Powered By Blogger

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Opinião


Uma atitude louvável 
que merece correspondência


Ricardo Meneses Freitas


Há gestos e atitudes que definem as pessoas. Confesso-me surpreendido com a magnitude do gesto perante o crispado panorama político regional. Falo da Sr.ª Secretária do Ambiente e da ARM, que de uma assentada, dá uma bofetada de luva branca num dossier cuja politiquice há muito me irritava.
A Sr.ª Secretária, logo no princípio do mandato, anunciou a “tolerância zero” para a poluição no mar. Confesso que quando vi este anúncio, encarei-o com o ceticismo natural de quem tem uma noção da gigantesca tarefa a que Sr.ª Secretária se proponha e receei que pudéssemos estar perante mais uma caça à multa, onde invariavelmente se lixa o mexilhão e não o peixe graúdo.
Vim a saber recentemente que a nova ETAR, que está a ser construída em Câmara de Lobos, afinal também vai servir uma parte do Funchal. Sim, caro leitor! Um Governo laranja, está a efetivamente a ajudar uma Câmara rosa, cuja liderança abala os alicerces do próprio líder do Governo Regional. Não só isso, a Sr.ª Secretária, de uma assentada desfaz uma briga começada pelo atual presidente do Governo Regional, quando era chefe da autarquia funchalense, pondo os interesses de toda uma Região à frente de interesses partidários.
Para que se perceba, esta atitude vai permitir à nova ETAR do Funchal dispensar o oneroso tratamento secundário que seria obrigatório perante o enquadramento legislativo atual e perante a população abrangida pela mesma. Essa despesa iria recair totalmente sobre o Funchal, porque como é sabido, recusou aderir ao projeto da ARM e assim tem de assumir os custos do tratamento das águas residuais.
Talvez o Sr. Presidente do Funchal se sinta sensibilizado e reaja de acordo, enterrando o machado de guerra e permitindo que a ARM possa abranger a principal autarquia madeirense, fazendo justiça aos cânones técnicos que claramente indicam que uma Região com as características da Madeira precisa de uma solução que agregue sinergias e diminua a sobreposição de custos, ou seja a ARM. Se não por isto, que seja pelo comprometimento da Sr.ª Secretária em pagar a nova ETAR ao Funchal, mais uma atitude digna de um governante que assume os seus propósitos.
O histórico belicista (em relação ao Governo Regional) do atual autarca Funchalense não me deixa grande esperança…. Acho sinceramente que a atitude da Sr.ª Secretária foi a exceção à regra e como tal, não terá correspondência, principalmente num ano de eleições autárquicas. O mesmo cenário de eleições também pode ditar a mudança de executivo no Funchal (sinceramente não acredito que isto aconteça), pelo que fica também aberta a sugestão aos outros candidatos ao executivo da Capital Madeirense.
Se não encontrarem na atitude da Secretária a inspiração necessária para fazer o que é correto, lanço aqui um argumento de peso que poderá ter mais efeito. As águas que chegam ao Funchal, são maioritariamente oriundas de outros concelhos, e esses concelhos não são compensados pelo uso dos seus recursos. No mesmo diapasão, a maioria dos investimentos na distribuição de água, numa perspetiva histórica, foram feitos para beneficiar o Funchal, pelo que há uma dívida histórica da autarquia para com os outros concelhos, dívida essa que nunca fui assumida ou cumprida. Assim, se for apresentado o argumento que a gestão deste recurso dá lucro no Funchal, pode ser facilmente rebatido com a ausência das compensações devidas aos outros concelhos. A ARM e os concelhos abastecedores do Funchal, tem toda a legitimidade para taxar muito mais em alta a disponibilização de água ao Funchal e têm toda a legitimidade para exigir justiça nos investimentos em infraestruturas maioritariamente, numa perspetiva histórica, para servir o Funchal. Se isto for feito, o Funchal rapidamente se apercebe que vai ficar a perder, e muito! A Madeira, como um todo, não pode continuar a ser solidária com o Funchal quando o Funchal toma posições egoístas, olhando exclusivamente para a folha de balanços de pagamento que lhe é, artificialmente favorável.

P.S. Antes que venham os habituais caciques me acusar de bajulação, informo-vos que terminei a minha ligação ao Partido Social Democrata e que não ando a defender partido ou tachos. Trabalho atualmente numa empresa privada sem qualquer ligação política, e estou muito bem assim. Um bem-haja a um comentador anónimo que me desejou a emigração, espero que esta notícia o irrite muito.

14 comentários:

Eu, O Santo disse...

