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quinta-feira, 7 de junho de 2012

O que vai na Praça



NÃO RECUAREMOS NO COMBATE À INTRIGA GRATUITA



Na peixeirada da baixa, onde se juntam ressabiados a desancar na Madeira Nova, deduz-se que se espatifaram 15 mil milhões em 11 anos, notas frescas a que se perdeu o rasto. 'Tudo mentira', diria o rei das Angústias, se não estivesse em 'black out' cerrado com o 'Fénix'.

A zona das esplanadas fica melhor quando liberta de certas línguas viperinas.


Depois de uns dias de reflexão e de peripatéticas permutas retóricas por toda a extensão do aterro, com outros desliludidos da Madeira Nova, ensaiámos o regresso aos conhecidos antros da má-língua funchalense, a ver se as mentes viperinas, tocadas pela chegada do Corpo de Deus, haviam abrandado a erupção da perfídia.

A pretexto de cheirar o almoço para fazer a reserva, entrámos no 'Apolo'. Enquanto amigo João preparava o garoto, pegámos no folheto com a ementa do dia. O 'menu troika', especial para as carteiras falidas, oferecia atum de escabeche, uma bebida à escolha - água, vinho da casa ou fino - e café, tudo por 6.75 €. Já nos crescia a água na boca.
- Uma sopa XL com o conduto do costume e uma padeirinha também desenrasca - tenta ajudar o contabilista sem trabalho, entrando no café-restaurante acompanhado por aquele indigesto que em tempos vendia tabaibos na zona do Mercado.
Continuamos a ler o prospecto. A sopa XL, 'à pescador', custa 4.15 €. Nunca resistimos à qualidade da cozinha do 'Apolo' e decidimos voltar à hora do almoço.



MacGyver a comer meia dose de mão de vaca

- Isto está tudo a pão e água - sopra-se o ex-vendedor de tabaibos, à espera do café - A pão e água para nós, é claro. Para os tubarões, é só encomendar.
- Deixa lá que até para esses... - tentamos refrear - Olha que a vida está preta para todos.
- Lá isso é verdade - apoia o contabilista - O Guilherme Silva quando vem à Madeira gravar o programa da televisão - ele é deputado e precisa de estar ligado à terra, como sabem - Quando vem cá, o almocinho é meia dose de mão de vaca com uma carcaça e uma água da parede, na cave da 'Bica'. E bem bom!
- Isso é tara do nosso MacGyver - faz o outro.
- Sei lá o que é - dispara o contabilista - Não sou psiquiatra. E aquele que é administrador do 'Jornal da Madeira'...
- O Alberto?
- Esse é o director! O outro, o Almeida. O almoço dele é naquela tasquinha, dentro do Mercado... Uma sopa, uma sanduiche, três bolos, um sumo e está feito.

Reparar no prato dos outros

Atrevemo-nos a denunciar o mau gosto que é bincar com a vida particular de cada um.
- Não estou a caçoar - reage mal o contabilista sem trabalho - Sei o que digo, também frequento aqueles lados.
Mesmo assim, adiantamos considerar estranho que andem a reparar no prato do próximo para depoia relatar.
- E não são os pilantras do regime que destinam o que a gente come, ou deixa de comer?! - insurge-se o contabilista - O João... O Alberto João acho que deixou de frequentar 'A Torre', em Câmara de Lobos, porque já não pode comer aquele frango no churrasco, assim à vontade... Mas o Jaime vai sempre, num certo dia da semana, almoçar ao 'Vista Alegre', no caminho velho para a Ribeira Brava. E vai sempre sozinho, porque as coisas estão feias.

Saimos os três para as esplanadas do centro.
Raio de conversa! 
Vão chegando outros mal dizentes, um a um. O grupo engrossa.

- Isto está tudo embeiçado, não corre um euro na praça, deram cabo desta m... toda! - agita a fogueira um caixeiro reformado para desafiar as línguas e ficar descansado a passar os olhos pela 'Bola'.
- Mas para onde foi todo o dinheiro que Lisboa e a Europa mandaram nestes 20 e tal anos para a Madeira? - pergunta o que trocou a venda de tabaibos por um lugar de assistente na segurança de um conhecido quadro oficial e que, por falta de pagamento, anda hoje a polir esquinas - Se esse dinheiro veio para mim, digam, porra, porque não me chegou nada.


