ANESTESIA GERAL
Estávamos capazes de jurar que, 3 meses atrás, esta terra era um poço de dívidas, à vista e escondidas. Sarilho esse que, por castigo imposto a partir de Lisboa, penalizaria duplamente o contribuinte madeirense. Uma terra onde o desemprego assumia números pornográficos, segundo a expressão usada por Albuquerque para as tarifas aéreas. Onde a pobreza entrava na classe média como faca em manteiga pelo Verão. Onde os pequenos iam para escola com fome. Onde as novas gerações, desiludidas e desesperadas, procuravam emigrar às cegas. Uma terrinha onde o comércio definhava e as insolvências se multiplicavam de dia para dia. E mais tudo aquilo de que ouvíamos falar há uns meses.
Íamos jurar, antes destes dois últimos dias, que Passos Coelho era um primeiro-ministro contestado e vaiado em todo o País, depois de quase 4 anos de austeridade que tem arruinado a Saúde, a Educação, a recta final dos idosos e com consequências a dobrar no caso da Madeira.
Íamos jurar. Íamos. Já não. Depois desta quadra santificada que foi a visita do nosso Primeiro à Região, não vamos passar pelo ridículo de dizer que alguém anda propositadamente a ler mal o que os governantes disseram, o de lá e o de cá. Se afinal não estamos em época de preocupações e chatices, mas de boas notícias, abraços, beijos e palmas aos senhores governos, quem somos nós para armar em diferentes, a remar contra a euforia da direita portuguesa e madeirense? Aquele primeiro quarto de hora de telejornal ontem foi comovente de ir às lágrimas!
Bem: nós marchamos com o passo certo e os outros vão todos errados? Impossível.
Não é nada, é que alguns políticos do burgo resolveram dizer que 'o rei vai nu', casos de Carlos Pereira, Roberto Almada, José Manuel Coelho - recebendo imediatamente dilúvios de comentários a chamá-los de ressabiados para cima.
...Pelo que ficaremos de bico calado, para não levarmos também com um rótulo de 'comunas' ou de 'recalcados com problemas mal resolvidos'.
Ou, pior ainda, de 'saudosista do antigamente', em caso de farpa ao novo 'establishment'.
'Fica em Caracas'
Do mesmo modo, preferimos o silêncio no caso dos novos 'municipais'. Sim, que os dirigentes da mudança funchalense ultimamente têm feito um pouco de bombeiros: vão a todas, desde que apareçam luzinhas e campainhas ao fundo.
Cafôfo e seus indefectíveis foram à Venezuela para o baptismo de arepas sem o qual teriam vida negra até ao fim do mandato. O presidente da Câmara pediu aos munícipes do Funchal que ficassem na cidade e zarpou ele atmosfera acima, para descer de óculos de sol e digital em Maiquetía.
Noutra altura, diríamos: Fulano, já agora, 'fica na cidade... de Caracas'.
Mas deixá-los. O novo regime regional está em construção, como temos visto estes dias, com a charmosa campanha eleitoral de Passos Coelho na parvónia e com as soluções esgalhadas por Cafôfo para resolver os problemas da terceira idade na capital venezuelana e resolver também as deficiências do fisco em Portugal, a partir de umas conferências em clima bolivariano.
A sério: preocupações para quê, se a populaça, com todo o gosto, paga a crise?
Aproveitemos os efeitos da anestesia geral, essa das tarifas aéreas escandalosas que tinham de se resolver, do ferry que já tem uma comissão para engonhar, do hospital que fica para a próxima - o povo que colabore e não adoeça entretanto -, a renegociação da dívida que quando fosse para avançar Passos já estaria no desemprego político, e por aí adiante...
Lindo dia para a praia!
2 comentários:
Temos os fenómenos que somos capazes de criar, meu caro...
No caso da política eu não posso acrescentar nada ao que acabou de relatar, mas pergunto-me observando outros quadrantes: que raio de povo oferece condições para que tudo isto possa acontecer?
Até a senhora do telexfree se pode dar ao luxo de confessar publicamente o crime económico que cometeu no youtube e... nada acontece. Que povo é este?
Pouca Vergonha . Só promessas!!!! Desta gente o Inferno está cheio, cada povo tem o governo que merece!!!
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