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terça-feira, 6 de outubro de 2015

TELEVISÃO


LUÍS MIGUEL FRANÇA
VENCIDO PELA MEDIOCRIDADE




O melhor pivot da Madeira de todos os tempos morreu de ontem para hoje



Basília Pita foi apresentadora do Telejornal de ontem, segunda-feira. O arranque da edição do noticiário tremeu um pouco - os títulos de abertura desenquadrados, a peça que não arrancava no momento exacto. Coisas da informação em directo que temos de compreender, quando consequência de imponderáveis e não de incompetência. E se podemos ficar descansados com o Centro Regional é com a competência do Departamento de Operações.


Víamos esse telejornal de ontem a recordar os tempos em que Basília Pita intercalava com Luís Miguel França, e ainda com Luís Filipe Jardim, Virgílio Nóbrega, Tânia Spínola e outros jornalistas-apresentadores, a responsabilidade de dar a cara pelo espaço desde sempre mais visto da RTP-Madeira. Tempos em que Luís Miguel, além de chefe da Informação, fazia história na televisão da Madeira marcando à frente das câmaras das notícias uma época inesquecível para muitos madeirenses.
A certa altura, Luís Miguel quis ganhar experiência fora da actividade rádio-televisiva, que ele indubitavelmente adorava. E foi eleito deputado pelo PS para São Bento.
Entretanto, a RTP-M fora alvo do assalto que toda a gente viu e continua à vista. Na Levada do Cavalo, o mercantilismo, o tráfico de influências e a negociata a mandarem no jornalismo e na produção televisiva. 
Luís Miguel França, sujeito à evolução natural da vida política, regressava ao seu habitat, a televisão. Novo passo que devia ser normal em democracia.
Mas qual! Agora o jornalista estava conotado com um partido (no caso o PS). Então, tinha de ser emprateleirado. De preferência nos subterrâneos do -3 da Levada do Cavalo. Precisava de fazer alguma coisa, de trabalhar? Então, vá de fazer uma reportagem sobre o torneio de matraquilhos da junta das Achadas. 
Luís Miguel tinha sido Chefe de Departamento de Informação. Mas agora os submarinos introduzidos pelos Sousas em áreas onde nada pescavam, com a complacência dos nabos do CA-Lisboa, entendiam que o grande profissional que tantas provas dera, incluindo a apresentação do 'Telejornal da Televisão da Madeira", não podia ser aproveitado a não ser quando havia torneio de matraquilhos! Ora, o Luís Miguel era vedeta também a dar relatos de futebol ao vivo, de campeonato, em provas nacionais e internacionais!
Não estou aqui a revelar horas e horas e horas e horas e horas de conversas que mantivemos ao longo deste tempo, o Luís Miguel e eu. Ele falava de jornalismo como tema da sua paixão, sem pessoalizar nem especificar situações, mesmo as que lhe doíam.
Quantas vezes lhe sugeri que se desprendesse do jornalismo e, mais pragmaticamente, aprendesse as filhadaputices da comunicação social! Ainda ia a tempo.
É que... os medíocres da comunicação social mandam no jornalismo. Já perceberam? Sempre o dinheiro.
Mas o Luís Miguel, embora ciente do que se passava à sua volta, era um idealista. A ponto de trocar um emprego onde ganhava muito bem (sem ter mais que fazer senão o relato de um jogo de matraquilhos) por uma aventura sem rede e às escuras.
Podem dizer que esta hora dolorosa, em que todos estamos em choque, não deve ser profanada com a invocação de comportamentos reles da realidade terrena. Pois eu entendo que há criaturas sem direito a passar impunes quando os seus expedientes malvados provocam efeitos dramáticos como aquele que estamos a viver. Luís Miguel acaba de morrer. Já sem cartão de jornalista de televisão. Mas nós sabemos onde reside a origem desta tragédia que nos mata também a todos, um pouco.
Miguel teve tempo de se afirmar, em nossa opinião, como o melhor pivot da televisão madeirense de sempre, incluindo os bons do antigamente e os bons da actualidade. E conhecemos todos os pivots da RTP-M desde o dia inaugural. Conhecemos os primeiros a aparecer, os continuadores, as esperanças e os mitos. O que dizemos está nos arquivos da verdade. Para quem não conheça, é só consultar.
Infelizmente, não veremos esta noite Basília Pita na apresentação normal do telejornal. Aconteceu-lhe algo terrível, a ela e à filha a quem deu vida com o Luís. Já ontem, aquelas anomalias de início de noticiário incomodaram visivelmente a nossa companheira jornalista, também ela uma profissional de inimitável empenho - no arranque do TJ para divulgar os últimos acontecimentos. Mal sabia Basília que a pior notícia da actualidade estava para acontecer escassas horas depois do genérico de fecho. 
Sinceramente, não temos palavras para dizer quanto lastimamos o que está a acontecer à Basília, ao Luís Miguel e à sua filha. Tomara que daqui a pouco acordemos todos de um pesadelo.

