses cavalheiros que recusam solidariedade ao chefe das Angústias de certo modo estão a espetar facas nas costas do homem, também eles..."

A provocação obtém sucesso facilmente. O desempregado da construção civil que ultimamente se colou ao grupo, revoltado com a sua situação de despedido ainda quente, faz uma interessante associação de ideias: "Isso das facas espetadas nas costas... O homem tem um jeitão para o circo. Depois de 30 anos de palhaçadas, de surpreendentes números de contorcionismo, depois de malabarismos que têm deixado os olhos do povo em bico, depois de arriscados números num trapézio sem rede, truques de magia capazes de esconder buracos financeiros do tamanho do Pico Ruivo... depois desse espectáculo circense espaventoso, ao homem deu-lhe agora para faquir: em vez de pregos, são facas enfiadas nas costas todos os dias. E lá vai ele andando. Ou melhor, viajando de avião, em executiva."

O antigo vendedor de tabaibos (costuma dizer hoje que ninguém o 'lixa', de tão calejado de espinhos nas unhas) aproveita para um elogio hipócrita: "Pelo menos o rei das Angústias não se repete, apresenta sempre números novos, para surpreender. Acreditem: para anestesiar o povo e continuar a mandar, ele remove montanhas."

"Cá remove montanhas nada, essa agora!", rezinga o contabilista, para contrariar.



O rei removeu o planato da Lagoa e levou-no até às Carreiras


"Claro que remove", insiste o dos tabaibos. "Ele passou o Chão da Lagoa para as Carreiras, e sem barulhos, sem quase se dar por isso. Onde fazem agora o 'basqueiro' pimba do laranjal? Na herdade da Fundação. E onde é que fica a herdade? No Chão da Lagoa. No Chão da Lagoa que agora está nas Carreiras."

"No caso, moveu planaltos, então, mas sim, treino para isso tem o homem", ironiza o contabilista. "Ele também levou a Quinta Vigia de cima, onde está hoje o Casino, e arrastou-a até encaixá-la onde era a Quinta das Angústias."


GNR: as piores lapas são outras

O desempregado da construção civil tratou de 'avacalhar' a conversa, farpeando a imagem do rei sem piedade: "Levou a quinta para lá e por lá se alapou a título perpétuo! Quando ouço que a GNR apreendeu a uns desgraçados mais 20 ou 30 quilos de lapas, penso cá para mim que há lapas mais perigosas, agarradas aos tachos, que, essas sim, deviam ser arrancadas pelos operacionais da GNR ou fosse por quem fosse." 

E o dito desempregado, a propósito de mudanças mágicas, já fazia notar que sua excelência tanto se diz maritimista hoje como põe o cachecol do Nacional amanhã, que em Lisboa canta o hino nacional e aqui pergunta o que é que Portugal faz na Madeira, que apregoa democracia batendo no peito e pratica ditadura batendo nos outros...
Fomos nós, mais uma vez, a lembrar a falta de ética de se falar pejorativamente de quem não está presente para se defender. Queríamos deitar achas... e com esse 'altruísta' sentimento, fundamentámos o que dizíamos: o homem também não fala de ninguém pelas costas, é um corajoso que só ofende cara a cara.

Puseram a vedação no aterro para nos privar do passeio higiénico habitual. Aquilo não passa de obra do vingativo chefe das Angústias.


Quem ouviu das boas fomos nós, e com certas verdades a saltar da cartola dos facínoras que nos levantámos de mansinho e descemos atordoados directamente para o aterro, em busca de passeio retemperador e higiénico. Mas uma surpresa se levantara diante dos nossos propósitos: uma vedação que nos proibia o acesso ao mítico aterro, certamente mandada colocar pelo vingativo inquilino das Angústias, para nos privar daquele pequeno prazer.

Da ponta do cais, magoado pela ingratidão, olhámos para o jardim a oeste, sobranceiro às 'Vespas', onde tremulava o pavilhão azul-amarelo da Região superior.
Políticos!

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