Eu vejo as águas negras nas ribeiras do Funchal desde o início do mandato da referida senhora.... que depois vão para o mar.
O individuo que devia fiscalizar a aplicação das leis ambientais nem sequer se dignou de se informar se as referidas obras estavam legais. Para a senhora secretária isso não é falta de zelo, nem há nada de errado com essa situação.
Será que esse individuo tentou se informar sobre a arrumação que a DRESC fez na Ribeira de S. João é ou não legal?

De acordo com o Plano de Gestão de Bacia Hidrográfica da RAM cerca de 50% das águas superficiais da RAM estão em pelo menos bom estado químico e ecológico. No entanto, não as identifica.. vá-lá saber porquê.
Mais ainda, é público que grande parte das habitações regionais não têm ligação de águas residuais à rede pública para não terem que comprar bombas e gastar energia elétrica. Essas habitações têm fossas sépticas e depois descarregam as águas no meio natural.
Se calhar lá no curso do eng. Menezes dizem que as fossas sépticas não deterioram as águas...

Isto chega ao cúmulo de existirem ligações de esgoto a levadas... e os Planos aprovados por estes aranjas concluem que está quase tudo bem!


Na página 132 na parte 2 do referido Plano, está descrito que a classificação das seguintes águas balneares:
Gorgulho má; lido- excelente; clube naval do funchal- boa; ponta gorda - excelente; doca do cavacas -má; formosa - excelente.
Eu pessoalmente desconfio que a massa de agua da doca do cavacas seja muito diferente da da praia formosa e da da ponta gorda e que não existam deslocações de contaminantes...
Se calhar o eng. Menezes tem outra opinião... a senhora secretária quase de certeza tem opinião diferente da minha.

Senhor Calisto, o esquema é sempre o mesmo: começa o mandato laranja e aparecem uns laranjas a criticar os laranjas eleitos, e quando chega a altura de eleições, esses criticos, que roubaram tempo de antena a verdadeiros oposicionistas, começam a elogiar os mesmos laranjas que eles denegriram... tentando fazer crer implicitamente que é fado madeirense ser mandado por laranjas, uma vez que não há oposição.

Raghnar disse...

Atitude louvável sem dúvida, que deveria ser a norma e não a excepção. E mais uma evidência da obsolescência da nossa organização autárquica, do século XIX em que se andava a cavalo, quando estamos no século XXI e existem automóveis e Internet.

A fusão de autarquias que constava no programa da troika e esquecida convenientemente pelo poder político também seria uma forma de diminuir o número de "capelinhas", permitindo uma gestão mais eficiente e estratégias mais abrangentes. A Madeira não necessita de mais de 4 ou 5 autarquias...

Anónimo disse...

...a maioria de turistas chega à Madeira via aérea e derrama dinheiro pelos diversos Concelhos principalmente o do Funchal onde se concentra a maioria das unidades hoteleiras ... então Concelho de S. Cruz deveria ser compensado pelos restantes !!! Conclusão: se o Snr. Meneses quer o lugar de Administrador da ARM ... ou outro equivalente sob tutela da Secretária Susana Prada, vá directo ao assunto e não de uma forma enviasada ! Já agora: e se no futuro a tutela da CMF aderir à ARM ?!

Anónimo disse...

Depois da incompetência de taxar a Natureza, mais um grande tiro nos pés desta secretaria e deste governo, vem agora tentar limpar a imagem da incompetência?
Primeiro dizem que as taxas servem para assegurar a limpeza e manutenção da floresta. Depois de muitas reclamações pelo MAU ESTADO das florestas, dizem que são taxas administrativas. Afinal, onde está a preocupação com o meio ambiente? Ah, e ainda chegam a incluir terrenos privados na sua ânsia de incompetência. Então e se eu quiser passear, fotografar ou comer no que é meu ali pós lados dos Canhas? Tenho de pagar?
E os coletes à prova de bala para os Guardas? Estão a pensar tirar os senhores das tascas manda-los para a Síria?

UMA VERGONHA ESTE GOVERNO!!!!

Ricardo Meneses Freitas disse...

Caro Raghnar, 100% de acordo em relação às autarquias.

Caro Santo, não sei se tem qualidade técnica para por em causa um curso pré-bolonha do Instituto Superior Técnico, nem fundamento algum apresenta. E se o quiser fazer, fale com o Prof. Delgado Domingos, um dos mais conceituados engenheiros portugueses de sempre, muito próximo do Mariano Gago, que foi ele que estruturou o curso. Sobre as suas tácticas alucinadas, onde cabe aí eu ter-me desvinculado do PSD? Faz-lhe confusão pessoas que têm opinião sem estarem contra ou favor, de raiz, com dirigentes ou partidos? Você sabe a minha opinião sobre o estado das redes de saneamento na Madeira? não sabe de certeza absoluta!! E dou a minha opinião quando quero e a quem quero, embora já tenha publicado coisas sobre isso noutros tempos.

Caro anónimo, não estou interessado obrigado, como disse estou muito bem onde estou e a trabalhar para quem estou. Não quero, por isso nem me convidem para cargos políticos, já tive a minha dose e já percebi que não é para mim.

Obrigado a todos pelos comentários e um bom carnaval!

Anónimo disse...

Atitude louvável não, acho que é um dever do GR e urgente.
Agora essa senhora tem muito que aprender e o trabalho dos Sec. do governo é trabalhar em prol da região mesmo que seja mal e porcamente é ou não é?

Eu, O Santo disse...

O Professor Delgado Domingos (sénior) já morreu há uns anos.
https://www.publico.pt/2014/07/06/ecosfera/noticia/morreu-delgado-domingos-a-voz-da-ciencia-contra-o-nuclear-1661861
E esta é a minha opinião sobre si: diz coisas sem verificar.
Exemplo. A sua opinião sobre os incêndios aqui publicada. Boa parte de sua opinião foi refutada na conferência da Ordem dos Engenheiros pelo especialista da matéria. Se desejar eu arranjo um resumo dessa conferência.

Anónimo disse...

Meneses,

Numa coisa o Santo, apesar de ser chato como uma carraça, tem razão: você dá uma no cravo, outra na ferradura.
Essa mea culpa você tem que assumir.

Ricardo Meneses Freitas disse...

Este é a última resposta:

Caro Santo, a sua ignorância e prepotência por vezes fazem-no fazer acusações graves. Não lhe admito que ponha em causa a minha formação. Cá vai a prova do que disse sobre o Delgado Domingos, veja a parte de Engenharia do Ambiente:

http://jddomingos.tecnico.ulisboa.pt/CV/CV_JJDD_Resumo.pdf

Nomeadamente a parte que diz: "Foi um dos fundadores da Licenciatura em Engenharia do Ambiente do Instituto Superior Técnico e seu coordenador"

Sobre a minha opinião sobre os incêndios não sei a que se refere, eu teci uma reflexão com vários aspectos e se há opiniões diferentes, são sempre bem vindas numa discussão técnica sã, que com certeza não é condicente com a forma como se comporta nestes comentários. E para si, nem mais uma palavra e por favor pare de me caluniar sem sentido.

Aceita a crítica do último anónimo, é a sua prerrogativa me achar chato e eu teço as minhas opiniões consoante o que vejo e o meu raciocínio, se considera isso uma no cravo e outra na ferradura, é a sua prerrogativa novamente, não me identifico.

Anónimo disse...

A malta de civil tem uma piada que diz o seguinte:
Engenheiro do ambiente = indivíduo que não entrou em engenharia civil.

Luís Calisto disse...

Comentador das 10.04
Essa é forte!

Anónimo disse...

Dizem os gajos que betonaram e continuam a betonar a Madeira (Eng. Civis)... Para eles, arquitectos, Eng. do Território, Eng. Florestais, Geólogos, Eng. do Ambiente, Eng. Químicos são todos menores, o que conta são as tabelas de betão armado e saber meter meia dúzia de dados num programa para calcular estruturas.

Anónimo disse...

O que conta é saber fazer cálculos, sem programas. O betonar ou não é opção.
Não há dúvida que os civis ainda provocam azia em alguns.

Via Pública disse...

Os Eng. Civis não devem ser colocados numa panelinha generalizadora.

Há de facto deles que se agacham a honorários de projecto chorudos, sobre obras de utilidade questionável, para seguidamente se esconderem em justificações nebulosas de tabelas de cáculo, opções técnicas e equações matemáticas complexas, enquanto enchem os bolsos deles e de 2 ou 3 empreiteiros.

Esses podem ser bons a matemática e em questões técnicas do âmbito profissional deles. Mas pecam muito por falta de ética, porque naquela prática, tentam atropelar outros especialistas e profissionais, para poderem ficar com todas as decisões (e lucros) do seu lado.

Violando os princípios profissionais que prometeram cumprir, de zelo pelo bem comum.

Às vezes, nem sequer deveria ter sido lançada a ordem para a elaboração de certos projectos de Civil, porque essa decisão deveria estar nas mãos de outro tipo de técnico e iria ser posta de parte...

Depois há os engenheiros civis, bons, tecnicamente e eticamente responsáveis. Que sabem o seu lugar no meio e se remetem simplesmente ao que devem elaborar. Esses têm tido alguma dificuldade em vingar na Região e por isso pouco se ouve falar deles, pelo que por vezes se julga que não existem, mas andam por aí!