Madeira de rastos

O JM de hoje avança que a força partidária mais votada a 22, o PSD-M, deixa subir a Presidente do Parlamento José Manuel Rodrigues, deputado de um partido, o CDS, que caiu mais de 50% e agora cabe num tuk-tuk 

O regime autonómico nunca foi tão enxovalhado. E agora por culpa de madeirenses. A cegueira do poder afecta o espectro político de extremo a extremo. Qualquer bicho-careta se acha com capacidade para Rei da Tabanca. Dramático: a Democracia e a Autonomia estão de rastos. A situação actual é insustentável. O governo de coligação é um nado-morto. 
E a alternativa é solução para fracassar. 

Albuquerque, Barreto e Emanuel Câmara:

líderes que não lideram nada

Mesmo ainda durante as conversações para um governo PSD-CDS, está visto que não há governabilidade possível no estado político saído das regionais.

Miguel Albuquerque não manda na coligação.

Rui Barreto não manda no seu partido.

O Partido Socialista, eterna esperança da metamorfose político-partidária na Região, sobrevive na maior humilhação da sua história: o seu líder, Emanuel Câmara, não manda nada. A 'rosa' está nas mãos de independentes e cristãos-novos.

Os partidos mais pequenos caíram estrondosamente no 22 de Setembro, afogando-se alguns deles nas ondas do voto útil. 

Paulino Ascenção parece que já não manda nada no Bloco.

O Representante da República achará que há viabilidade nesta coisada?

A 'boa notícia' que deixou o CDS mais na mesma - ou pior

Até aqui já se sabia.

A novidade é o que diz hoje o JM, se bem que dando a notícia como certa numas partes e deixando dúvidas noutras. Diz o jornal que o PSD já decidiu ceder às exigências de José Manuel Rodrigues, deixando-o chegar a Presidente da Assembleia Legislativa.

Espantoso!

O lugar de Presidente da ALM é o topo da instituição considerada nem mais nem menos o tal 'orgão da Autonomia por excelência'. Nas regionais, é para esse órgão que os Madeirenses votam. Logo, a representatividade dos Madeirenses resulta da contagem dos votos nas urnas. A força política mais votada tem direito ao lugar, por via da eleição em plenário.

Avançando José Manuel Rodrigues para o cargo, dá-se a cena caricata de os Madeirenses serem representados pela 'boa notícia' que o CDS um dia apresentou, a ver se a popularidade da televisão resultava nas urnas, mas que, mesmo depois de duas décadas de liderança na Mouraria, deixou o partido 'cada vez mais na mesma'. 

Será que José Manuel Rodrigues 'estica a corda' em nome dos interesses da Madeira ou sequer do seu partido? 

Não. 

Ele faz finca-pé por conta de uma cega ambição pessoal. 

Ele quer ser sr. Presidente à força, porque o CDS não lhe chegou.

Estaria no seu direito, se ganhasse eleições.

Assombroso!

Mas o mais assombroso deste filme é que, segundo o JM, a 'cedência' a José Manuel Rodrigues não faz parte do pacote de contrapartidas do acordo governativo entre PSD e CDS. Ou seja: o PSD outorga ao parceiro coligado secretarias regionais e o que mais for acertado na esfera executiva - sendo o caso da Presidência da ALM assunto a tratar à parte. 

Fantástico!

Mas então para quê e em que termos se faz o acordo de governo? Não é na base de cada um dos dois partidos contribuir para uma maioria parlamentar?

Neste caso, a modos que não. O CDS diz: vamos ficar com esta secretaria e mais aquela, mas atenção, oh Miguel, parece que tens de dar o Parlamento ao Zé, para ele não votar contra o programa de governo.

E o Miguel não responde ao Barreto (ou ao Teófilo) nestes termos: esse problema é vosso, porque a constituição do governo a meias exige que vocês viabilizem o Programa de Governo e os Orçamentos. 

Ora, o líder Barreto não tem autoridade nenhuma no seu partido. À primeira, ficou nas mãos de Lopes da Fonseca. À segunda, já líder, deixou-se armadilhar pelo presidente centrista, José Manuel, permitindo-lhe voz activa na elaboração de listas eleitorais e, imagine-se, nas negociações sobre governos de coligação. 

Só mesmo Rui Barreto para cair na esparrela.

Agora, o 'líder' nem consegue exigir de Zé Manuel uma disciplina de voto que para um antigo chefe da Mouraria devia ser automática. 

Do outro lado, o PSD aceita negociar em dois patamares, e só para 'conceder': dá secretarias ao CDS e uns substanciais 'milhos fritos' aos 'descontentes' do parceiro.

Ingenuidade incrível.

Eis como um simples 'Limiano à Mouraria' condiciona os interesses da Madeira e dos partidos.

Há uma expressão popular para definir o que Zé está a fazer ao PSD e ao próprio CDS, mas o decoro não me permite ir além disto.

Até seria divertido, se não estivessem a fazer pouco dos contribuintes.

Miguel Albuquerque: fim de itinerário

Não há pudor nesta brincadeira de mau gosto. A ser verdade que a coligação está refém do 'autonomista Zé Manel', e se Miguel Albuquerque ainda tivesse moral para se assumir, a posição do PSD seria uma e só uma: cortar já com o frágil CDS, levar o programa 'minoritário' laranja à Assembleia e deixar que a oposição assumisse a responsabilidade de o chumbar. Ou de o deixar experimentar.

É assim que funciona a democracia.

Mas a cegueira de poder que atordoa o CDS inteiro também atinge o PSD. Depois de 40 e tantos anos, os laranjas acreditam que podem segurar as rédeas do bicho por mais meio século. Há um pavor de voltar à vida normal, que é vida à margem do carreirismo.

O próprio Miguel Albuquerque tarda em perceber que o seu itinerário está no fim. Foram anos a mandar na JSD, mais uns 20 a mandar na CMF, agora um mandato desgastante nas Angústias, depois de um massacrante processo de sucessão no PSD. Miguel já merece uma poltrona em S. Bento ou em Bruxelas. E o PSD precisa urgentemente (para eles) de caminho aberto a nova corrida interna.

Já se faz notícia na imprensa de governantes que se recusam a sair do poder - ou melhor, secretários que exigem ser reconduzidos, porque na realidade o seu contrato expira automaticamente com o fim do mandato. 

E ninguém responsável - Miguel - desmente a enormidade!

Com o partido 'tapado' por estes chefes que não mandam, sofrem os genuínos social-democratas e por arrastamento os que pagam os devaneios de poder.

No PS-M mandam independentes e cristãos-novos 

O drama da terra é também a falta de alternativas.

O Partido Socialista continua a ser encavalitado por uns quantos cegos do poder e do dinheiro, a mando de tubarões que corrompem e mafiam a seu bel-prazer no paraíso dos 'negócios autorizados'.

O PS está dominado pelo efeito 'armadilha', no dizer de alguns socialistas perturbados com a situação. 

Independentes e cristãos-novos sem bandeira conhecida dominam a Praça Amarela e dominarão ainda mais quando começar a tilintar o balúrdio do jackpot parlamentar referente aos 19 deputados que saíram do voto útil.

Dias depois das regionais de 22 de Setembro, a imprensa do costume noticiou que Paulo Cafofo tinha convocado para o domingo seguinte os 19 eleitos, para uma primeira reunião do grupo parlamentar.

Cafofo tinha sido cabeça-de-lista às eleições como independente e, por sua cabeça, resolveu dar continuidade à missão concluída em 22. 

Não se percebeu com que autoridade, porque até ver não passa de um dos 19 deputados eleitos na lista do PS, convocou a reunião. 

Sem mandato de nenhum órgão do partido de que é 'simpatizante', assumiu publicamente que ia liderar a vida do PS na Assembleia, que ia liderar os planos de oposição, que ia liderar as novas propostas de governo para a Madeira. E repetiu o discurso quero-posso-e-mando na referida reunião... estando o presidente do partido a seu lado!

Cafofo: tiques estalinistas, conquista de poder na base da purga

Olhando um pouco para trás, detectamos à vista desarmada os tiques estalinistas do popular Profe Mentiras. Com pouco tempo na presidência da Câmara 'Mudança', desatou às purgas. 'Rua' com quem pensava pela sua cabeça. Expediente que repetiu no segundo mandato, assim que percebeu não precisar de atrapalhos na Câmara 'Confiança'. A vaidade excessiva. O incentivo ao culto de personalidade.

Desde então, as suas influências levaram a outras purgas que atingiram históricos do PS-M. 

Dia 22 de Setembro, o 'autocarro das peneiras' estacou na garagem, sem a auto-proclamada vitória. Que fez Cafofo? Felicitou o vencedor das eleições prometendo uma oposição firme e consistente? 

