REBELDES AO PODER
Aqueles que Jardim tratava como 'ressabiados' e 'futuros desempregados políticos' vão substituí-lo no governo provavelmente a 20 deste mês
Em certa medida, o caso da maioria absoluta depende ainda das respostas que o Tribunal Constitucional possa dar aos recursos apresentados relativamente aos resultados das eleições de domingo. Mas não restam dúvidas de que Miguel Albuquerque será presidente do próximo governo regional.
Definitivamente, dissipou-se o presságio propalado por Jardim do 'desemprego político' para Miguel Albuquerque e seus mais directos colaboradores social-democratas.
O ora chefe cessante tentou todos os recursos para travar a cavalgada daquele que ascendeu à presidência da Câmara do Funchal graças - já é 'galo' a mais - a um dos inúmeros assomos de arrogância do próprio Jardim. Foi no Verão de 1994: grande chefe, nos vapores do areal, provocou Virgílio Pereira sobre a forma de governar sem dinheiro e o compadre do chefe reagiu ameaçando largar o cargo de presidente da câmara do Funchal. Jardim esticou a corda, como sempre, mas desta vez, quando deu por si, abrira com as suas mãos o pano de um bem iluminado palco para aquele rapazinho ex-líder da JSD começar a sua história de poder.
Miguel compareceu sempre nas horas más dos munícipes, o que abrasava ainda mais o ciúme do chefe, ao mesmo tempo que gerava simpatia popular. |
MIGUEL ALBUQUERQUE não teve um momento exacto em que apostasse consigo mesmo avançar, quando oportuno, à conquista da sucessão no seu partido. As coisas foram acontecendo. Em 2000, o congresso regional no Tecnopólo ficou marcado por duas sondagens de jornais diferentes, publicadas no sábado de abertura, atribuindo ao então presidente da câmara uma confortável margem de popularidade perante os demais delfins do Laranjal. Cunha e Silva queixou-se do 'Fiat 600' e Jardim aproveitou para travar o sucesso de Miguel, facultando a Cunha um 'Ferrari' para transporte ao cargo de vice do governo.
Por essa altura, Jardim zurzia Miguel Albuquerque em sucessivas subidas de tom, sem se preocupar com o aparato público. A rebeldia de Miguel foi crescendo na mesma proporção.
A história é conhecidíssima e está fresca na memória de todos. Quando, em 2012, Albuquerque anunciou a decisão de disputar a liderança do partido, passou a alvo diário dos ataques do chefe. Vedeta de 'revistas de cabeleireiro' e 'futuro desempregado político' foram das mais leves expressões com que Jardim o quis tachar.
O delfim rebelde impôs a sua vontade quanto à realização do congresso na data certa. E também exigiu eleições internas, que Jardim venceria pela chamada 'unha negra' e beneficiando de ajuda celestial.
Com os dois protagonistas cada vez mais distantes um do outro, Albuquerque ganhou a batalha das internas em finais do ano passado, já sem Jardim em cena, e acaba de triunfar nas regionais. O que significa que aquele que Jardim julgava um 'futuro desempregado político' entrará dentro de dias nas Angústias enquanto o adivinho falhado abandona finalmente o palácio.
Note-se que, entretanto, Albuquerque abriu a sua própria empresa, na área do Direito Comercial. Já que o ex-'patrão' falava em 'desemprego'...
Note-se ainda que esta reviravolta só se tornou possível porque o conselho de jurisdição do PSD, presidido por José Prada, negou a Jardim a 'ordem' para expulsar Albuquerque do partido. Prada impôs-se com coragem ao chefe e evitou um 'golpe de teatro' que daria outro caminho, bem diferente, aos acontecimentos. Bem vistas as coisas, as posições desassombradas em público de Albuquerque, analisadas por outro conselho de jurisdição, seriam certamente razão para um fatal processo de expulsão.
