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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Madeira ao Vivo






D. António, um bispo amigo do povo... mas o D. António Bispo do Porto, nos anos 50




"NÃO VEJO VANTAGEM NENHUMA EM AFOGAR UM GRITO DE DOR"




O bispo António Ferreira Gomes.
Quando o nosso planeta voga na modernidade imparável do século XXI, a Madeira continua mergulhada num obscurantismo inacreditavelmente anacrónico e único

















 



Os bispos colocados na Madeira desde o 25 de Abril são peças para ficar na História como baluartes de um regime idealizado para subalternizar a idiossincrasia do povo insular à imortalidade sonhada por um provinciano populista


Um regedor de aldeia, à custa de difundir demagogia pelas freguesias da sua terra, criou tabus conforme lhe apeteceu para se perpetuar no poder, o que já vai em 34 estafados anos. Falamos da Madeira, claro.
Para isso, continua o regedor contando com apoios dos beneficiários do sistema. A própria Igreja assumiu e ainda assume um papel importante no processo, entre as forças que sustentam o regime da crápula regional.
Por assim dizer, calharam à Madeira, de 1974 para cá, três bispos que, contra o curso da História, em lugar de esclarecerem o povo, o fanatizam partidária e religiosamente com sanha mais radical do que nos tempos do fascismo.

Em áreas pró-diocese das Quatro Fontes, chega-se a contestar o direito constitucional do cidadão, incluindo os padres, à livre expressão de pensamento.
Hoje, 38 anos depois da Revolução dos Cravos!
Por ali, defende-se a intervenção pública do prelado e dos seus acólitos, mas apenas num sentido, o do apoio ao regime político-partidário que domina o panorama regional.

Dos próprios meios religiosos e zonas próximas, disparam-se ataques para atingir quem, apesar de sacerdote, ousa cumprir o seu verdadeiro papel, o de intervir com frontalidade e coragem a favor da sociedade a que pertence.


Que raio de pacto...?

Vários padres continuam sob fogo cruzado feito pelos hipócritas da religião e da política, perante o silêncio cúmplice da diocese das Quatro Fontes. Que raio de pacto haverá entre os poderes temporal e espiritual, nesta terra? Como se tornou possível institucionalizar a cretina ideia de que a Igreja deve mandar o povo esfomeado rezar e andar alegre, porque quem contesta o poder das Angústias desestabiliza o redil?

Nesta situação, e independentemente de o cidadão ser católico ou não, como não recordar com saudade o bispo do Porto dos anos 50, António Ferreira Gomes, que não se escondeu na sombra da sacristia nas horas escaldantes da vida nacional nem trocou a dignidade pelo bem-estar das mordomias palacianas?!
D. António - o do Porto, não um D. António qualquer - recusou-se a servir de bandeira do salazarismo perante o povo explorado. Muito menos admitiria, se cá aparecesse, que lhe conspurcassem os adros das igrejas com mentiras e ataques abjectos ao próximo, como faz quando lhe dá na real gana o monarca das Angústias, que se comporta como patrão do D. António de cá, e de forma tão descarada que é ele, rei das Angústias, a comentar o estado decrépito da Igreja, mas para o tornar mais decrépito ainda, mediante críticas ofensivas a padres que lhe não fazem a corte.
O bispo das Quatro Fontes toma posição em defesa dos seus sacerdotes, ou sequer para esclarecer a situação na Igreja que dirige?
Nada. Enfrentar a Igreja oficial o poder ditatorial que explora os madeirenses não chega a ser hipótese remota.


Fendas no templo

A Igreja não vê as fendas no templo, tão assustadoras como as que ameaçam aquele edifício bafiento e desengonçado onde ainda jazem alguns barões laranja?
Que futuro pode ter a Igreja, esta que sobrevive na Madeira?
Como pode ela calar-se quando os seus padres com personalidade invendável são tratados no seu próprio jornal por 'padrecos' e o povo que devia defender não passa de desprezíveis 'patas rapadas', na concepção da ditadura insular com quem ela, a Igreja, ignobilmente corre parelhas?

Como não recordar D. António, o do Porto?


 

Salazar tinha poderes ilimitados, mas D. António, bispo do Porto, não o temeu. O histórico prelado expôs-se às inevitáveis consequências, intervindo em defesa do povo explorado nos tempos do Estado Novo. E continua no coração lusitano.


