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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

LUTO



A MADEIRA VIRA HOJE DE PÁGINA



Paulo deixa-nos aos 61 anos, depois de muito tempo retirado da vida activa por causa da doença 



Do ponto de vista da genuidade política, Paulo Martins é quem verdadeiramente encerra o ciclo iniciado na Madeira em Abril de 1974. Basta olhar em volta. Sonhos, democracia participativa, autonomia, coragem e generosa entrega às causas da comunidade: há um grande político português da segunda metade do século XX que nos deixa hoje.



A violência política matracava pelas ruas do Funchal e ele estava lá de peito aberto ao perigo. Os saudosista do fascismo armavam-se de varapau e ele não arredava pé. As bombas da Flama explodiam estrondosamente na Rua do Castanheiro e lá estava ele entrincheirado a defender corajosamente a sede do partido. As perseguições ameaçavam pela noite dentro os activistas de esquerda e ele regressava a casa pelo seu pé, sozinho, pronto para o que desse e viesse.
Paulo Martins, nos seus épicos tempos da UPM, prenunciava-se o intratável aguilhão para cravar na carne da burguesia oportunista e do regime reaccionário então em constituição. Como aconteceria realmente.
Paulo, por entre as provocações ultramontanas de um tempo sem lei e por cima do ribombar das bombas separatistas, vislumbrava um futuro democrático para a sua terra pelo qual se bateria durante uma longa carreira, recusando render-se mesmo perante factos tolerados, incentivados e consumados por uma sociedade sem nervo.
Indiferente ao canto de sereia com que o quiseram calar, Paulo Martins, ainda atordoado pelos acontecimentos de 1974, pegou na sua consciência, nos seus valores e nas suas capacidades políticas partindo sem hesitações para uma guerra que sabia sem quartel, sem fim, sem hipóteses de vitória final.  
Activista indomável ao serviço da mítica União do Povo da Madeira, líder incontestável da UDP e depois do Bloco de Esquerda, Paulo Martins foi um exímio intérprete da dialéctica parlamentar. Que falta fez quando a vida o afastou das lides!
Que saudades!
Mas, se de há muito sofremos as saudades do político, a partir de hoje sofreremos também as saudades do Homem.
É que, quanto a nós, velho Amigo Paulo Martinho Martins, e passem os exageros próprios da nossa juventude derramados em tardes e noites de realizar utopias, valeu a pena insistir em tantas coincidências e divergências.
Há um capítulo da história da Madeira que hoje atinge a sua última página. Há uma quebra no tempo. Paulo Martins é quem verdadeiramente encerra este ciclo da política madeirense que se iniciou atabalhoadamente em Abril de 1974. E não há discussão: Paulo Martins foi a esquerda madeirense.
Os meus sentimentos, Guida. Os meus sentimentos, Joana.


...Um intratável aguilhão cravado na carne da burguesia oportunista e do regime reaccionário.

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