Sucessão no Partido Popular

MOVIMENTO APOIA JOÃO CATANHO

PARA DISPUTAR LIDERANÇA A RUI BARRETO

Há uma sensibilidade interna que se diz muito forte e empenhadíssima em ver João Catanho a disputar a liderança contra o candidato anunciado Rui Barreto. Sem alarde, o trabalho de terreno vai adiantado. Os activistas do novo movimento dizem-se seguros de que entregar o partido às ambições do ex-deputado em S. Bento é fechar de vez uma porta na Rua da Mouraria.

É professor do Ensino Secundário e formado em Gestão de Empresas, oriundo de uma família tradicional do CDS, protagonista de um longo percurso na Juventude Centrista - e pretende evitar a todo o custo que o seu partido de sempre caia nas mãos de Rui Barreto.

João Catanho tem percorrido as concelhias dos populares em toda a Região, apresentando a sua disponibilidade para candidato à presidência do CDS-PP. É uma resposta positiva aos incentivos de elementos desalinhados com o apregoado "unanimismo" à volta de Rui Barreto. 

Segundo fontes das próprias concelhias, é enorme a aceitação do novo projecto, que assenta nos princípios constantes da moção de estratégia que Ricardo Vieira já divulgou.

Dirigentes locais que têm recebido João Catanho asseguram ter percebido no pré-candidato a disposição de levar o processo até ao fim. Informam também haver muitos elementos do partido com importância concelhia afirmando rever-se nos princípios que dão corpo à moção vivamente apoiada pelo recém-adversário de Rui Barreto - Rui Barreto que até agora tem lidado como candidato único à sucessão de José Manuel Rodrigues.

Como se sabe, a situação emerge da demissão de Rodrigues por força dos maus resultados nas eleições de 4 de Outubro.

Rui Barreto, ex-deputado nacional e actual deputado no Parlamento insular, que entrou em conflito com o líder demissionário já antes das eleições, apareceu como sucessor natural a eleger no congresso previsto ainda para este ano, devendo as datas da reunião magna sair do próximo Conselho Regional.

Ninguém se solidarizou com Rodrigues...

Para separar as águas, os apoiantes do anunciado novo candidato lembram que nenhum elemento da Comissão Política se solidarizou com o líder auto-demitido, mas nem por isso deixam de ser responsáveis pelo estado actual do partido. E aí estão os vices Lopes da Fonseca, Isabel Torres, Mário Pereira e o próprio Rui Barreto, além do secretário-geral Lino Abreu.

A nova corrente centrista dispõe-se a combater o unanimismo que Rui Barreto procura reunir desde há muito à volta do seu nome, já quando combatia discretamente a liderança de José Manuel Rodrigues. Para a linha liderada por João Catanho, Rui Barreto é guiado por uma extrema ambição política, que não serve ao partido. Alguns elementos acham que o candidato 'oficial' não se importaria de fazer entendimentos com o PSD caso isso lhe desse vantagens em termos de promoção política.

Estimulado pelos apoios, João Catanho lançou-se à estrada com outros elementos, munido da moção de Ricardo Vieira, o antigo líder do CDS que, não estando declaradamente com o novo projecto, também não o desencoraja. Sendo inclusivamente conhecedor dos apoios existentes ao nível das concelhias.

"Ser partido, tomar partido"

A moção orientadora da futura [provável] candidatura consubstancia um projecto com o lema 'Ser Partido e tomar Partido', que aposta numa reorganização do CDS-PP que funcione como uma espécie de recomeço, envolvendo uma muito maior participação das concelhias na vida do partido e ao nível de todos os órgãos. Descentralização é uma das palavras de ordem desta sensibilidade interna, porque "a Madeira 

não é só o Funchal". A Madeira é ir ao encontro das necessidades dos militantes do partido e da sociedade civil. Os militantes e mesmo os meros simpatizantes devem ser convidados a participar activamente na vida do CDS. Numa palavra, "ouvir, pensar e decidir com o partido". O que só será possível com um trabalho em equipa, envolvendo as bases e os dirigentes das concelhias, responsabilizando-os pela motivação e empenhamento necessários para "salvar o partido".

