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sábado, 14 de janeiro de 2017

Opinião


INVESTIMENTO PRODUTIVO


Gaudêncio Figueira


É verdade que as melhorias financeiras sentidas pelas pessoas, resultantes das alterações introduzidas pela “geringonça” no sistema financeiro, têm pés de barro. Já todos ouvimos os adversários da “geringonça” alertarem para a falta de investimento. Não dizem, mas subentende-se, investimento produtivo. Aqui começa a confusão.
É como o dono da padaria faz para saber a que preço vende o pão, um bem de primeira necessidade. No passado o governo tabelava os preços mas, reduzida a fiscalização, a padaria baixava o peso, logo, o preço subia. Por um lado, o enganado Zé nem dava conta que o pão subira, por outro, com esta habilidade, o governo viabilizava, economicamente, a padaria. Mas pior que estas “sociedades” do passado, por quotas, digamos assim, são as actuais Sociedades Anónimas Desportivas. Na padaria pagava-se a água e a luz – bens fornecidos por entidades públicas – gastas no fabrico do pão. As Sociedades Anónimas Desportivas, admitindo que pagam água e luz, ainda recebem generosas ajudas para promoção de espectáculos desportivos. Alimentando as emoções das pessoas, dirigentes políticos e desportivos, em entendimento perfeito durante anos, retira(ra)m do Orçamento Regional – cuja receita é os impostos que pagamos – maquias chorudas. Este ano, após redução das verbas gastas nos tempos áureos em que se investia na “bola” para tirar os jovens da droga, balela em que ninguém acreditou, ficaram 4 milhões de euros, para a promoção de espectáculos futebolísticos. Vivendo em conúbio, políticos e dirigentes desportivos, têm discursos complementares. Os dirigentes desportivos, com “o-meu-clube-é-melhor-e-maior-que-o-teu” galvanizam as emoções dos adeptos. Ouvimos há dias o treinador do Vitória de Setúbal dizer que a Câmara ajuda o clube. Aqui, foram três clubes, para que todos os adeptos ficassem contentes. Foram votos e mais votos. Agora, mal habituados, uns dirigentes desportivos não querem reduções de verbas, um deles – CSM – quere-as todas para si. A “briga” é pública e notória.
Pior, muito pior do que aquilo que ficou descrito, são os investimentos inúteis e geradores de mais despesa. Falo-vos concretamente do aterro da avenida do mar. Ao investimento, propagandisticamente, alcunhado de cais oito, rebaptizado por mim em “cazoito”, porque o belo transatlântico, sacador de votos aos eleitores incautos, não atracará ali, juntam-se as despesas necessárias à limpeza dos inertes que o mar depositou, e vai continuar a depositar, naquela foz. Comecei por vos falar de um pecadilho cometido por uma Administração Pública que não estava sujeita a escrutínio popular. Hoje, como acabaram de ver, estamos bem piores. Tudo se faz com dinheiro de fartura para ganhar eleições e depois nós pagamos, dormindo na rua e passando fome. Procurem saber por que razão os adversários da “geringonça” não nos falam disto.  

Situo este texto no 24 de Abril, quando o pão tinha preço tabelado, e a tensão social era forte. Passei, em seguida, à fase em que nunca faltava dinheiro. Ele acabou. Disse-o o ex-Pres. do Governo. Ao Presidente em funções nunca lhe ouvimos, de forma peremptória, tal afirmação, nem anunciar explicitamente, medidas que adaptassem a vida colectiva à nova realidade. Andam muitos milhares de madeirenses zangados e desorientados com tudo isto. A propaganda que, há anos, esconde a realidade aos olhos dos eleitores, continua activa. Mas já é ineficaz.
A desagregação social a que se assiste, reclama cautelas. As mesmas causas costumam dar os mesmos efeitos. Foi num ambiente de descrença colectiva que, nos anos 30, na Alemanha, trabalhando no anonimato, Hitler e seus sicários se impuseram ao povo. A leitura de jornais e redes sociais, a quem não quiser enterrar a cabeça na areia, assusta a analogia. 

5 comentários:

Eu, O Santo disse...

Excertos de Adam Smith em "Theory of Moral Sentiments" (o livro que ele considera como sendo o seu melhor):

"There is, however, another virtue, of which the observance is not left to the freedom of our own wills, which may be extorted by force, and of which the violation exposes to resentment, and consequently to punishment. This virtue is justice: the violation of justice is injury: it does real and positive hurt to some particular persons, from motives which are naturally disapproved of. It is, therefore, the proper object of resentment, and of punishment, which is the natural consequence of resentment. As mankind go along with, and approve of the violence employed to avenge the hurt which is done by injustice, so they much more go
along with, and approve of, that which is employed to prevent and beat offthe injury, and to restrain the offender from hurting his neighbours."


"Society may subsist, though not in the most comfortable state, without beneficence; but the prevalence of injustice must utterly destroy it."

Não me oponho e até aprovo que os claramente e consistentemente iniquos tenham a devida retroação pela Sociedade.

Fernando Vouga disse...

Nunca é de mais alertar para as tribulações que se avizinham. Voltando o olhar para a Madeira, o perigo espreita às nossas portas, em blogues de aluguer, em intervenções no Fenix, em entrevistas na comunicação social. E o caminho está livre, com a governação que temos. Pode até ser excelente, mas ninguém acredita nela.

Jorge Figueira disse...

Meu Caro Fernando, acreditaram nas frases demagógicas no género deixem o dinheiro comigo, agora não hesitarão em aplaudir um D. Sebastião que, saindo do caos social, lhes prometa, novamente, o céu na terra.
Nestas coisas quem avisa amigo é. Porém diz-me a experiência que por aqui só medre o adágio: verdades ditas fora de tempo e o pregador vai parar à prisão.
Resta-me acrescentar que, apesar de tudo, o alerta que deixo ainda vem a tempo, mas como preveni relativamente ao Klauss e ninguém levou a sério, tenho razões para duvidar.

Anónimo disse...

Já nem sei o que diga. De tão superior, inculto e pouco exigente que é o nosso povo, nem me espanta que apareça o D. Sebastião cá do burgo, com as mesmas receitas, as mesmas balelas, etc. No fundo com vinho seco e espetada, o povo lá vai.
Talvez o único senão para o reaparecimento do dito seja a falta de dinheiro, e sobretudo de crédito.
Como o Dr. Gaudêncio bem sabe, o D. Sebastião do Quebra Costas não sabe governar sem desafogo. Não há obras para inaugurar, e espetadas para o povo degustar.
Valha-nos ao menos esta minudencia da crise.

Anónimo disse...

Eu também achava que o dr. Gaudêncio era um ressabiado. Acreditei que naquilo que li contra ele nos comentários que no dn e, também aqui, lhe faziam.
Ultimamente começo a acreditar naquilo que ele escreve. No Fénix os anónimos a insultá-lo já não aparecem.