"A grande e trágica realidade, que já se conhecia mas que a campanha eleitoral revelou de forma irrefragável e escandalosa, é que a Igreja em Portugal está perdendo a confiança dos seus melhores."
Quem escreveu estas duras e acutilantes linhas não foi um ressabiado com a vida. Nem um comunista. Nem um "pata rapada". Muito menos um dos "padrecos" daqueles que, no dizer do madeirense rei das Angústias e dos seus mercenários, "insultam quem não comunga das suas ideias".

O autor daquelas linhas foi um bispo. Foi um D. António. Mas não um D. António qualquer. Foi um D. António radicalmente  indisponível para gerir a sua diocese em estado de subserviência perante o poder político.
Quem escreveu estas linhas foi o bispo António Ferreira Gomes, do Porto. E fê-lo em carta enviada nada mais nada menos do que ao chefe do governo português, António Oliveira Salazar, pouco depois das eleições presidenciais de 1958, ganhas por Américo Thomaz (beneficiando das falcatruas da Situação para dizimar a candidatura de Humberto Delgado).

D. António - o do Porto e não o das Quatro Fontes - encontrava-se em Barcelona quando dessas presidenciais. Participava numa série de conferências. O governo português tratou de o fazer vir a Portugal, com o  pretexto de votar. Mas, como denunciou frontalmente o prelado na carta que dirigiu ao temível Salazar, o objectivo do convite para ele vir a Portugal nesse dia era usar o bispo, na decisiva hora eleitoral, como bandeira do regime ditatorial.






Regime então periclitante à conta da subida popularidade do 'general sem Medo'.



"Perdendo a causa da Igreja na alma do povo..."


Dessa fase da História de Portugal podemos rever alguns aspectos reflectidos na decadente 'Madeira Nova' de hoje. O bispo António Ferreira Gomes indicou e Salazar exemplos para provar o que dizia a respeito do desprestígio da Igreja portuguesa.
Na corajosa carta, referiu-se ao que já vira no país: "No Minho, coração católico de Portugal, onde se pensava que bastaria sempre o abade dar o lamiré e todos entravam imediatamente no coro, no Minho católico, mal os padres começavam a falar de eleições, os homens, sem se importarem com o sentido que seria dado ao ensino (ou lição política), retiravam-se afrontosamente da igreja."

A situação repete-se hoje na Madeira... mesmo quando o pregador é leigo e o púlpito se transfere para o adro.

D. António, bispo do Porto, alertava também para o estado de insatisfação reflectido nas juventudes da Acção Católica, "onde tanto se quis dizer que os padres andavam a lançar inquietações e dúvidas". Os dirigentes da organização "saltavam dos quadros para manifestarem a sua inconformidade e desespero".
Como hoje, os epítetos de subversivos e comunistas fustigavam os padres conscientes do rumo da igreja envolvida num regime então já destestado.
"Está-se perdendo a causa da Igreja na alma do povo, dos operários e da juventude; se esta se perde, que podemos esperar nós da sorte da Nação?" - o bispo confrontou Salazar com esta realidade. Precisando o problema sem rodeios no referente às ligações da Igreja com a política situacionista:
"Como meio único de salvação, querem que cerremos fileiras em volta do Estado Novo. E apontam-nos os dentes das feras, que já se aguçam, e previnem-nos contra o masoquismo do martírio e lembram-nos os frades espanhóis que votaram pela república em lista aberta... tudo isto para que as ovelhas se congreguem em volta do pastor."

Padres 'perigosos'

Também na Madeira Nova (!) se desencadeou forte campanha do chefe do governo, perante o silêncio do chefe da igreja nas ilhas, para fazer dos padres descontentes um perigo do qual as ovelhas só poderão livrar-se quando congregadas à volta dos dois pastores, Carrilho e Jardim.

Já D. António do Porto não receou afrontar o 'santo' Salazar considerando ser errado abrigar-se à "Sombra da Pax-augusta do Estado Novo" independentemente da Verdade e da Justiça. Assumiu a esse respeito "discordar em geral da Situação". "E como discordar em geral da Situação é discordar de V. Ex.ª..."

O bispo do Porto reconheceu no seu escrito "a comoção e o entusiasmo, o sobressalto de esperança" com que acompanhou os inícios da carreira de Salazar, coincidente com a saída de um período politicamente agitado em Portugal, a I República. Mesmo já em 1958, ano do envio da carta em questão, o prelado concordava genericamente com as políticas externa, ultramarina e económica, fundamentadas na "lucidez de raciocínio" e descritas pelo governante num discurso em 31 de Maio daquele ano.
Se não houvesse a dramática questão social...


