Lusa Política

O FEITIÇO VOLTOU-SE

CONTRA O FEITICEIRO

Os tipos andam a brincar com o Pagode, mas desta vez o Pagode também se ri com vontade... e por último

Não é favor nenhum reconhecer aos cabecilhas políticos da actualidade o mérito pelos momentos de irresistível e delirante hilaridade jamais oferecidos aos 10 milhões de patrícios desde o advento dos governos constitucionais. 

Fartamo-nos de dizer mal desta gente, mas, mea culpa, honra seja feita ao fabuloso elenco preenchido por Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas e António Costa, pelas cenas que nos apresentam de há uns tempos a esta parte. Episódios apimentados por Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, que desempenham com mestria o seu papel de embaralhar ainda mais os protagonistas principais e o fio condutor do enredo, de modo a que os ininterruptos programas postos diariamente diante dos Portugueses sejam apresentados com todos os matadores.

O povo pode andar ao frio e à fome, como anda. Mas não se pode queixar de falta de episódios de se desmanchar a rir a cada passo desta comédia em 3 actos.

Toda a gente tem acompanhado as peripécias do filme sobre costumes político-partidários em Portugal, digno de um Woody Allen. Vamos só relevar o que se está a passar no dia de hoje. Perante os avanços e recuos, ataques e contra-ataques, piadas e réplicas picantes do processo supostamente destinado a formar governo, eis que o Presidente da República veio há poucas horas a lume publicando um comunicado a dizer que... há-de comunicar com a Nação. Genial. É isso, não está tudo inventado no género da comédia. 

O homem divulga um comunicado para anunciar que irá fazer uma comunicação. Nestes termos: andam por aí a dizer que o PR fazer isto e fazer aquilo, pois o PR garante mais uma vez que aquilo que decidir fazer será comunicado aos eleitores.

Para já, decidiu esgalhar um comunicado para dizer aquilo. 

Reconheçamos que este rasgo de humor, atendendo ao actual momento de desgoverno - literalmente - supera com muita margem aquele arranque do mesmo Presidente, quando alguns ainda acreditavam nas suas capacidades cerebrais, de pôr o Portugal inteiro de olhos na televisão, às 8 da noite, à espera de uma proclamação que muitos julgaram ser uma declaração de guerra a Espanha. Ou a Marrocos. Afinal, era um puxão de orelhas aos meninos do parlamento açoriano, que andavam lá pelo anticiclone a dizer que o chefe do Estado não mandava nada.

As últimas eleições foram dia 4 e não há governo. Ainda bem que só ontem se soube do voto dos emigrantes, para disfarçar um pouco a desorientação daquele grande Júlio de Matos em que se transformou Lisboa. Sempre deu mais uns dias de margem ao impasse da indecisão hesitante. 

Cá para nós, o malandro do Passos Coelho e o Paulinho das Feiras, perdidos por perdidos, já que têm uma maioria que não vale puto, entraram numa onda de gozar com o assunto. António Costa, que nunca gostou do pessoal da direita, ainda mais goza, engonhando o trabalho de casa da coligação. Esta manhã, andava o chefe súcia a dizer em Bruxelas: Não fecho portas, porque a hora é de abrir portas e não de fechar portas; para darmos passos é preciso derrubar o muro da incomunicabilidade e estender pontes.

Atenção que com isso de portas, muros e pontes, Costa não fala de empreitada nenhuma. Ele está é a fazer pouco do Portas, do Passos e do homem das pontes Belém-Parlamento.  

Catarina e Jerónimo, perdidos de riso, vão regando a fogueira do vazio de poder com gasolina da melhor. 

Os canais nacionais, sobretudo os dedicados à Informação, estão endiabrados. Em casa, o povo engana a fome, vendo aquilo tudo, esmorecido a rir com a sequência da novela humorística. 

Quem ri por último ri melhor. O povo finalmente vinga-se de ter sido gozado tantos anos pela classe política. Agora criou este mapa parlamentar empata-f... para fazer a vida negra aos politicões. Foi só seguir os sinais das sondagens, que apontavam para este beco sem saída. Cruzinha no lugar habitual e buraco com eles. Que não têm saída senão rir também.

Nobre povo! Nação valente! É assim mesmo!

Mas... bolas, não nos sai da ideia o Cavaco e a genial anedota de hoje: divulgar comunicado para anunciar comunicação. Sem dizer quando, ainda por cima.

Desta vez, parabéns, políticos, e obrigadinho.

Mas o Leitor que ria em directo: