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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Opinião



Uma lei estúpida só pode 
dar resultados estúpidos


O perigo dos demagogos em lugares com influência legislativa é a sua total impreparação para lidar com o complexo balancear de sensibilidades e impactes que deve preceder o esforço legislativo.
A partir de Abril do corrente ano, a Assembleia Legislativa Regional, impôs a proibição do abate de animais de companhia e errantes.
Atentemos a este parágrafo da notícia do público:
“Os animais serão depois esterilizados num centro de atendimento médico veterinário (público ou privado), e após a intervenção que inclui a colocação de um microchip de identificação, serão encaminhados para adopção onde permanecem durante 60 dias. Findo esse prazo, ou regressam aos canis ou gatis municipais ou são devolvidos à liberdade no mesmo local onde foram recolhidos.” (https://www.publico.pt/2016/03/12/sociedade/noticia/madeira-proibe-abate-de-animais-de-companhia-e-abandonados-1725899)
Sejamos claros, só um individuo com distúrbios mentais graves poderá não concordar que o abate de cãezinhos e gatos é uma violência emocional para a sociedade profundamente hipócrita no tratamento dos animais. De facto, a hipocrisia desta legislação é profundamente acutilante quando atentamos às condições dos animais em produções industriais. Relevante é esta hipocrisia ser maioritariamente defendida por forças de esquerda que assim promovem uma desigualdade gritante no tratamento dos animais consoante a sua espécie, os tais paladinos da igualdade.
Mas passemos para além da hipocrisia óbvia dos legisladores e atentemos aos resultados desta legislação. Por todo o Funchal crescem matilhas de cães que dando vasão aos seus instintos, atacam tudo o que mexe na escuridão da madrugada. Pelos lados da APEL/Dom João, já são incontáveis os gatos mortos por uma matilha que cresce a olhos vistos e já atinge o valente número de 9 cães, alguns deles de grande porte. É claro que esta situação se aproxima rapidamente de uma potencial tragédia, para os animais ou para alguma pessoa incauta que seja apanhada pela atenção noturna da matilha.
Pergunto-me como foi possível passar uma legislação destas sem dar condições aos serviços de recolha de animais errantes para continuar a fazer o seu trabalho em nome do bem-estar dos animais e segurança dos humanos? Onde neste mundo voltar a jogar animais abandonados na rua é uma solução aceitável? O que será emocionalmente mais violento, saber que há animais de companhia que são abatidos por causa de donos irresponsáveis, ou ver um qualquer gatito, ou uma criança, ou um idoso, a ser estraçalhado por 9 cães raivosos, ou ainda ver cães e gatos envenenados na rua a caminho do trabalho ou da escola? Claro que nisto os animais não têm culpa nenhuma, a culpa é dos animais do parlamento que na voraz fome de protagonismo, fazem aprovar leis estúpidas que trazem sofrimento para animais e humanos.
Os mesmos paladinos aproveitam a época natalícia para repudiar a tradicional “morte do porco”. Acredito que nenhum deles alguma vez criou um animal para alimentação, na verdade, nem eu que sempre vivi em cidades. Mas o meu gosto pela ruralidade me aproximou desta tradição e fez-me ver a questão fora dos olhos dos queques da cidade. Se é verdade que a “matança do porco” por si só é um ato violento, é mais verdade que o stress causado ao animal é menor do que a morte industrial (incluindo o transporte para o matador, o acondicionamento do animal e o medo e desespero do animal quando se apercebe do seu destino, quando não é esquartejado ainda com vida), a rapidez da morte do animal é uma questão de honra para o matador porque o stress “estraga a carne”. Por esta ilha fora, os mestres da matança são escolhidos a dedo pela sua proficiência em acabar rapidamente com o sofrimento do animal.
Claro que esta realidade não cabe na cabeça de demagogos que vivem no paraíso das maravilhas dos supermercados e demais filmes da Disney. Para eles, o mundo é um gênero de fofilândia onde os animais falam e pululam em nuvens cor-de-rosa. Que assim sejam, é a prerrogativa deles, mas quando chegam ao parlamento e começam a influir decisivamente em questões sérias, aí é que a “porca torce o rabo”. Continuemos a eleger infantis…

Amanhã vou a uma matança do porco, feliz natal!

Ricardo Menezes

4 comentários:

Anónimo disse...

Excelente artigo!

Anónimo disse...

Mas vão matar políticos este natal?

Anónimo disse...

Excelente, você acertou em cheio nos urbanos depressivos que se julgam com uma moral superior do politicamente correcto.

Anónimo disse...

E o pior é que existem jaulas para animais cheias e passam a vida em sofrimento só porque não podem ser abatidos.