Pois, a difícil parte social...

O bispo referiu ao ditador as inquietações que lhe advieram da parte do discurso de Salazar relativa às questões sociais. E desabafou:
"Quando cheguei ao problema social (nessa parte do discurso de Salazar), tudo começou a ser difícil. Involuntariamente, encontrei-me a fazer um exercício lógico que consistia em procurar a exacta contraditória das posições expressas por V. Ex.ª, a fim de ver onde me devia situar. Pois confesso francamente que, desprendendo-me de cromatismos de sentido e cambiantes de expressão, que o próprio tom perentório e às vezes enfático de V. Ex.ª convidava a desprezar, me vi quase sempre obrigado a aderir à forma contraditória das afirmações do Seu discurso. Posso errar, mas creio bem estar com a doutrina da Igreja (aqui não se trata de mera política, mas de filosofia política e de sociologia) ao discordar de doutrinas que, sendo de V. Ex.ª, são da Situação."

D. António apontou os pontos de discórdia. Por exemplo quando Salazar, nesse discurso, se insurgiu contra as "reivindicações de certa campanha" em favor do direito à greve, para esclarecer: "Aqui nos separamos. A greve é entre nós um crime."
O bispo afirmou ter pena dessa posição do caudilho, já que muitos direitos como o da greve "estão com a doutrina da Igreja" - e aliás consagrados em vários países.


Filo-comunismo e cripto-comunismo para dividir cristãos

O escrito do bispo continha a observação de que Salazar colocava "frente a frente o liberalismo e o comunismo, parecendo excluir a possibilidade essencial de um terceiro".
A propósito desse radicalismo dos ditadores - por mim ou contra mim -, o bispo atreveu-se a expressar um pensamento sobre o comunismo 'papão' que muito deve ter incomodado o 'financeiro das botas'. Se, de modo geral, o bispo entendia que o comunismo não tem razão, reconhecia porém: "Com a mesma lógica e pelos mesmos motivos, penso que o comunismo pode coincidir com certas incidências concretas da sociologia cristã, que lhe é anterior, sem que por isso haja razão ou vantagem em falar de filo-comunismo ou cripto-comunismo para lançar a divisão entre os cristãos."
Para complementar a ideia: "Parece que foi Durkheim quem disse que, para muitos, o comunismo era menos uma ciência do que um grito de dor. Por mim, vejo todos os inconvenientes em transigir com a ciência; mas não vejo vantagem nenhuma em afogar um grito de dor."


Os madeirenses à mercê do colapso à vista na Madeira Nova deviam ler atentamente esta carta de D. António.

O Governo das Angústias estardalhaça partidarite, ofensas e enxovalhos por todo o lado, agora também atacando padres que lhe contestam a desgovernação ruinosa. E a Igreja remete-se ao silêncio.

Todos querem participar, ninguém gosta de ser fantoche. Bom, devia ser assim...

Há 54 anos, era o próprio bispo D. António a confrontar aquele que os abutres do regime fascista consideravam naturalmente o 'Único Importante' da época. Escreveu sem medos para Salazar ler nas suas catacumbas de São Bento:
"Todos estamos de acordo em que há dois problemas fundamentais sem cuja solução não poderá haver paz social, sejam quais forem as aparências. O primeiro é que os frutos do trabalho comum devem ser divididos com equidade e justiça social entre os membros da comunidade, quer do ponto de vista dos indivíduos quer no dos sectores sociais (e aqui podemos pensar especialmente na lavoura e na miséria do trabalho do campo).
O segundo é que, seja qual for o conforto ou riqueza que se atribuam a um indivíduo ou a uma classe, nunca eles estarão satisfeitos enquanto não experimentarem que são colaboradores efectivos, que têm a sua justa quota parte na condução da vida colectiva, isto é, que são sujeito e não objecto na vida económica, social e política."
Palavras premonitórias, como que adivinhando que um dia, numa ilhota chamada Madeira...

Dizia o bispo do Porto: "Na situação presente, é quase fatal que o operariado veja, como vê, no Estado o aliado do patronato."
Pois não era só naquela "situação presente", mas nesta "situação presente" da Madeira, embora as alianças do governo regional contemplem apenas 'certo patronato'.