RUBINA LEAL rebelou-se formalmente quando Jardim, em Maio de 2012, entendeu exigir-lhe, em plena comissão política, que se definisse em matéria de lealdade: se estava com a comissão, ou seja, com ele, Jardim, ou se estava com Albuquerque, na altura já em campanha interna. Rubina respondeu de nariz arrebitado: "Por que não faz a mesma pergunta aos outros que estão aqui?" Ora, a convocatória para as reuniões seguintes da comissão política já não lhe chegaram às mãos.
Em Setembro de 2012, Rubina Leal avançou para a demissão da CPR, passando a ser tratada por Jardim no JM, em artigos não assinados, por 'Rubina Vargas' e 'Mata-Hari da câmara'. A então vereadora declarou-se em oposição clara à liderança do chefe e mais do que assumida apoiante do novo projecto em curso, o de Albuquerque.
Entretanto, contrariando aquele mau agouro do 'desemprego', Rubina, de acordo com as suas habilitações profissionais, entrou em funções como adjunta do director do Estabelecimento Prisional do Funchal, instituição fora do âmbito público regional.
Dentro de pouco mais de duas semanas, assume as funções de secretária dos Assuntos Sociais, para desgosto do chefe cessante.
PEDRO CALADO obviamente apanhou 'por tabela'. Jardim não escondeu quanto lhe desagradava o apego do vereador funchalense ao projecto de Albuquerque. Aríetes das Angústias procederam a ataques descarados, mas Calado reagiu sempre, sem temor. Quanto a desemprego... trabalhou nos últimos tempos de vereador para o Grupo Sá e depois disso entrou ao serviço das empresas de Avelino Farinha. Mas agora terá 'emprego político' e logo como secretário regional de Finanças e Desenvolvimento Económico.
JORGE CARVALHO foi desconsiderado como tantos foram, quando o presidente do governo puxava galões e decidia mandar em tudo, ultrapassando os quadros intermédios. Só que ali não funcionou assim. Jardim entendeu brilhar com subsídios aos maiores clubes desportivos, à custa das parcas verbas do orçamento prometido a Jorge Carvalho para a sua governação da direcção de juventude e desporto, que acabava de lhe ser entregue. A proximidade do 'quase' director regional pelo projecto de Albuquerque era conhecida. Jardim insistiu na ultrapassagem? Então, batimento de porta cheio de ganas por parte de Jorge Carvalho e participação a rosto descoberto na campanha de Albuquerque. Aí está o novo secretário regional da Educação.
HUMBERTO VASCONCELOS é um dos casos mais curiosos desta tão atribulada viragem, no PSD e no governo regional. Esteve e continua no centro de uma espécie de conspiração contra Jardim. Afinal, Vasconcelos é noticiado como membro do novo governo de Albuquerque quando se encontra na condição de 'expulso' do partido.
Neste caso, a guerra com Jardim vem de trás. Humberto desvalorizou a importância de uma 'representação privada' de Jardim na Câmara de São Vicente, autarquia a que o mesmo Humberto presidia. Desvalorizou, ficou com o destino traçado. Em 2009, não foi reconduzido a nova candidatura. O PSD fez eleger Jorge Romeira. Para 2013, a caminho das autárquicas de Setembro, a crispação interna no PSD apimentou-se ainda mais com a situação no norte da ilha. Humberto acusado de fazer o jogo dos Unidos por São Vicente, maioritariamente dissidentes do PSD. Assim, Jardim armou estratagema para o mandar expulsar do partido, enquanto o acusava de ter feito asneira na câmara e de ser maçónico. E a expulsão aconteceu mesmo.
Só que, agora na noite eleitoral de 29 de Março, Miguel Albuquerque anunciou publicamente que Humberto está de volta. E agora vemo-lo indigitado para secretário regional da Agricultura e Pescas.
