O FMI E O COBRADOR DO FRAQUE
Recentemente, estive em Lisboa e, como era de esperar, encontrei o FMI. Alto, magro e espáduo, com olhar circunspecto, de bigode, cabelo lambido e semi oculto pelo chapéu de copa alta, todo vestido de negro com a casaca a condizer. Era tal e qual como o tinha imaginado, talvez um pouco mais alto e magro mas, no essencial, condizia exactamente com aquilo que eu pensava. Aliás, até julgo que existem muitas semelhanças com um outro personagem famoso, o Cobrador do Fraque. Só que este, à falta de melhor, procura uns pobres para poder receber algum; O FMI, esse anda atrás da alta esfera, para ver como é que a alta finança, aliada com o poder político e mais uns quantos, desbarataram a economia nacional e deram cabo de todo o nosso sistema produtivo. Depois de descobrir tudo, há-de propor um financiamento adequado, com taxas de juro bastante confortáveis, para que os países mais ricos ganhem mais uns cobres à custa destes parvos que andam a dormir há imenso tempo. Assim, dizem os entendidos, esta oportunidade não pode ser desperdiçada, ou seja, batemos no fundo mas tal facto não é um drama, é sim uma oportunidade. Vendo bem, é mesmo uma oportunidade mas é para correr com esta cambada que nos trama todos os dias, com estes partidos políticos, com estes governantes incompetentes, com estes banqueiros especuladores e com todos aqueles lambe botas que fazem a côrte e batem palmas para adular este estado de coisas. E, então, no caso da banca é de pasmar! Quando estão à rasca lá vão em romaria ao Governo, pedir ajuda e, claro está, acabam por conseguir aquilo que querem, ou seja, quem lhes vai pagar a conta somos todos nós. Deviam de ser executados, os seus bens penhorados e entregues à fazenda pública, tal como acontece com todos aqueles que não conseguem cumprir com a banca e ficam sem as suas casas, muitas vezes o único bem que possuem. Quem é que tem coragem para por ordem a este estado de coisas? Já repararam que a ajuda que o FMI, a Comissão Europeia e o BCE (TROIKA) vierem a conceder é para ajudar o sistema financeiro? E ainda não estamos conscientes que por mais impostos que se cobrem ou por mais despesa que se reduza, chegámos a um ponto onde já não é possível cortar mais despesa nem aumentar mais impostos?! Mesmo que a nossa economia cresça, a nossa dívida (e a sua estrutura) é tão grande e desajustada que nunca conseguiremos pagá-la. Deixem-se de medidas traçadas em supostos modelos macroeconómicos, em folhas excel, lá para os lados de S. Bento, porque o Povo está farto e já percebeu que isto não vai a lugar nenhum. Façamos como a Islândia e a Grécia, não pagamos! E, para agravar a situação, os juros da nossa dívida soberana não param de subir e as recomendações e a avaliação daquele trio sinistro são cada vez mais aterradoras. Obviamente, quando o trabalhinho do Sr. FMI (e dos outros dois,) estiver concluído, os juros do empréstimo concedido, até vão parecer uma pechincha! Pois é, vão dizer que nos salvaram a pele e que, por tal facto, até estamos a pagar
pouco. Mas, é graças a este personagem que vamos sobreviver. Só é pena é que daqui por uns anos vamos voltar ao mesmo, dado que está demonstrado que não temos emenda e, como bons portugueses, lá vamos sobrevivendo, umas vezes melhor, outras pior, vamos andando, como se diz por aqui.
- Artigo do Dr. EDUARDO ABREU
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