Recordemos o que pensava D. António do Porto da filosofia política salazarista assente numa precoce "rigidez da escala de valores": "Uma coisa que era necessária e foi maravilhosa, até politicamente, no princípio da era do resgate, pesou tremendamente na era que V. Ex.ª chamou, se bem me revordo, de engrandecimento. Um financismo à outrance (operando aliás pela compressão dos preços, contra o aumento da circulação fiduciária), invertido num economismo despótico, actuando dentro de uma sociedade cujos erros venho procurando apontar, não podia deixar de resultar, e resultou efectivamente (com excepção do período inicial dos abonos de família) em benefício dos grandes contra os pequenos e finalmente na opressão dos pobres."



Preparando a derrota
Passados que eram 32 anos sobre o Maio de 1926, o bispo D. António atrevia-se a prevenir Salazar de que o "esquema mental" adoptado e seguido era "inteiramente inadequado". Porque 32 anos não deveriam ter passado em vão. "O que está diante de nós é a ameaça imediata de uma erupção anarco-social-comunista; e todo o nosso problema é saber se as forças da civilização, hoje claramente forças do cristianismo, serão capazes de aguentar o embate. Parece-me que tudo está a trabalhar, sobretudo da nossa parte, para preparar a derrota."
D. António confessava na carta que a sua análise era para ele "dolorosa por muitas razões" - "e até por me revelar a mim próprio um desfasamento com o pensar de V. Ex.ª que não tinha ainda apreendido como tão profundo".
Escreveu mesmo: "Insisto em que tudo isto é para mim um problema da Igreja, um problema 'profissional' de bispo. Reconheço sem dúvida que se torna um tremendo problema da Nação; mas só depois de problema da Igreja."
Ele conhecia os problemas 'profissionais' de um bispo. Ele, D. António. O do Porto, não outro D. António qualquer como o que andou a pedir para ser colocado na diocese do Funchal e aí está sem inquietações nem intervenção social, a não ser ajudar o gasto desgovernante a usar, para fazer política do mais reaccionário que há, um título de jornal criado pela Igreja e os adros dessas freguesias.


Igreja partidariamente comprometida
O bispo decidiu enfrentar a fera com o jogo totalmente aberto. Apreciemos esta coragem: "Problema da Igreja é igualmente o corporativismo. A Igreja 'comprometeu-se', não com o Estado corporativo, mas com a ordem corporativa da sociedade. E bem sabemos, entre nós, como do respectico Ministério se quer 'comprometer' a Igreja na sua doutrinação e acção."

O bispo não se absteve de condenar o "açaimo" anti-sincalista que se pôs nas organizações profissionais, porque, para o Estado novo, "benéfico só o Estado ou a Administração". Patrões de um lado, trabalhadores de outro e sempre o Estado pelo meio. Em todas as circunstâncias.
Leia-se D. António - "Temos de ser francos, talvez brutais: o corporativismo português foi realmente um meio de espoliar os operários do direito natural de associação, de que o liberalismo, em (18)91, os privara, e que tinham reconquistado, penosa e sangrentamente."
E a Igreja, sr. bispo D. António, do Porto, que raio de processo anestesiante era esse?
Pois... "É a isto que se chama corporativismo; e com isto se quer comprometer e, na verdade se comprometeu, inútil mas terrivelmente, a Santa Igreja."
E...?
"Isto é, pois, um problema da Igreja..."


À época, Salazar já agitava o espantalho do inimigo do povo, como se tem visto nestes 30 anos de Madeira Nova. Neste caso, os 'cubanos colonialistas' e o comunismo, para não falar no resto do mundo, que o rei das Angústias garante estar conluiado para tramar a Madeira.
Ou eu ou o caos - diz o homem das Angústias.


Pensamento único e não-pensamento
Perante as tomadas de posição de Salazar contra os perigos da liberdade e a favor do regime cuja essência estava nos seus serviços e prestações sociais, D. António criticou que, de facto, essa fosse "toda ou quase toda a ideologia prática da Situação". Para o Estado Novo, o homem não tinha que pensar ou realizar-se politicamente.
"Ora", assumiu na sua carta o prelado, "a Igreja não pode impor esta doutrina a ninguém, decerto nunca a seus filhos, a quem não deseja uma immunutio capitis."
Sem perder contundência, o bispo atacou o esquema político consubstanciado na União Nacional, "aberta a toda a gente, mas sem pensar em desvios ou na degenerescência em partido". Logo, um espaço de pensamento único ou de não-pensamento.