SÉRGIO MARQUES foi o primeiro membro do PSD-M a contrariar cara a cara uma ordem de Jardim. Aconteceu no conhecido caso das eleições europeias, em Abril de 2009, quando Sérgio decidiu não aceitar o oitavo lugar da lista social-democrata que Lisboa lhe dava para se recandidatar ao PE. Jardim tratou de ofuscar Sérgio e o seu acto decidido, criando para si próprio a célebre expressão de 'Único Importante'.
Muitas oscilações conheceu depois a conduta político-partidária de Sérgio Marques, com destaque para o infeliz episódio da candidatura à câmara do Funchal, em 2013. Nessa fase, o ex-eurodeputado deixou-se levar numa péssima estratégia do chefe. Mas, assim que abriu a corrida à liderança, Sérgio foi dos que mais se demarcaram do estilo arrogante do regime jardinista. E, concluído 'a posteriori' um entendimento com Albuquerque, eis mais um rebelde a chegar a secretário regional - das políticas europeias e dos assuntos parlamentares.
MANUEL BRITO, novo secretário regional da Saúde, nunca foi da linha jardinista, já que sempre considerado próximo do PS.
EDUARDO JESUS, em relação a Jardim, não conheceu mais do que umas 'indirectas' trocadas a respeito de ideias estratégicas para o turismo, área que agora vai tutelar como secretário regional.
SUSANA PRADA não tem histórico no alinhamento ou desalinhamento com o regime musculado de Jardim. É a futura secretária do Ambiente.
Miguel Albuquerque, o rebelde vencedor, envida esforços para que a tomada de posse do seu governo se dê o mais depressa possível, talvez no dia 20 de Abril, uma segunda-feira.
Simbolicamente, será um momento para troca de empregos, desempregos e ressabiamentos, entre quem entra e quem sai.
Simbolicamente, será um momento para troca de empregos, desempregos e ressabiamentos, entre quem entra e quem sai.
27 comentários:
E o que acontece aos verdadeiros desempregados políticos? Aos deputados que não terão subsídio de reintegração, aos directores regionais, aos acessores, aos empregados da ALM, aos presidentes das empresas públicas, ao meio chefe e aos seus empregados. Vai haver uma verdadeira renovação? Há gente que anda há muito tempo em cargos políticos e que têm de ser renovados. O Miguel Albuquerque tem de reforçar a sua posição no PSD e no Governo Regional.
Sara André na Juventude. Que fome...
"Note-se que, entretanto, Albuquerque abriu a sua própria empresa, na área do Direito Comercial."
Empresa?!? Convém ter mais precisão nos conceitos. Senão até parece que o futuro sr. Presidente do GR da RAM andou a violar o Estatuto da Ordem dos Advogados e a praticar procuradoria ilícita, que é crime. Ou andou mesmo? Esclareça-nos.
A trafulha da Sara, que em todo o lado onde passa deixa um rasto de confusão, já sabe enviar mensagens sem ser de bajulação a Cunha e Silva?
E o simbolismo da tomada de posse a 25 de Abril?
ja aumentou 2 secretários e criou 2 sub-secretarias,... não entendo esse aumento para mais o AJJ tinha vindo a emagrecer o governo.
A Educação da Madeira volta a estar entregue a um professor de ginástica? É a educação de excelência, melhor digo, educação de "eiscelência"...
Fico-me por aqui.
A confirmar-se o governo que o Jornal da Madeira tem vindo a entrevistar, caro Dr. Albuquerque, a sua renovação é uma mera figura de estilo. Utilizar o JM para anunciar um governo não só lhe fica mal, como retira abruptamente o capital de esperança que lhe foi confiado a 29 de março. Cuidado...
É isso mesmo: por mais que queiram encher certos currículos com coisas juvenis, como associações de estudantes, tudo se resume a um professor de ginástica bem relacionado. Assim vamos... nascer pobre é infelicidade, mas casar pobre é burrice.
Caro Luís Calisto
Enquanto Albuquerque não se mostrar, clara e insofismavelmente, contra a situação corrupta e vergonhosa do JM, a sua credibilidade estará ferida de morte.
E a cultura.....
