HITCHCOCK ASSOMBROU
MAIORIA ABSOLUTA DO PSD
A noite eleitoral já não tinha sido de grandes euforias. (Foto: Gregório Cunha) |
* Pesadelo dos operacionais social-democratas acabou ontem já 'Fora d'Horas'
* 6.º sentido de Rui Abreu levou à reabertura das contas
* Se se confirmasse a perda de maioria absoluta, Albuquerque cancelaria viagem a Londres (onde já se encontra) para apresentar imediatamente um governo minoritário
Miguel Albuquerque adiou a viagem a Londres que tinha marcada para ontem e chegou mesmo a tomar a decisão de a cancelar. Só que entretanto as contas de São Lourenço conheceram um volte-face e tudo voltou ao normal.
Aconteceu quando o novo líder social-democrata foi informado de que a assembleia de apuramento, em fase de conferência de votos no Palácio de São Lourenço, acabara de retirar um assento parlamentar ao PSD, a favor da CDU. O que equivalia a dizer que o Laranjal perdera a maioria absoluta que os resultados de domingo prenunciavam.
Albuquerque, ao ver-se com um grupo de 23 deputados, minoritário, resolveu desmarcar a deslocação de férias à Inglaterra e avançar imediatamente para a constituição definitiva e anúncio do seu governo. Estavam as coisas neste pé quando...
Dá-se o caso de o PSD contar com um Rui Abreu na frente de batalha - o homem que passou uma vida ao lado de Albuquerque na Câmara do Funchal, preparando o projecto de um novo PSD, para a sucessão de Jardim. Pois esse projecto chegou a ser dado como incompletamente consumado, ontem ao princípio da noite.
Manuseando papéis com números, e perante a afixação da acta com a novidade de que a maioria absoluta laranja se desintegrara, José Prada, Tranquada Gomes e Elmano Gonçalves, que estiveram o dia de ontem em São Lourenço, foram desafiados pelo secretário-geral a fazer mais contas e mais contas - enquanto os representantes da oposição, principalmente da CDU, festejavam e davam entrevistas antes de abandonarem o Palácio, convencidos de que finalmente o PSD da Madeira caíra da maioria absoluta abaixo.
A jornada de escrutínio fora cansativa. O PSD, com o passar das horas, foi ganhando uns votos que os especialistas reconheciam, em segunda análise, como válidos. Pelo que, por aí, dificilmente seria dada razão aos protestos da CDU. Mas, ao fim do dia, os representantes do PSD tremeram quando foi detectado que, numa assembleia de voto da Camacha, haviam sido atribuídos deficientemente mais cerca de 100 votos à lista laranja.
Impasse hitchockiano dentro do Palácio e nos pátios. Até que saiu a acta oficial confirmando a metamorfose do 24.º deputado do PSD no 3.º da CDU.
Um sexto sentido alertou Rui Abreu, obviamente desalentado com as últimas incidências. Ao rabiscar números num papelucho, ensaiando as divisões do método de Hondt à luz dos votos obtidos por todas as candidaturas, suspeitou de que as coisas não batiam certo. Antes, na noite de domingo, dirigentes do PSD viram o secretário-geral preocupado, no meio da euforia da maioria absoluta. Um companheiro respondeu na mesma noite de domingo à sua pergunta: se o PSD perdesse o último deputado (o 24.º), disso beneficiaria a CDU, muito próxima de chegar a um terceiro.
Talvez adviesse desse temor a estranha serenidade em Rui Abreu nos festejos que a TV mostrava, na noite eleitoral.
Ontem, era dia de contas outra vez. O tudo ou nada em matéria de maioria absoluta. Para ver da razão ou não das suas dúvidas, o secretário-geral pediu aos seus acompanhantes que fizessem contas sobre quem deveria ficar com o assento parlamentar em questão. Concluiu-se que a CDU tinha menos votos do que o PSD, executada a competente divisão em Hondt. Ou seja, se o PSD perdesse realmente um deputado, ele não poderia ser para a CDU.
