MINHA DEMOCRACIA, MADURA E VERDE
Contrariando muitas opiniões, entendemos que todas as candidaturas concorrentes às eleições de domingo passado merecem uma palavra não apenas de encorajamento como também de louvor pelo que produziram durante a campanha. Muito a sério.
O nível ético e a serenidade do discurso subiram a olhos vistos, porque o PSD, com nova liderança, rejeitou a truculência do passado, e porque os contendores preferiram a mensagem ao ruído.
Muito agradecemos a todos pouparem-nos os ouvidos à má-criação e à música pimba.
Vimos inclusivamente, em muitos casos, a preocupação com a criatividade, a inovação propagandística, tanto nas acções de rua como em bem elaborados tempos de antena - e é justo reconhecer que aqui o PND leva a palma de ouro.
Não será exagerado conceder que os candidatos maioritariamente mostraram nos debates e nas entrevistas que sabiam o que estavam a fazer ali. Que estão por dentro das realidades regionais.
Victor Freitas fez uma boa campanha. Ninguém lhe criticava os conteúdos, o estilo de comunicação em comícios, a prestação nos debates. O que mais ouvíamos eram referências ao facto de o líder do PS-M ser demasiado novo para presidente do governo. Ele faz 44 anos de amanhã a oito dias e Jardim foi chefe do GR aos 33 ou 34, se bem que noutros tempos, quando o novo regime estava no começo.
O PP de José Manuel Rodrigues também andou bem, mostrou mobilização, embora com uma mensagem sobre maiorias absolutas difícil de explicar (lá iremos).
O PSD deixou cair o folclore antigo e não se deu mal, pelos vistos.
O JPP engatou no registo certo e está de parabéns pelo 'resultadão'.
CDU e Bloco também acertaram, conseguindo objectivos contra a corrente do jogo, como se costuma dizer. Mas merecidamente.
E assim com as outras formações, mesmo as que não atingiram a meta localizada na Rua António José de Almeida.
Democracia com 41 anos, mas verdinha
Mas... lá vem o 'mas' (antes fosse o MAS das meias).
Entre as coisas boas, assistimos a infantilidades e 'brancas' de qualidade impróprias de uma democracia que já leva 41 anos de vida. É a nossa classe política a mostrar-se capaz do melhor e do pior.
Ainda hoje mesmo.
O DN de hoje mostra Teófilo Cunha, que politicamente tomou conta de Santana nas autárquicas e acaba de dar agora duas freguesias ao PP, a dizer-se contra a lista de candidatos do seu partido. Lista de que foi nem mais nem menos do que mandatário!
Se aceitou ser mandatário conhecendo a lista que não lhe agradava, nem sabemos que dizer. Se assumiu o cargo sem a conhecer, então, já que a lista lhe causava tanta impressão, demitia-se quando a viu e que avançasse outro para mandatário.
Ainda por cima, surge com acusações agora na comunicação social, tentando demarcar-se da derrota.
Não parece a mesma pessoa empenhada que encontrámos em São Jorge, em animadíssima campanha eleitoral ao lado de Rui Barreto e Mário Pereira.
Ouvimos também Lino Abreu rebuscar uma pequena 'vitória' nos resultados de domingo, que, a seu ver, inspirarão um grupo parlamentar 'coeso'. Ora, de facto é mais fácil conseguir coesão com 7 deputados do que com os anteriores 9. Imagine-se o sarilho se o PP chegasse aos 15 ou 16! Ora, Amigo Lino!
Já que estamos no PP, não esperávamos do experiente José Manuel Rodrigues o seguinte papel: classificar o PSD-M como caixa de pandora para os próximos tempos da Madeira e na mesma frase oferecer-se para fazer coligação com as serpentes acantonadas na caixa de pandora.
Ainda no pós-eleição: os rostos mais conhecidos do PP rebuscaram o conveniente argumento de o partido continuar como segunda força regional. Um segundo lugar com 14%! Contra 44% do vencedor! Uma diferença de 30 pontos que ainda permite ostentação por parte do segundo classificado! Irra, Zé Manel!
Mesmo que o primeiro não obtivesse maioria absoluta, estamos perante uma décalage escandalosa. É fingir que há futebol para discutir.
Um naco de discurso do PS coligado que nos chamou a atenção durante a campanha foi o agitar da Mudança municipal funchalense como exemplo para governar a Madeira. Com o historial daquilo. Quando metade da Mudança já lá não está! Certamente que foi uma excelente ajuda para o 'bom resultado' da coligação. Victor!
Mas também temos de salientar o discurso do PTP: a sua campanha foi aplaudir nos comícios e entre os comícios prometer guerra futura ao partido principal da candidatura, o PS, com quem o mesmo PTP estava aliado.
Já agora, com líder demissionário, o PS-M esboça as primeiras contas sobre a sucessão. A comunicação social apresentou um nome como candidato natural, Carlos Pereira. Logo algumas vozes se levantaram, uma delas, muito democraticamente, ameaçou deixar o partido em caso de escolha de Pereira. Mais verdura democrática.