Em Dezembro de 1999 a Madeira não tinha dívida

O contabilista sem trabalho dá-lhe razão. Só nisso - vinca bem. E vai fazendo contas aos dinheiros da terra.
- Lembro-me de que a Madeira acabou o ano de 1999 e entrou em 2000 sem dever nada a ninguém. Apenas 70 milhões de euros a fornecedores, fazendo a relação contos/euros.
- Então como é que...? - vai o sindicalista para perguntar.
- Eu é que pergunto como é que se gastou o que se gastou de Janeiro de 2000 para cá! - estardalhaça o contabilista - Desde essa data, espatifámos 9 mil milhões de receitas. Fizemos dívida de 6 mil milhões. E há o bolo oculto que se está a descobrir agora! Foram-se 15 mil milhões, do que está à vista. E aqueles 70 milhões que se deviam a fornecedores, ao pé destes 15 mil milhões, são zero. Zero! - o homem não se detém no discurso, pelo contrário, o sangue parece querer saltar das faces - Gastaram 15 mil milhões em 11 anos! Assim é que se fazem as contas certas! Espatifaram 300 milhões de contos - contos! - 300 milhões por ano! E o milagre disto tudo é, com esta loucura, ninguém ter sido preso ainda! E não se esqueçam dos 70 ou 80 milhões de contos que o artolas do Guterres perdoou!


O 'outro' dizia para deixarem os calotes com ele...

- O dinheiro não foi para a tal 'obra feita'? - provoca o sindicalista que nunca trabalhou.
- O dinheiro foi para a p... - o contabilista está possesso - Não me faças falar! Não lês as conclusões do Tribunal de Contas? Não sabes das investigações que andam a fazer?
- Vamos ter calma, porque perder a cabeça é pior - intervimos nós, com boas intenções - Vamos confiar em quem manda. Temos um governo para tratar de dar a volta por cima, como se costuma dizer. Confiem no homem. Alguém vai pagar estas dívidas todas.

Os outros intrepretam mal a nossa boa vontade.

- Não precisas de incendiar mais isto, que o fogo alastra sem 'assoprar' - é o contabilista imparável no papel de orador principal - Aquele padre velhinho de Gaula contou-me uma há tempos... Foi uma velhinha que perguntou ao das Angústias se seria chamada para pagar as dívidas da Madeira. E ele respondeu à bruta: acha que vai ser chamada para pagar dívidas? Deixe isso comigo, não se aflija!
- Será que vai arranjar dinheiro para pagar mesmo? - outra provocação, agora do ex-vendedor de tabaibos.


Os governantes saem da Madeira para tomar uns copos em vez de procurarem receitas

- Homem, põe a cabeça a funcionar - espicaça o contabilista, mais calmo - Na Madeira, só há despesa. Receita, zero. Ou melhor, temos uma receita de impostos que não chega aos 700 milhões de euros. Ora, se não temos receita cá dentro, há que procurá-la no exterior. Ir buscar receita a Lisboa, à Europa, aos países geradores de turismo, a clientes do Centro Internacional de Negócios. Mas temos secretários regionais que não saem daqui. O presidente só vai a Bruxelas em viagens de repouso, como nas excursões de velhos que as juntas de freguesia fazem ao Porto Santo por 5 €. Os secretários vão tomar uns copos às comunidades no Dia da Região, a secretária do Turismo vai comer espetada, bailar com os emigrantes e fazer compras em Londres. E, assim sendo...


Primeira medida para recuperar supermercados: voltar aos ralis



Apetece-nos fugir dali. Quanta incompreensão! Quanta ingratidão!
- Estamos a pão e água - retoma o fio à meada o ex-vendedor de tabaibos. É o indestrutível tema da crise. O sindicalista que nunca teve emprego aproveita.
- A pão e água, sim, é verdade. Isto tem de acontecer alguma coisa, tem de rebentar para algum lado, porque ninguém aguenta. Vou aproveitar mais esta promoção do 'Pingo Doce', na quinta-feira... bebidas alcoólicas a metade do preço... Vai haver 'ventania' em casa. Faz tempos que não molho a goela. Não vou andar a beber 'Ganita', não é?
- Mais uma promoção?
- Sim, a 50%. Na sexta e no sábado, a mesma coisa, com produtos de marca branca. É aproveitar. O 'Pingo Doce' não volta a cara à crise.
Quem que chega neste instante para complementar a teoria? Ninguém menos do que o funcionário público ressabiado.
- Mas o 'Sá' também está a reagir à crise - adianta ele - O novo administrador, aquele que é vereador, o Pedro Calado, já começou a tratar da recuperação financeira. A primeira medida foi o Victor Sá voltar aos ralis... e o próprio administrador já é co-piloto dele neste rali de Santa Cruz. 


De volta ao aterro...




Evidentemente que quem nos conhece não esperaria que ficássemos ali a imergir no pântano da malignidade.
Em dois tempos, pusemo-nos de novo no aterro em busca de companhia para um debate peripatético.

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