Com mais consultas por via electrónica a conhecedores dos trâmites eleitorais, as dúvidas dissiparam-se totalmente. E foi com incredulidade que o elemento que deu a cara pelas calinadas da CNE em dia atribulado - João Almeida, por coincidência pertencente à CDU nacional - reparou que havia de facto erro nas contas. Assim como o juiz em serviço o reconheceu.
Que acontecera? Os números da acta colocados no dividendo não coincidiam com os votos reais. O gato foi descoberto: quando o computador fez as contas para distribuir os assentos parlamentares, não assumiu os votos do Porto Santo. O que penalizava o PSD.
Assim, introduzidos os resultados daquela ilha, o assento voltava ao Laranjal, dono da candidatura largamente vencedora no Porto Santo.
Nova bomba rebentou em São Lourenço: os escrutinadores tiveram trabalho acrescido, representantes partidários voltaram ao Palácio, e jornalistas prepararam-se para mais directos, a fim de corrigirem intervenções anteriores que excitaram os telejornais nacionais. Segunda acta foi afixada. E os social-democratas respiraram de alívio.
Quem esteve ontem à noite no Fora d'Horas percebeu como Rui Abreu, José Prada e companhia ainda precisavam de um pouco de cor nas faces.
A CDU não se deu por convencida e anunciou recurso ao Tribunal Constitucional, reivindicando a validação de 12 votos dados como nulos. O CDS-PP também já recorreu para o TC, pedindo anulação da segunda acta e revalidação da primeira - que inviabilizava a maioria absoluta. A Plataforma dos Cidadãos recusa os resultados finais. Por sua vez, quadros do PSD também passaram a manhã de hoje na sede do partido a preparar um recurso a levar ao TC, exigindo a validade de perto de 30 votos.
O facto é que, neste momento, prevalece a maioria absoluta do PSD. Miguel Albuquerque não perdeu tempo, arrefeceu nos ímpetos de se apresentar com o governo e neste momento respira os ares frios de Londres.
Se nos permitem uma graçola, digamos que Albuquerque está a fazer jus à promessa que fez domingo à noite a uma apoiante: "Não temos tempo a perder. Amanhã começamos a trabalhar a sério."
GOVERNO ALBUQUERQUE
Como dizemos acima, Miguel Albuquerque estava decidido a mostrar imediatamente o novo governo regional caso se confirmasse o recuo dos 24 para 23 deputados, com a consequente perda da maioria absoluta pelo PSD.
Aliás, o executivo miguelista praticamente nenhumas novidades apresentará relativamente às indicações fornecidas durante a corrida de Delfins. Os nomes voltaram a ser referidos nas últimas horas, a propósito das eleições. Vamos mostrar o que julgamos saber.
MIGUEL ALBUQUERQUE - PRESIDENTE
Pedro Calado - Finanças e Desenvolvimento Económico
Rubina Leal - Assuntos Sociais
Eduardo Jesus - Turismo e Transportes
Humberto Vasconcelos - Agricultura e Pescas
Sérgio Marques - Assuntos Parlamentares
Jorge Carvalho - Educação
Susana Prada - Ambiente
Manuel Brito - Saúde
Rui Abreu - Chefe de Gabinete de Albuquerque
2 comentários:
Muitas escolhas acertadas, outras que tenho sérias reservas.
Susana Prada tem mérito como investigadora e docente mas como será numa posição de chefia? Pelos corredores da UMa fala-se nisso.
E tenho uma ligeira suspeita que Humberto Vasconcelos e Jorge Carvalho não vão conseguir refrear-se de muitos "abusos" e promover uma caça às bruxas nas suas secretarias, o que será mau, em nome da unidade.
O quê,um cubano na secretaria da Saúde?
Fujam fujam que deu a "louca na Farinha Amparo".
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