Isto é a abertura que os novos pretendentes à liderança se propõem privilegiar. Isto é "ser partido".

"Tomar partido" é pugnar para que o CDS, embora com os olhos no futuro, reerga bandeiras doutrinárias antigas, como o humanismo personalista e a doutrina social da Igreja. 

O CDS sempre foi um partido de centro, mas a visão político-partidária não se deve circunscrever a posicionamentos partidários horizontais direita-esquerda - preconizam os apoiantes da nova linha interna, empenhada em recuperar a matriz ideológica do partido. Estão aí os alicerces sobre os quais os novos dirigentes "tomarão partido" por valores assentes na Família, sem os quais não seria possível voltar ao terreno em condições de reimplantar e propagar a política do CDS.

Os mentores do projecto defendem empenhadamente uma identidade própria, que combata a tendência crescente do chamado "maior partido nacional", a abstenção. É preciso contrariar a tendência de as pessoas afastarem-se dos partidos e da classe política - defendem.

Arrumar o partido sem esconder nada debaixo do tapete

Para isso, é fundamental que o partido se desenvolva num clima de "transparência". Transparência nas contas, transparência nos dirigentes partidários. Transparência não é ocupar os cargos a pensar nos interesses pessoais - dizem. Nesse andamento, o novo projecto pretende reordenar o CDS através de uma estratégia de "arrumar a casa mas sem deixar detritos do passado debaixo do tapete". Nessa tarefa, há necessidade de aplicar muito pragmatismo e muita objectividade. "Só assim se poderá fazer um novo CDS, com as nossas forças mais antigas e com os elementos novos a conquistar", diz um elemento da nova sensibilidade centrista. Nesse pormenor, a ideia é integrar a juventude em todos os órgãos do CDS, em vez de reservar um redutor lugar na Comissão Política. Os jovens não servem apenas para agitar bandeirinhas na campanha eleitoral - observam.

A ideia não é "cortar com o passado", mas "regenerar o partido" com todos, os antigos e os novos. Assim, a luta será para conseguir atrair a sociedade civil mas também os militantes que se afastaram. Trata-se de uma reorganização e de uma reconquista. O que não joga com aqueles que "cristalizaram e secaram o partido".

Os nomes que querem evitar o "fim do CDS"

Os defensores da nova linha entendem que o CDS actual tem o futuro "muito, mas muito ameaçado". 

Uma coisa dão como certa: as concelhias não estão com Rui Barreto, havendo até ameaças de demissão e afastamento se esse for o próximo líder. A informação chega-nos dessas áreas, delas próprias. 

Sabemos também que finalmente haverá presidentes de concelhia nas vice-presidências do partido da Rua da Mouraria, em caso de vitória de João Catanho.

Quanto a apoios concretos, o 'núcleo duro' deste movimento centrista aguarda para saber de uma possível adesão ou ao menos apoio da parte de Ricardo Vieira. Já que, compreensivelmente, José Manuel Rodrigues não deverá tomar partido por nenhuma das partes concorrentes. 

Mas há já nomes envolvidos, em toda a Região. Luís Neves, presidente da concelhia de São Vicente. Artur Aguiar, da concelhia da Ponta do Sol. Marco Pires e Bruno Aveiro, Machico. Gilberto Teles, Câmara de Lobos. Orlando Freitas, Funchal. Eng.º Valter Chaves, Santana.

A linha que segue João Catanho insiste num ponto: o CDS corre perigo de vida e, se for Rui Barreto a chegar à liderança, haverá encerramento de portas. O partido expira na Madeira. Fica "uma história bonita de 40 anos", mas a Madeira será entregue definitivamente a Miguel Albuquerque e a certas sociedades privadas que tiveram o cuidado de chamar para o seu seio alguns nomes do próprio PP. Houve baptismos mais ou menos recentes, garante-nos um dirigente local do partido centrista.

"Se cair nas mãos de um político tão ambicioso como o dr. Barreto, o partido morre em pouco tempo", pressagiam elementos que darão a cara pela candidatura de João Catanho.