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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Notícias do Apolo


Exclusivo para quem não é de intrigas

A MADEIRA FINALMENTE SUBIU AO NÍVEL DE VIDA DO CONTINENTE... EM MATÉRIA DE IVA

Milagre: a guerra câmara-governo esteve de folga na manhã desta segunda-feira. Mas, no resto, as notícias são de fugir.

As conversas de hoje no café começaram mal. Neste sentido: ninguém está com disposição nesta fase deprimente para tolerar humor ou ironias sociais. Mas aquele bancário chato, com uma vida agarrado a letras, cheques sem cobertura e alguns desvios, desatou a gracejar com este agravamento de vida por via dos impostos acrescidos. Só porque ele tem a sua reforma garantida e portanto pouca diferença lhe fazem mais 5 ou 6 cêntimos nas latas do gato.

* Branqueamentos - "Pelo menos acaba-se a queixa de que andamos sempre abaixo do Continente", gozava o homem com os poucos cabelos tão branqueados como certos movimentos na banca. "Com o IVA a 22%, subimos para um patamar que nem os continentais nos batem."
O empregado de mesa, que esperava a ordem para os cafés, arregalou-se e, usando da confiança de dezenas de anos de convívio, não resistiu: "Desculpe, mas se é para ser correcto, ainda estamos a 22 e eles a 23."
Logo o bancário, com o sorrisinho 'sacana' dos tempos em que impingia créditos aos pacóvios da classe média alta para carros, casas e viagens, desgraçando-os até ao fim da vida, riu-se mais uma vez: "Homem, se formos pela perfeição dos números, então aquilo que pagamos pelos transportes dos Sousas atira o IVA, por assim dizer, para uns 30%!"
E ria-se com vontade, o javardo - perdoem-me a expressão, mas isto é segunda-feira e tenho compras inevitáveis a fazer pela nova tabela fiscal.

A lavagem de roupa suja desencadeou-se logo a seguir  com tão vertiginosa sequência que não apanhei metade das historietas e mesmo assim cada uma delas pelas pontas. Tudo, evidentemente, de fazer arder as orelhas do 'outro' que está no Porto Santo a fazer férias a 20 euros diários nas casas do erário. Só não lhe ardem as orelhas porque é um desgovernante que julga não ter motivos para pudor.

* Trabalhar sem receber é mal menor... - Contou a professora reformada o caso dos trabalhadores de uma padaria em Santo António que suplicaram a um sindicalista: "É verdade que não recebemos há 6 meses, mas não digam nada. Se dizem, então é que perdemos o trabalhinho."
Bonita lógica...

* Despeçam-me urgentemente! - Um tipógrafo dos velhos tempos trouxe à baila uma história que tem um par de dias apenas. É o caso dos funcionários daquela empresa na Rua da Carreira que pediram encarecidamente: "Despeçam-nos já, porque daqui a dias tiram-nos o direito a subsídio de desemprego!"

* Despedimentos no supermercado - Falou-se, de enfiada, do seguinte: sexta-feira passada, um grupo detentor de algumas grandes superfícies na Região interpôs um processo para despedimento de 100 trabalhadores... e nada se ouve sobre o alarmante desenlace. Aliás, estes 100 seguem-se a outros e prenunciam mais umas centenas de desgraçados que ficarão sem trabalho. E tudo silenciosamente.

* Calotes do governo fazem desemprego - Não sei com que bases, mas outro cavalheiro que passa mais tempo na esplanada do que no emprego (cada vez percebo menos do mundo laboral) adiantou a novidade de que a Securitas, com 400 trabalhadores, tenciona abandonar a Região por impossibilidade de continuar a laborar... já que o governo há séculos não lhe paga as dívidas.

* Horário de desdobramento - Outro crítico: "A Horários do Funchal até há pouco ainda não tinha pago o subsídio de Natal, desconheço se já o fez ou se ainda existe sequer tão primitivo pagamento nessa empresa." Será?

* Advocacia em crise - Os advogados - é um deles a intervir depois de abatida a chinesa clara - estão com os escritórios vazios de clientes. Isso de trabalho burocrático em contratos-promessa ou contratos de compra e venda 'foi chão que deu uvas'. Hoje ninguém consegue vender nada. E ninguém está interessado em querelar, ao preço a que a justiça está em plena crise.

* 270 advogados no governo - Porque era preciso satisfazer clientelas, existem hoje, ao que garantiu esta manhã um contínuo da Função, 270 juristas ao serviço do governo regional. Só na Secretaria do novo delfim jardinista, Manuel António, são 50. Evidentemente, candidatos ao desemprego, pelo evoluir da situação.

* Garcês (ainda mais) 'à rasca'... - Ventura Garcês foi agraciado com a oferta de 10 desses advogados, ouvi também à mesa. Disseram ao homem das Finanças que lhes arranjasse um canto na Secretaria. Diz quem sabe que o secretário chora a sua sorte, já que, ainda por cima, lhe couberam causídicos habituados ao 'fare niente'.

* A Região desconhece o que tem - Como disse acima, o ritmo das notícias do Apolo, hoje, foi alucinante. Outra: descobrindo que ninguém conhece o real património da Região, só agora decidiram dar formação no tipo de registos competente para ultrapassar o problema. Um desnorte que, do mal o menos, ocupará durante algum tempo alguns juristas tresmalhados. É que o governo desconhece de todo que raio de património possui a Região. E as câmaras a mesma coisa.

* Insolvências individuais - Um funcionário público, que veio à rua tomar um cafezinho e uma hora depois ainda estava sentado, mete a colherada: além da proliferação de insolvências empresariais, cresce o número de insolvências individuais. A tragédia espreita dezenas de milhares de famílias, diz ele. Responde outro: azar não trabalharem na Função...

* Classe média-alta pede esmola! - Eu próprio já me sentia mal de não aparecer com uma achega. Então contei o que ouvi atónito, há dias: disse-me um alto dirigente partidário que a situação da classe média e média-alta não está difícil, está impossível. Pessoas bem colocadas na vida que sempre ajudaram o partido dele a constituir cabazes de compras para oferecer aos pobres e aos sem-abrigo... são essas pessoas que estavam  muito bem colocadas social e financeiramente, são elas a telefonar agora ao dito dirigente perguntando se não podem levar um cabaz para casa...
Deixei os circunstantes da concorrida mesa a olhar uns para os outros e quase corri para a minha volta higiénica no aterro da Avenida. 

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