O REGRESSO DOS QUE NUNCA FORAM

José Vicente Gomes

Dos áureos tempos da juventude irrefletida dos anos 70, guardo, com especial carinho, as sessões dos cinemas do Funchal que passavam em sessões quase contínuas filmes do que chamaram mais tarde “western spaghetti”: filmes de cowboys americanos, feitos por italianos e filmados, alguns, nas vizinhas Canárias. Delirávamos, na altura, com as aventuras e desventuras do Sartana, da dupla Terence Hill e Bud Spencer e de outros, todas anunciadas com títulos estentóreos nos escaparates do Cine Parque, do Cine Jardim, do Cinema João Jardim e, até, do Teatro Municipal.

Dos que me lembro, entre o “Sartana Chega e Mata” e o “Bom, O Mau e O Vilão”, vem-me à memória um título (que se calhar nunca existiu efetivamente): “ O Regresso dos que Nunca Foram”, o qual era inúmeras vezes glosado em conversas de estudantes nos pátios do Liceu e arredores.

Vem tudo isto a propósito da intenção enunciada do até agora presidente da Assembleia Legislativa da Madeira de, suspendendo o mandato, regressar à advocacia. Efetivamente, Senhor ainda Presidente, V. Ex.ª não vai regressar, pelo simples e inequívoco facto de que nunca a deixou. Não só declarou que não era incompatível (e, literalmente, não é), como exerceu, durante todo o tempo,  de facto, a sua profissão de advogado em cumulação com a sua função de presidente (o uso de minúscula é aqui relevante) do Parlamento Regional. De resto, usou e abusou do seu gabinete na ALRAM como extensão do seu escritório de advogados, inclusive na contratação de juristas que deveriam servir o parlamento regional e que acabaram por se revelar serventuários dos interesses privados do seu presidente.

É por tudo isto que o anunciado regresso de Tranquada à advocacia é, afinal, o retorno de quem nunca foi. Quanto muito, terá menos recursos ao dispor no seu escritório de advogado!