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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Opinião


A “praga do Powerpoint” ameaça
dizimar a agricultura madeirense


Por Vitorino Seixas


Segundo fontes oficiais a praga da vespa-das-galhas-do-castanheiro já dizimou 60% da produção de castanha na freguesia do Curral das Freiras e 90% na Serra de Água. Perante esta catástrofe, que começou em 2014, é lícito perguntar a Humberto Vasconcelos porque deixou alastrar a praga durante mais de um ano e meio?

Numa pesquisa, no sítio da Secretaria Regional de Agricultura e Pescas (SRAP), sobre a praga da vespa-das-galhas-do-castanheiro, fui surpreendido com o resultado “Não foram encontrados documentos para a sua pesquisa”, o que desmente as mensagens políticas que aparecem junto ao rosto sorridente de Humberto Vasconcelos, entre as quais destaco “Técnicos estarão no terreno em proximidade com o agricultor”.

No entanto, a visita ao sítio da SRAP acaba por ser interessante pois permite ter um conhecimento mais aprofundado das iniciativas de Humberto Vasconcelos, em especial sobre os planos estratégicos que tem apresentado. Neste domínio, rapidamente se constata que, apesar da comunicação social ter noticiado cerca de uma dezena de planos estratégicos, só estão disponíveis os planos para o maracujá ¹, a anona ² e a agricultura biológica ³.

Numa leitura atenta dos três planos, que são meras apresentações Powerpoint, verifica-se que o seu conteúdo, em rigor, nunca poderá ser denominado de “plano estratégico” dada a sua fragilidade técnica.

Senão, vejamos. Bata ler o denominado “Plano Estratégico para a Agricultura Biológica” para se perceber a falta de consistência do conteúdo dos 32 slides.  Sem tentar ser exaustivo, vou centrar a análise em três elementos do referido “plano”: Análise SWOT, Objetivos e Avaliação dos Resultados.

Quanto à análise SWOT, há uma descrição que demonstra que a análise foi feita por alguém sem a devida preparação, dada a confusão entre o que é uma oportunidade, um ponto forte, um ponto fraco ou uma ameaça. Por exemplo, o Plano Estratégico aparece, ao mesmo tempo, como uma força e uma fraqueza. Por outro lado, não há informação sobre as medidas a implementar no sentido de melhorar os pontos fracos, nem de minimizar o impacto das ameaças no sector da agricultura biológica.

No tocante aos objetivos, há referência ao “objetivo geral de conseguir a médio-longo prazo que a Agricultura Madeirense seja maioritariamente realizada em Modo de Produção Biológico (na ilha do Porto Santo, a 100%)” e a seis objetivos específicos. No tocante ao “objetivo geral”, como não se define concretamente o ano em que será atingido, trata-se de uma mera intenção política que não pode ser avaliada. Prosseguindo a análise, constata-se que apenas o primeiro e o sexto “objetivos específicos” contêm metas que permitem avaliar os resultados alcançados, mas os restantes quatro são, mais uma vez, meras intenções políticas que não podem ser avaliadas.

Por fim, a informação sobre a avaliação dos resultados resume-se a um único slide relativo à vigência e revisão periódica do plano, mas não indica nem o período de vigência do plano nem especifica o processo de revisão anual. Acresce que, se os objetivos definidos são, na sua maioria, intenções sem indicação de metas anuais, que tipo de avaliação poderá ser feita?

Na verdade, nenhuma, pois a “praga do Powerpoint” está tão disseminada na Secretaria da Agricultura que não resta outra solução senão importar mais uma “vespa parasitoide” para combater esta praga que ameaça dizimar a agricultura madeirense.


“Nós temos um plano estratégico. Chama-se fazer as coisas”, Herb Kelleher


¹ “Plano Estratégico para o Maracujá”
http://www.madeira.gov.pt//Portals/9/Images/Imprensa/PE%20MARACUJA%20SITE%20SRAP.pptx
² “Plano Estratégico para a Anona”
http://www.madeira.gov.pt//Portals/9/Users/014/14/14/Plano%20Estrat%c3%a9gico%20ANONA%20MADEIRA%20SITE%20SRAP.pptx
³ “Plano Estratégico para Agricultura Biológica”
http://www.madeira.gov.pt//Portals/9/Users/014/14/14/PE%20AGRICULTURA%20BIOL%c3%93GICA%20SITE%20SRAP.pptx


8 comentários:

Anónimo disse...

É tudo em cima do joelho, tudo para inglês ver e vilhão votar.

Anónimo disse...

E a politica da fotografia
Nao há um projecto que seja aprovado em 2 anos
Continuem a ignorar a agricultura veremos se vale 2 % do pib nas próximas eleições

Anónimo disse...

A diferença é que o anterior presidente sabia o valor da agricultura enquanto que o actual esta se marimbando e a prova esta a frente dos olhos nomeou amigos para congelar o sector

Anónimo disse...

Bando de ingratos.
Então um powerpoint não é um plano estratégico?
Claro que é. Digo mais, hoje em dia são poucos os agricultores que vão para a terra sem projetor e tela.
Tal é a eficácia dos powerpoints da Agricultura que já nem é necessário usar a enxada: Coloca-se a tela amarrada na parede do poio, projeta-se lá o slide estratégico com um plantação de maracujás e toca a se deliciar com a paisagem.
Os técnicos estão no terreno é para alguma coisa, para dar formação em projetar na tela, na parede, na beira da cerca, no palheiro e mais.
Antigamente o que havia era uns homens que ajudavam a pulverizar pesticidas e tal - gente atrasada.
Não eram técnicos no terreno (by Humberto) - invisíveis!
Uma análise Swot sem prazo é mais flexível - pode ser projetável.
Também, produzir castanhas, peros e mel de abelhas são coisas do passado.
Modernizem-se,
!

Anónimo disse...

Queria dizer: Seixas muito sibilino.

Anónimo disse...

Um secretário que não percebe nada do assunto, de que é que estavam à espera. O diretor regional não pode fazer tudo.
E plano estratégico para a castanha, não há?

Luís Calisto disse...

Comentador das 14.22
Não é desfazer por desfazer, mas penso que o salto a sério teria de ser com a imagem na tela do poio já em 3D. Para não perdermos tempo e dinheiro com um desnecessário estágio intermédio.
Sempre os intermediários a obstaculizar os circuitos da agricultura!

Eu, O Santo disse...

Muito bom, senhor Vitorino.