O Clode já está a denunciar a estratégia... HOJE escreveu um artigo de opinião no DN. Mal sabe ele que o Miguel está mais virado agora para o JM.....
De facto a Sara André continua a fazer muita confusão...mas é na cabeça de muita gente. Deixem a rapariga sossegada que Cunhas, Raminhos, Jardins e afins já a afastaram da politica, desde que esta se atreveu a proferir as palavras tabus, na politica da MaMadeira: Corrupçao, Pobreza, Violência, igualdade, justiça...
A partir daquele compasso de espera em direto na televisão, no dia das eleições, as coisas começaram a correr mal e a revelarem-se. A cena tétrica fez lembrar a tomada de posse de Santana Lopes. Depois a falta de posicionamento claro do PSD-M perante a trapalhada do resultado das eleições retirou de imediato a aura à vitória e revelou que a nova praxis da renovação é na verdade um flop político. Não há renovação. O mind set é o de sempre. A utilização do JM para apresentar a composição do Governo foi a confirmação do que muitos suspeitavam e já sabiam. Como estratégia de teste foi uma manobra jardinista. Quanto aos nomes... enfim... como já li aqui, o Secretário da Educação anunciado, até pode ser um bom escuteiro... só que não chega! Era preciso alguém com curriculum à prova de bala, não um respeitável -mas limitado- professor de ginástica e dirigente associativo. Vai ter que lidar com uma das classes mais difíceis: os professores. Na Saúde a situação não é muito melhor. Não se compreende uma nomeação que despreza JFN, um madeirense, em prol de alguém de fora, ziguezaguiante, que vem reformar-se. Sobre o nome adiantado para a Agricultura e Pescas nem vale a pena perder tempo. Mas pior, muito pior, é o messias anunciado para o turismo. Que equívoco, meu Deus! O marketing cria mesmo necessidades, só que não resolve problemas. Os problemas da RAM vão agudizar-se. MA ficará para a história como o "Santana Lopes" da Madeira. Não é o Passos Coelho da Madeira, mas o Santana Lopes da Madeira.
Para a educação, mais um flop que pensa com os pés
É a dialéctica democrática e o cosmopolitismo de Albuquerque no seu melhor para disfarçar as insuficiências. Em que dia fica pronta a nova piscina da Quinta da Vigia?
Tem piada essa do Santana Lopes da Madeira. Eu até sei quem é o Henrique Chaves da Madeira.
Era bom ter feito mais um mandato para ficar "reformada" aos "trintas anos". Tadinha, não deu... Ops. Cumprimentos de Cadiz.
Subscrevo todas as palavras.
Ao fazer de conta que não aconteceu nada de grave com a trapalhada dos resultados, Miguel Albuquerque e Sérgio Marques bem podem guardar a reforma do sistema político bem guardadinha e não voltarem a falar do assunto... É nestes ocasiões que se faz a prova dos nove ecse separam as águas. Também me causa muita estranhesa que Manuel Brito alinhe nesta "lixiviaficação". Começam como os outros acabaram. É mau sinal!
Se foram esses que a afastaram, não sei. Mas que foram esses que a puseram, isso todos sabemos. Há nomes que ficam mal junto de palavras como igualdade e justiça. A falta de vergonha não tem limites. PS: não sabia que tinha conhecidos em Cadiz.
Só dois que poderão trazer algo de novo para bem da nossa ...Pedro Calado e a Rubina Leal. De resto só flopes a começar pelo presidente....
Heroís de hoje, vilões de amanhã. Triste sina a de quem faz algo pelos outros. Não têm vergonha de tanto vilipendiarem quem Vos beneficiou a todos e tanto os defendeu?
E o Porto Santo?
Como fica Roberto Silva
E jocelino Velosa?
Pedro Calado rebelde ? na cabeça de quem ?
no sá no AFA ?
rebelde , aguardem que vão ver
Tanto anónimo!?
Afinal o Calado não fica. Isto de falar antes de acontecer dá nisto
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