'FÉNIX' NÃO SUBSCREVE AS INCREPAÇÕES E VERRINAS QUE CIRCULAVAM ESTA MANHÃ NAS ESPLANADAS
...Desenterrando os temporais, o Trevo Amarelo, o Cubalivre e os carros incendiados
Santos Costa dá sempre falatório quando aparece na baixa, como nesta quinta-feira. Para quê aparecer, depois da derrota de Portugal?! |
O aviso aparece em título porque as malsinações constantes desta crónica citadina são demasiado graves para que assumamos responsabilidades do que saiu das más-línguas esta manhã de quinta-feira, na baixa funchalense. Em lugar de descarregarem as frustrações no Paulo Bento e no Moutinho, que 'entalaram' a Selecção no maldito jogo e nas penalidades de ontem, ei-los os filósofos de pacotilha que voltaram à carga sobre personalidades públicas desta terra já tão massacradas!
Aparentemente, respirava-se normalidade na mesa onde por infelicidade caímos, a meio da manhã. O contabilista sem trabalho passava os olhos pela 'Bola' e esgaçava páginas umas atrás das outras, conforme as virava, e ameaçava com prisão perpétua e trabalhos forçados 'o arrogante do Paulo Bento'.
O funcionário público, presença permanente no café, afirmou-se capaz de cortar certas partes baixas do corpo de Moutinho pela displicência do rapaz ao bater e falhar o primeiro penálti de Portugal. Funcionário público, ponto e vírgula. Um ressabiado calculista, sim, que aquilo que pretende, após tantas benesses haver arrancado aos chefes do sistema, é demarcar-se da governação regional em derrocada estrondosa. Ingrato!
O antigo vendedor de tabaibos, com barraquinha fora do do Mercado, insurgia-se por sua vez contra Hugo Almeida, asseverendo que, se fosse capitalista, oferecia a fortuna que o ponta-de-lança exigisse para não tornar a calçar umas botas de futebol.
Santos Costa expõe-se em dia de ressaca futebolística...
Esta normalidade, porém, estava para durar pouco. Foi apenas o tempo de aquele bancário respingão, pré-reformado compulsivamente aos 35 anos por inadaptável à produtividade por objectivos, reparar numa figura sentada três mesas adiante, à conversa com outro cavalheiro.
- Quem não está nada chateado é aquele - apontava com os olhos para Santos Costa, antigo secretário do Equipamento Social - Ali descontraído, a tomar o seu cafezinho, sem preocupações... Pudera, os investigadores da 'Cubalivre' parece que hibernaram...
As más-línguas não poupam nem altos responsáveis nem as empresas que, num louvável rasgo humanitário e desinteressado, ajudaram a recuperar essas terras varridas pela intempérie. |
- Ora, nada de admirar, com a reacção linguaruda dos barões aqui da Madeira ao trabalho do Ministério Público! - resmunga um caixeiro a quem o patrão paga para ele nem aparecer lá na loja, porque estraga o ambiente de propósito a ver se lhe passam uma carta que garanta o subsídio de desemprego - Mas aquele já não foi apanhado pelos investigadores, saiu em bom tempo.
- E depois dos investigadores terem regressado a Lisboa, andou uns dias no Campo da Barca, dentro e fora, no edifício do antigo Equipamento Social - é o antigo vendedor de tabaibos a delirar - Toda a gente aponta umas 'coisas', mas ninguém prova nada.
Paulo Bento erra, os políticos pagam
O contabilista sem trabalho atira a 'Bola' para cima da mesa com tal brusquidão que se o empregado, de passagem, não lhe deita a mão, o jornal derruba chávenas e copos da água.
- A Justiça é que não se mexe, ora a porra do c...! - pragueja o homem, visivelmente inconformado com a eliminação de Portugal nas meias-finais do Euro - Investigam, gastam dinheiro, dão maçada a tanta gente... e depois há poderes misteriosos que atrapalham, empatam, estorvam, emperram... e aquilo não dá mais nada. Os próprios governantes fazem, por isso! Não se importam nada em fazer aplicar a Justiça!
- Claro que se importam - contraria o dos tabaibos, para fazer falar o contabilista - Anda cá na Madeira um secretário de Estado por conta do Ministério da Justiça... Veio cá ver, estudar...
- Deixa-te de m... - insiste o contabilista - Ele veio cá e fala com esses mostrengos do reumático, o grande chefe, o representante Ireneu, acho que a rainha da Assembleia... Conclusão: o que o tal secretário de Estado viu na Justiça da Madeira é que há muito calor nas salas dos tribunais! E se fosse p'rao...?
- Lá fora, no Continente, também não resolvem nada - trata de arrefecer o empregado de mesa, com a bandeja debaixo do braço porque pouca gente se sentou na esplanada - Aquilo é a Casa Pia que não deu nada, o Freeport, o Apito Dourado, o...
- Chega, que a gente já sabe disso tudo - corta o contabilista sem trabalho - E aqui?