Não. 

Na noite das desilusões, ele desafiou todos os partidos da oposição para um governo em coligação com o PS, porque o povo, disse ele, não dera a maioria ao Laranjal. 

Numa postura parecida à dos ditadores africanos e latino-americanos das décadas de 60 e 70, não reconheceu a vitória do adversário - minoritária mas vitória.

E nesse registo tem-se insinuado no pós-eleições. Com uma tergiversação notória: o CDS, adulado na noite eleitoral e assediado em contactos insistentes do próprio Cafofo para uma coligação abrangente contra o PSD, assim que deu mostras de aproximação aos social-democratas passou a ser diabolizado e alvo de condenáveis insultos por parte dos cafofistas. 

Uma volubilidade que já se tornou marca registada do Profe, aliás.

PSD e PS não dão cavaco aos órgãos partidários

Dramático. De um lado, as tropas fandangas de centro-direita sem uma voz de comando. Do outro lado, uns obcecados a ocupar desalmadamente a área política de esquerda, na ânsia do mando e do dinheiro, ao serviço dos grandes obradores da Tabanca.

Que dizem os antigos socialistas que anos a fio deram o 'cabedal' desinteressadamente e com prejuízos pessoais e familiares em lutas desiguais pelo seu partido?

Que dirão os protagonistas do antigo autoritarismo social-democrata perante a tibieza destes chefezinhos delicados que tomam chá no piano-bar 'Angústias'?

Como reagem os velhos centristas, que tanto sofreram às mãos do PSD, a estas coligações e ao repugnante interesseirismo daquele a quem várias vezes elegeram para líder do partido?

Uma curiosidade: Albuquerque só reúne os órgãos do partido para a semana, com o caminho da coligação consumado - e talvez estragado.

O derrotado Emanuel Câmara não falou na noite eleitoral aos militantes nem, que se saiba, reuniu os órgãos internos. Manda Cafofo e mais nada.  

E se outros deputados quiserem fazer também de Limianos?

Voltando à vaca fria: Zé Manel Rodrigues acha-se com direito a sentar-se na cadeira mais alta da Autonomia da Madeira. Tendo abaixo de si um vice do partido que ganhou as eleições e outro vice de um partido que elegeu 19 deputados!

Sim senhor!

A propósito, alguém que me explique: e se Ana Cristina Monteiro também entender que ou lhe dão a Presidência parlamentar ou chumba a coligação? E se Mário Pereira, que deve substituir Barreto no tuk-tuk, se puser com a mesma teima? E Jaime Filipe Ramos não se acha com mais peso político do que o 'velho' pretendente ao lugar? E Victor Freitas, por que não?

Zé Manel cristalizou o seu partido durante décadas. Criou condições para o CDS baixar ao modesto tuk-tuk. Como prémio da proeza, pretende gabinete espaçoso, secretárias, o luzente popó da bendeirinha e, está claro, um vencimento chorudo para gastos. 

E pelos vistos os atados chefes do PSD e do CDS ficam de braços cruzados.

Uma questão de respeitar as leis

Meus senhores! Só há um caminho decente, e em respeito pela legislação. Se Zé ameaça rebentar com a coligação, borrifando-se para a estabilidade, e se Barreto não tem mão que imponha disciplina partidária no grupinho parlamentar dos sacristães, então que avance o PSD sozinho com o seu programa.

Chumbo para baixo, provavelmente.

Que se segue? 

Convite ao segundo partido mais votado, o PS. Que certamente optará por uma geringonça. Se conseguir formar governo com programa aprovado, que governe. 

Aposto que o saco de gatos não resiste um ano, mas a minha aposta não interessa. Independentemente do que possa acontecer no futuro, a legalidade manda fazer assim.

E pronto. 

Novas gerações, novas gerações, onde vos escondestes? 

Já agora: por que será que, especialmente no PSD e no PS, assim que um ou uma jovem começa a mostrar discurso e  pensamento, desaparece misteriosamente, como a flor-humana?

Enfim.

Não sei se já repararam, mas a obsessão por dar ordens nesta aldeia é tal que os potenciais regedores não ligam patavina às eleições nacionais do próximo domingo, em que os respectivos partidos estão envolvidos.

Sim, as previsões falam de borrasca grossa. 

Vejam à mercê de quem estamos.

Mas foi por aí que o eleitorado escolheu.