Numa palavra, o bispo do Porto defendia a ideia de que o católico podia e devia ter "dimensão política".


Perguntas ao ditador

Imaginemos qual dos chefes da Igreja das Quatro Fontes, de Francisco ao actual António, diria a Salazar o que disse António Ferreira, do Porto: "Como bispo, sinto a tremenda responsabilidade de amanhã, no meio da eventual catástrofe - não cultivo 'a visão catastrófica dos acontecimentos' mas não posso também aceitar a táctica de avestruz que infelizmente vejo difundida de mais - os católicos não poderão dizer que a culpa foi nossa, por nos termos inibido da formação e acção políticas."
...Considerações logo seguidas de quatro perguntas objectivas ao ditador:

1.º - Tem o Estado qualquer objecção a que a Igreja ensine livremente e por todos os meios, principalmente através das organizações e serviços de Acção Católica e da Imprensa, a sua doutrina social?

2.º - Tem o Estado qualquer objecção a que a Igreja autorize, aconselhe e estimule os católicos a que façam a sua formação cívico-política, de forma a tomarem plena consciência dos problemas da comunidade portuguesa, na concreta conjuntura presente, e estarem aptos a assumir as responsabilidades que lhes podem e devem caber, como cidadãos católicos?

3.º - Tem o Estado qualquer objecção a que os católicos definam, publiquem e propaguem o seu programa, ou programas, politicamente situados, em concreto hic et nunc, o que evidentemente não pode ir sem o despertar de mutações ousadas e substanciais e do seu clima emocional?

4.º - Tem o Estado qualquer objecção a que os católicos, se assim o entenderem e quando o entenderem, iniciem um mínimo de organização e acção políticas a fim de estarem aptos, nas próximas eleições legislativas ou quando julgarem oportuno, a concorrer ao sufrágio, com programa definido e com os candidatos que preferirem?


Convergência Angústias-Quatro Fontes

Evidentemente que D. António actual jamais colocaria questões deste tipo ao chefe regional Jardim.
Pensando bem, nem valeria a pena: chefe Jardim responderia 'não' a todas as perguntas e relegaria o pobre do homem para o reduto dos 'padrecos', como inimigo do povo e da Madeira.
Afinal, a situação é de absoluta convergência entre o poder das Angústias e as Quatro Fontes. Igreja espiritual em silêncio, patrão laranja secular a pôr e a dispor de 250 mil almas. O bispo e sequazes vivem de joelhos perante aquele que deveria curvar-se, já que jura catolicismo, bota comícios partidários nos adros e não falha missa ou procissão onde haja tripés e câmaras de TV.

D. António, o histórico bispo do Porto, tinha outra filosofia: se os católicos não fossem capazes de "aguentar o desfavor e animosidade do Poder" pouco podiam "merecer o respeito e a liberdade". Disse-o ao próprio caudilho do Vimieiro.
E não se ficou por aí: "Apenas sugiro e peço, mas isso com toda a nitidez e firmeza, o respeito, a liberdade e a não-discriminação devidos ao cidadão honesto em qualquer sociedade civil."

Exilado, mas eternamente nos corações
A ousadia do célebre D. António feriu aquele orgulho de ditador idolatrado pelos beneficiários do Estado Novo. Salazar, outro António, exigiu à Igreja represálias contra o corajoso bispo, sob pena de romper unilateralmente a Concordata. Obviamente, como se faz hoje na Madeira, a autoridade eclesiástica marginalizou quem o ditador mandou isolar e incentivou os beatos lambe-botas da Situação a enxovalharem por todas as formas o amigo do povo.
D. António, o do Porto, acabou por sofrer 10 anos de exílio. Teve de partir do país. Mas ainda continua no coração dos portugueses que não pactuam com regimes obscurantistas e anti-democráticos como o de Salazar e o do rei das Angústias.

2 comentários:

jorge figueira disse...

Roma defendeu o seu Bispo. Roma, em África, não deixou cair D. Sebastião Soares Resende a quem o poder colonial chamava: Bispo da Beira... do abismo. Aqui, na proximidade África, a diocese deixa que um candidato a "Chefe Totalitário" insulte o Presbitério. Querem que se limitem a rezar para que os governantes nos governem na Justiça. Não podem, porém, avaliar essa justiça...

Luís Calisto disse...

O Presbitério tem a palavra.
Há que o dizer!