'EM ENTREVISTA' NA RTP-M

CARLOS PEREIRA JÁ FALOU

COMO 'CHALLENGER' DE ALBUQUERQUE

Mais do que se assumir como futuro e incontestável presidente do PS-M, desenlace reconhecidamente inevitável, Carlos Pereira mostrou esta noite na RTP que será o adversário mais complicado que alguma vez surgiu diante do PSD. Pelas circunstâncias e por ele próprio. Com um contrapeso que não deve ser desconsiderado: o ainda líder parlamentar socialista percebeu que as coisas mudaram no lado da maioria; aceita que deve proceder a uma radical adaptação de postura no combate político; e está perto de encontrar a chave para essa adaptação, para lidar com a onda Miguel Albuquerque.

Carlos Pereira brilhou no 'Em Entrevista' conduzido por Virgílio Nóbrega tanto pela sua leitura dos fenómenos financeiros que levaram a Madeira a cair no conhecido buraco, como nas propostas apresentadas para solucionar o problema. Muitas dessas posições estão viradas em cima da mesa desde há muito tempo, já que Carlos Pereira nunca deixou de ser interventivo nas questões que domina 'de olhos fechados', as financeiras - fazendo observações à governação de Jardim e propondo caminhos sempre que se lhe ofereceu ocasião.

Hoje, a propósito do lançamento do seu livro 'A Herança', o ainda pré-candidato à presidência do PS escalpelizou as questões mais delicadas da situação regional, mostrando abertura para discutir com o governo regional soluções que salvem a Madeira do colapso.

Para Carlos Pereira, a nosso ver, o maior desafio coloca-se no plano político-partidário. Não temos a menor dúvida de que está ali o senhor que se segue a Victor Freitas. Mas há sempre um dificílimo 'depois' no caminho dos líderes do PS-Madeira. Sempre foi assim, quem não se lembra? Ao longo de décadas, os líderes foram eleitos  praticamente sem oposição. Mas raramente seguraram o partido, de verdade, mais do que um ano, vergados às pressões e dissidências domésticas que 'ajudavam' aos maus resultados eleitorais.

Carlos Pereira diz que apresentará na semana que vem a moção para debater em congresso. Insiste em pôr a trabalhar pelo partido militantes e simpatizantes, sem destrinça. Quer uma organização interna diferente. E, obviamente, conseguir para o partido o impacto junto dos eleitores que pretende seja muitíssimo acima do tradicional.

Qualidades para disputar ombro a ombro as próximas eleições regionais não lhe faltam. Em Outubro há 'treino' preliminar. Nas autárquicas de 2017 já se terá uma ideia formada. Antes desses voos de altitude, curiosamente, aqui mesmo ao virar da primeira esquina, há trabalho decisivo a fazer. Julgamos que, se não começar a caminhada ao leme de um partido liberto de vícios antigos, mas completamente liberto, acabaremos por assistir a um filme repetido.

Para não falar da restante oposição, aguerrida e experiente, ainda por cima 'reforçada' com os novos movimentos de cidadãos que depois se tornam em partidos.

Somos de opinião que Carlos Pereira tem garra para fazer a necessária 'limpeza' partidária, passe a dureza da expressão. Em excelente forma e com boa imagem esta noite na TV - e quem o conhece bem sabe ser esta a sua imagem natural -, Carlos Pereira não parece disposto a pegar no PS para brincar às lideranças. Mais do que líder consumado do partido, quis deixar a ideia de 'challenger' de Albuquerque, à espera do encontro em ringue. Mas sem agressões antes do tempo, antes jogando para ter o público do seu lado.