É certo que Luís Miguel já não pertencia aos quadros da RTP-M. Mas é aos nossos colegas da televisão que dirigimos também sentidas condolências. Aquela era a casa do Miguel. É verdade que, estapafurdiamente, o melhor pivot que a televisão pública já teve não trabalhava na televisão, por ter sido 'empurrado' de lá para fora. Tinha 44 anos! Mas o que é que hoje em dia espanta nesta terra?




12 comentários:

Joelo disse...

Os meus pêsames à família. Ainda esta semana tomei um café com ele. Adeus. Obrigado. E até daqui a uns tempos. Descansa em paz meu amigo.

Anónimo disse...

obrigada Calisto por este texto. Espero que todos o leiam. E pensem. Se é que têm consciência.

Anónimo disse...

Excelente texto. Os meus sentimentos à família enlutada. De um anônimo que segue o blog e até nisto mantém o anonimato.
Grande perda para a comunicação social, em especial para os seus telespectadores, e para a sociedade madeirense. Que descanse em paz.

Anónimo disse...

Foi a RTP Madeira que se portou mal mas também o PS/Madeira que virou costas a um deputado que deu tudo no parlamento nacional e que para defender a Madeira foi chamado ao tapete pelo animal feroz, Sócrates. E foi enxovalhado pelo dito e ninguém o apoiou. Nós sabemos que eles sabem o que nós sabemos.

Anónimo disse...

E todos sabemos onde começou este desfecho....

Sérgio Correia disse...



Muito obrigado Calisto pela frontalidade e pela homenagem ao nosso grande amigo Miguel França e para mim um cunhado e compadre que nunca vou esquecer.

Anónimo disse...

Que encontres no além aquilo que nesta vida em vão procuraste. Até sempre caro amigo.

jose manuel coelho do PTP disse...

Fiquei muito triste com a morte do Luís Miguel França.Nada podemos fazer contra a morte. Essa eterna inimiga do Homem. Condolências à sua esposa e todaa família.

Anónimo disse...

Não é a primeira nem a última vítima do pseudo grupo sousa. Todo o povo madeirense é vítima!

Anónimo disse...



A competência técnica e a verticalidade moral perdeu mais um dos seus protagonistas.

Parabéns pelo artigo sentido e verdadeiro sr.º Luís Calisto.

Triste com esta situação.

Anónimo disse...


Também ouvi falar de um operador de câmara que deixou a RTP Madeira,
e foi trabalhar para a Arábia Saudita.
Já não aguentava, o mau clima de trabalho que há
na empresa..
Acho que os autores destas e de outras situações....deviam refletir.
Devem pensar nisto.
Será que dormem bem?
O Luís Miguel, foi empurrado para sair..... outros jornalistas já
foram convidados.......
Vemos equipas correrem de um lado para outro......Qual é o resultado desse trabalho, ou, escravidão??
Há mais pessoas a ver o canal?
Há programas que os madeirenses, gostem e desejam ver????
Ou será que estão a trabalhar para o boneco...
ou para o velho paradigma da estatística.
Tantas, horas de emissão... X número de reportagens????
É triste trabalharem, trabalharem e não surgirem resultados.







Anónimo disse...

Não fora o respeito que os que partem sempre nos merecem, e o Luís Miguel França merece-o mais que muitos outros, e aqui poderiamos descrever a injustiça de que foi alvo. Obviamente que foi o melhor "pivot" da RTP-Madeira. Presença, aprumo, dicção perfeita, uma voz extraordinária em tom e colocação, educação exemplar, enfim, reunia todos os requesitos para o cargo e todas as pessoas francas e sérias lhe reconheciam isso. O problema dele foi exatamente esse, numa terra que teima em afastar os bons no receio que a mediocridade se evidencie. Descanse em paz Luís Miguel França que agora já não podem mais ser injustos consigo. Como se costuma dizer, até a um dia destes.