DR. RICARDO PREOCUPADO
COM AS LUZINHAS DE NATAL
O deputado PP está tão apreensivo com as lâmpadas da Festa como com antigos casos ligados ao Savoy e ao Hotel CS Madeira, nos tempos em que era vereador no Funchal
Dr. Ricardo Vieira, agarre-se aos calhamaços de Direito, defenda o povo no Parlamento e deixe-se dos carunchos de electricista
O actual deputado e antigo líder do CDS-PP Ricardo Vieira puxou ontem pela língua do presidente do governo regional ao meter no baralho da discussão parlamentar sobre o Turismo a adjudicação das iluminações de Natal. Miguel Albuquerque chegou a parecer que esperava mesmo um pretexto desses para cair em cima de um esquema desde há muito montado no plano de negócios em apreço: 'Acabaram as brincadeiras e as jogadas de alguns empresários', disse Albuquerque, mais palavra menos palavra, referindo-se obviamente à Luzosfera que Ricardo Vieira 'aparentava' defender.
O programa de iluminações, como se sabe, foi adjudicado àquela empresa, a Luzosfera, sucedânea da famigerada Siram. Mas eis que o o governo mandou o contrato para o caixote do lixo e fez um ajuste directo com outro candidato, a Luxstar, pondo fim às irregularidades processuais detectadas nos procedimentos da primeira empresa.
Ontem, na estreia regional dos debates mensais dentro do Parlamento, Miguel Albuquerque, assim que 'picado', meteu a bala na câmara, assentou a coronha ao ombro, tirou a folga do gatilho, suspendeu a respiração e zás! 'Nestes anos, houve um conjunto de jogadas nos processos porque os empresários achavam que podiam manipular o governo", disparou o presidente sem dó nem piedade, como aliás se impunha.
Enquanto soprava o fumo do tapa-chamas, o chefe do governo foi avisando: "O que vai acabar são estas brincadeiras, porque as empresas andam a brincar connosco."
Especificando: a Luzosfera titubeou nos preços que apresentou nas propostas, não cumpriu prazos, não apresentou caução, enfim, "andou a brincar com o governo".
Portanto, rua com essa empresa, que as lâmpadas natalícias vão iluminar na mesma e dentro dos parâmetros tradicionais - prometeu Miguel Albuquerque.
Onde é que o Dr. Ricardo Vieira entra nisto? Entra porque, segundo as chamadas de atenção que entopem o 'Fénix' nas últimas horas, o deputado se aliou há tempos a um gabinete de advogados que, pelos sólidos vínculos à nomenclatura laranja anterior, beneficiava de trabalho 'a dar com um pau' oferecido pelas empresas do velho regime e afins. E esse gabinete teria ligações à Luzosfera.
Assim, segundo acusações que não param desde ontem, o Dr. Ricardo não está preocupado com os interesses do povo que devia defender na Assembleia, mas com os do escritório que lhe interessa.
Podem alguns considerar que estas inferências são injustas e especulativas. Mas os espíritos do mal estão aí para atormentar com situações antigas em que o ilustre causídico foi atacado por, na qualidade de vereador da Câmara do Funchal, ter também 'puxado a brasa à sardinha' de clientes seus.
Em 2007, foi o caso da construção de uns anexos do CS Hotel em cima do passeio da Estrada Monumental. Ricardo Vieira, como advogado da empresa em causa, prometeu ficar calado, enquanto vereador, no debate municipal sobre ilegalidades no empreendimento em causa. Mas foram aos montes os apelos ao doutor no sentido de que suspendesse o mandato enquanto a situação estivesse por resolver. Não. Mantinha-se o conflito de interesses. O vereador insistiu em ficar por dentro do assunto. As suspeitas adensaram-se.
Noutra ocasião, em Março de 2009, seguiu para o Conselho Superior da Ordem dos Advogados uma exposição sobre o chamado 'caso Savoy', enviado pelo Conselho de Deontologia da Ordem dos Advogados.
Tratava-se outra vez de um conflito de interesses. Ricardo Vieira continuava na vereação funchalense e ao mesmo tempo era mandatário da sociedade Siet-Savoy, na elaboração do contrato de urbanização da Siet com a própria Câmara da capital. O vereador dos populares participou nas votações municipais, que aliás aprovaram o contrato sem votos contra.
O Conselho Superior da OA ilibou Ricardo Vieira de suspeitas, mas recomendou que o ideal seria o advogado não se confundir com o vereador. Ou seja, Ricardo Vieira devia fugir à responsabilidade de mandatário de empresas em situações jurídicas que metessem a Câmara.
Como as situações se vão sucedendo, seria interessante que o Dr. Ricardo percebesse que as luzes de Natal não vão brilhar mais ou menos em função de expedientes duvidosos, no caso parlamentares, condenados ao fracasso. Nada será acrescentado aos presentes no sapatinho, porque a nomenclatura mudou e precisa desesperadamente de tratar das aparências, porque os primeiros tempos não têm sido famosos.
Há sempre, Dr. Ricardo, uma imagem que fica, sem necessidade.