- Por exemplo? - participamos nós, para farpear o contabilista.
- Por exemplo? Queres ir perguntar àquele? - o contabilista invoca Santos Costa, que continua discreta mas animada conversa, na sua camisa desportiva e calça creme - Vai perguntar àquele por que raio contratou como empreiteiros os donos daquela empresa de flores... para desobstruir aquelas porcarias do 20 de Fevereiro... E por que adjudicou isso tudo por 3 milhões de euros!
- Ah, aquela empresa de S. Vicente? - pergunta o empregado, despachando-se dali sem quase ouvir a resposta.
- Então qual foi? - dirige-se o contabilista aos convivas da mesa - Esses do Celeiro qualquer coisa Trevo Amarelo Lda! Vejam: 3 milhões a uma empresa de...
- Que empresa? - perguntamos nós, para o fazer repetir.
- É uma sociedade por quotas - ele conhece a matéria - Vocês sabem... uma Joana.. e o António... Os sócios. Uma casa ali perto da Ponte Nova... O outro é lá para os Lameiros, no Norte...
Contratos de boca
- Sei lá quem é isso! - diz o caixeiro - E foi aquele (Santos Costa) que...
- Eu não fui - continua o contabilista.
- Mas se negociavam flores...
- Pois, o que sei é que de comércio por grosso eles passaram de repente a limpadores de entulho.
- É preciso um alvará.
- Pediram para mudar na Conservatória do Registo Predial, mas acho que não têm alvará.
- Bem, foi talvez por ser em tempo de catástrofe, o 20 de Fevereiro...
- Sim, mas quem achou isso estranho não fui eu, foi o DCIAP, e talvez o Tribunal de Contas! - ironiza o contabilista - Tantos ajustes directos... e as denúncias chegaram ao Ministério Público. Aquele dinheiro todo... sem os papéis necessários... E depois esses ajustes foram em tanto lado. Obras de recuperação do Funchal a Santa Cruz e Machico, Santana, Porto Moniz, Ribeira Brava...
- A firma deve ter papelada.
- Que se saiba, aquilo foi tudo de boca, tudo contratado por aquele ali (Santos Costa) ainda debaixo de chuva e com as ribeiras cheias. Lês jornais do Continente? Foram contratos em cima do joelho. Os trabalhos, se os houve, feitos sem fiscalização, os empreiteiros contratados a entregar as contas que bem entenderam... E daí os investigadores terem vindo cá ver como iam as continhas.
Escutas telefónicas 'bufadas' e misteriosamente desaparecidas... Estão a delirar!
- Mas o resultado não é nenhum, por enquanto.
- Não é isso que estou a dizer desde há bocado? - suspira o contabilista sem trabalho, nitidamente em dia 'não' - Este (apontou para nós) pediu exemplos de processos parados... Vai daí...
- É verdade, esse é um caso, mas também... - espicaçamos.
- Um caso? Quantos queres? Olha os carros incendiados a familiares dos do PND!
- Continuam as investigações...
- Continuam? Não tenho a certeza disso. Entretanto, aconteceram coisas que me deixam intrigado. Será que a Judite apurou algumas coisas sobre os terroristas e os mandantes, com escutas telefónicas? Alguém soube e logo algum grandão cá da terra terá sido avisado para proteger dos holofotes os suspeitos da sua igualha... e as gravações então sumiram-se?... Alguém passou a perna à PJ?
Se já não estávamos à vontade com o rumo da conversa, nesta fase pusemo-nos de pé, em posição de zarpar apressadamente daquele pântano da calúnia. Só perguntámos:
- Sabes da gravidade do que estás a dizer?
E o contabilista sem trabalho:
- Estou a reproduzir o que ouvi da boca de alguém com experiência na matéria. Leste o 'Crime' sobre...
- Não dizia isso - avisámos.
- Mas falava das relações da PJ com os jagunços da maioria! E isto que me aventaram joga com isso. Junta as peças e logo vês.
- Mas isso das escutas apagadas... Quem é que poderia entrar naquele edifício e fazer essa patifaria?
- Eu não vi, nem sequer sei se há escutas ou não - corta-se agora o contabilista - O que se passa é que ninguém diz nada, proporciona-se a especulação e ainda por cima quem me alvitrou esse cenário percebe daquela m...! Não sou especialista e por isso...
Aterro, doce aterro!
Deixámos o contabilista sem trabalho a falar para os outros, porque não estamos interessado numa intimação que nos obrigue a ir lá dentro à Judite para sermos 'apertado' com umas perguntas sobre a matéria.
Só reproduzimos estas conversas em nome do combate à intriga que corrói a sociedade madeirense. Há que denunciar estes arautos e profetas de café, a ver se alguém os faz entrar na linha.
Foi esta reflexão que fiz durante as mais de duas horas em que me perdi, confuso, cá e lá pelas pedras soltas do aterro.
Oremos: que nenhum governante ceda à tentação de retirar o bendito aterro dali. |
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