PARA QUANDO UM DEBATE ENTRE OS DELFINS?
Mais uma sessão de depoimentos necessariamente repetitivos, esta noite na RTP. Muita paciência têm os candidatos à liderança do PPD-M para servirem de relógio de repetição. Deixem-nos debater, a ver se descolam uns dos outros! Isso é para esclarecer ou para cumprir calendário?
Os responsáveis da RTP-M tiveram o bom senso de não chamar debate, mas sim "Directas PSD-Madeira", ao que se passou esta noite em antena. Porque, realmente, se debate houve, foi cada um dos candidatos à liderança laranja a debater com o pivot Gil Rosa, mas ainda assim um debate extremamente afável. Não fora Miguel de Sousa aplicar em estúdio, aqui e ali, o estilo que aplica no quotidiano, e os presentes nem dariam pela presença uns dos outros.
Mas é uma forma de apresentar programas para dizer que se fez um debate. Aliás, de fazer "Directas PSD-Madeira".
Argumenta-se na Levada do Cavalo que 5 candidatos a rebater ideias uns com os outros é inviável, e que o melhor é imitar o modelo americano das eleições presidenciais.
Enfim! (como diria um comentador do Fénix, citando Gil Rosa)
Não queremos ser desmancha-prazeres. Mas o programa desta noite quase podia ser apresentado como uma montagem de blocos incluindo 2 minutos de cada participante, e separados, os blocos, por uma voz off. Nem sequer se dava maçada àquele magote de apoiantes dos 5 que lá estiveram, para dar palmas no princípio e no fim. E não se criavam expectativas para ficarmos à espera do milagre. Ou seja, da realização de um debate. Um debate com todas as letras. Sem medos.
Caros senhores! Os delfins, embora às vezes não pareçam, integram o mesmo partido. Logicamente, perfilham a social-democracia. Que se saiba, nenhum virou para o comunismo ou para o salazarismo. Logo, não diferem muito nas soluções para problemas de fundo que precisam de ser resolvidas na Madeira.
É verdade que não vêem todos da mesma forma. Ali, como Sérgio Marques, Miguel Albuquerque e Miguel de Sousa, há quem ache ridículo querer que o Estado venha agora pagar a Educação e a Saúde que Jardim regionalizou para dizer que mandava em tudo - e que agora pretende passar a factura das despesas para Lisboa. Como também há quem diga, como Manuel António, que Lisboa deve tratar os portugueses todos por igual - pagando a Saúde e a Educação à Madeira. Ignorando, claro, que foi a Madeira, ou melhor, o PPD-M, a querer regionalizar por regionalizar. Há ainda quem ache, caso de João Cunha e Silva, que deve ser a Madeira a mandar e a pagar, mas talvez não, ou sim, ou então antes pelo contrário.
Há divergências em várias matérias, pois há. Mesmo nas fórmulas milagrosas de cada um para pagar a dívida regional cavada na voragem da loucura desenvolvimentista em que todos eles embarcaram.
E há mais divergências. E acordos. O CINM. As estafadas relações com Lisboa.
Já não se pode ouvir. O debate que esperávamos resultou num amontoado de depoimentos gravados à tarde - sim, as 'Directas do PSD' não foram em directo - amontoado esse animado aqui e ali por iniciativa dos candidatos. Que, no que lhes foi pedido, estiveram à altura. Todos eles.
Vamos imaginar que os militantes do PPD-M estavam à espera de um debate-debate para verem esclarecidos pontos importantes da vida do partido. O que não é desinteressante para os telespectadores em geral, de resto. Pois o que ficaram a saber do ponto de vista partidário não foi puxado pela televisão. Saiu dos candidatos. Que contam uns com os outros ganhe quem ganhar - quase todos o disseram. Que vencer as regionais é o objectivo. Por maioria absoluta, disseram eles.
E insistimos nós: as eleições de 19 de Dezembro são para escolher novo líder para o partido? Não se percebeu isso.
Ninguém falou de Jardim, repararam? Ninguém perguntou pela situação esdrúxula criada pelo líder ainda em funções neste processo de sucessão. Uma situação de bradar aos céus e digna de antologia como case study. Ninguém perguntou pelas ideias de cada um sobre formas de recuperar a dinâmica vivida em tempos na Rua dos Netos. Ninguém falou da necessidade - ou não - de renovar aparelhos intra-partidários, se os velhos já deram o que tinham a dar ou se vão continuar em funções apoiados na bengala. Nada ouvimos sobre o bloqueio que Jaime Ramos, certamente de mão dada com o chefe, impõe ao processo eleitoral interno. E, afinal, Jaime apoia este ou aquele candidato? E a vergonha do regulamento para uso das sedes?
Sim, os candidatos têm abordado avulso essas questões partidárias. Em artigos de jornal e em posts no facebook. Pois é. Mas os filiados votantes e os madeirenses na sua globalidade desejariam ver os potenciais líderes discutirem estas questões cara a cara, olhos nos olhos. João Cunha e Silva e Miguel de Sousa travarem-se de razões diante dos militantes para se perceber o que é que os separa. E por aí adiante.
Sim, sabemos que daqui a um mês há mais e que se calhar discutirão então os assuntos do partido. Já estamos em pulgas por mais um xarope.
Agora para os Delfins. Quase começamos a dar razão à teoria de que alguns se candidataram, não para ganhar a liderança, mas para continuarem em palco, no pós-Jardim. O que não é grave. É uma estratégia. Mas, se permitissem uma opinião, diríamos que, pelo andar da carruagem, não têm por que abdicar da luta pela vitória. Com programas televisivos como o desta noite, dificilmente algum conseguirá descolar. Para a frente ou para trás. E então se não vos confrontam perante os telespectadores com a realidade que é todos terem beneficiado de um regime que agora parece não conhecerem de lado nenhum, aí podem entrar no estúdio a pensar na morte da bezerra que dá igual.