Julgamos que o PS-M há-de recompor-se. Ao contrário do que já ouvimos, Victor trancou-se no cockpit e levou muito 'maralhal' consigo, é verdade. Mas outros jogaram pelo seguro. Pelo costa, aliás. Fingiram embarcar e deixaram-se ficar na sala vip do aeroporto, para ouvir o estrondo ao longe, algures no Pico Ruivo, que é Santana.
O PAN e o MPT estavam cada qual com um deputado na ALM. Julgaram que, juntando-se ao PS, tinham a continuidade garantida, se não melhorada. Que visão política. Que faro! Então, até daqui a 4 anos, meus senhores.
O Bloco considerou que meter 2 deputados na ALM é feito histórico. Lembramo-nos de a UDP ter conseguido 3, nos bons velhos tempos. Ah, era outro partido?
Acabamos de ler Sérgio Marques no JM desafiando Miguel Albuquerque a constituir "o governo mais competente da história da Autonomia". Declaração oca, fútil, que não cai nada bem em Sérgio. Como pode alguém julgar a competência de um governo 'a priori'? Pelos nomes?
Estamos a ouvir alguns Leitores a ironizar: homem, não é nada difícil fazer um governo melhor do que os do presidente cessante. Seja. Mas se qualquer governo será melhor do que os anteriores, para que precisa Sérgio de chover no molhado? Só para mostrar serviço ao novo chefe? O antigo eurodeputado é muito mais do que estas coisas menores.
Podemos dizer que nos últimos tempos o PSD foi campeão regional das trapalhadas, e já durante a campanha interna - referimo-nos ao PSD de Albuquerque. Pois ainda assim o povo mostrou o que é um povo rodeado de mar por todos os lados, conservador. Com algumas incursões no mar, mas com terra à vista.
Miguel ganhou domingo, apesar das calinadas. Ele, quando queria contrariar Jardim, dizia-se disponível para participar em todos os debates que aparecessem. Assim que apareceu um debate digno desse nome, a três litigantes, arranjou argumentos esfarrapados para não se expor. Deixando Victor e Rodrigues mano-a-mano. O que lhe vale é este tal povo.
Albuquerque também diz todos os dias que vai privatizar o JM. Mas nunca explica como apagará o passivo nem anuncia um privado que queira ficar com o jornal. Ah, pois, ainda não começou a governar. Então aguardemos. Ele disse que ia resolver esse berbicacho rapidamente.
Deixemos fora disto as declarações do líder PSD acerca da Função Pública.
Lembremos apenas que ele disse domingo à noite, ao festejar a vitória, que o trabalho a sério começaria logo no dia seguinte. Passou a segunda-feira a dar entrevistas e encontra-se em Londres, de férias.
Não terminamos sem uma referência ou outra ao homem que planeou todo este processo: aquele que sai agora de chefe do governo.
É o que ele diz, que planeou tudo assim, para que a sucessão corresse bem.
O povo democrata leva a sério.
Só que ele espetou as garras na Quinta das Angústias para que não o arrancassem de lá. Portanto, ele não podia planear a solução contra a qual lutou até aos últimos instantes. Quem foi o adversário de Miguel Albuquerque mais abespinhado e incansável em plena campanha eleitoral senão o ainda sua excelência?
Democracia risível. O homem já está fora de cena e ainda viaja ao estrangeiro por nossa conta, faz férias à borla nas casas que o governo tem no areal porto-santense e convence a comunicação social a segui-lo em 'visitas oficiais' lá pelos Dragoais e Campos de Cima, para ele debitar as últimas patacoadas na televisão!
Para rematar estas infantilidades e estes amadorismos, lembremos que mais de metade dos eleitores da democracia faltaram ao dever democrático. Ou estão ainda verdinhos ou caem de maduros da árvore da democracia abaixo.
E ainda o exemplo da CNE. A maioria absoluta que não é e depois torna a ser, e ainda está para se saber o que decidirá o TC! Vale sequer a pena falar dessa calamidade?
Democracia amiga, cresce e aparece.
PS - Com tantos derrotados nas eleições e só três cabeças rolaram, até hoje: a de Victor Freitas e as duas do 'boca pequena'.
4 comentários:
Parece-me que o 300 estava a aconselhar MA a não o incluir no governo. Pois se é para ser competente...
Sergio Marques no governo será ridiculo
Que feio falar do sr. Teófilo Cunha dessa maneira. Pessoa que pode falar é ele. A única pessoa no PP que sabe o que é ganhar. Sim o mandatário absteve-se na lista e manifestou isso em comissão política e conselho ou seja nos locais próprios! Qual o problema?
"O Bloco considerou que meter 2 deputados na ALM é feito histórico. Lembramo-nos de a UDP ter conseguido 3, nos bons velhos tempos. Ah, era outro partido?"
Meu caro, era outro partido, eram outras lutas, eram outros interesses, eram outras pessoas, enfim, eram outros tempos...
Fernando
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