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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Corrupção, segundo o Santo


CORRUPÇÃO (continuação)

“O que põe em perigo a sociedade não é a grande corrupção de alguns, mas o relaxamento de todos.”
Alexis de Tocqueville, A Democracia na América – Sentimentos e Opiniões 

Continuo a série prometida discorrendo sobre os fatores que promovem a corrupção, e a correlacionam com a aplicação das leis e a  incompetência.

Ocorrência

De acordo com estudos, a corrupção tende a ocorrer quando:

 O corrupto sente uma necessidade ou ambição que pode ser satisfeita com recurso a Dinheiro; ou medo pode ser evitado com Dinheiro; 

 E existe uma oportunidade (i.e., os procedimentos permitem que um indivíduo ou um pequeno grupo de indivíduos escamoteie a verdade; ou esconda as irregularidades a nível de procedimentos sem que mais ninguém o saiba ou ninguém muito provavelmente venha a descobrir. Esta última situação ocorre quando mais ninguém se interessa pelo que ocorre na organização ou Estado).  




Depois de executada uma primeira corrupção não punida, surgem novos medos e necessidades, pelo que há tendência a manter o comportamento criminoso.
A questão da experiência no cargo manifesta-se na execução da corrupção: quanto mais experiente mais difícil será detetá-la.

A corrupção e as leis

A corrupção leva a que as leis do país deixem de ser respeitadas. 
O nível de topo da hierarquia corrupta faz por ignorar as denúncias com provas de ilegalidades, inclusive as que eles não participaram ativamente. A razão desse ignorar é a suspeita de que se forem 
investigadas as ilegalidades a fundo sejam descobertas as suas atividades corruptas (pois os corruptos de níveis inferiores podem ter provas ou fazer alegações que os incriminem). Isto sucedeu há uns anos num julgamento televisionado em Angola.

Hobbes descrevia (em Do Cidadão) este comportamento como “Tu não me acusas e eu não te acuso!”
Mais ainda, o incumprimento da legislação vigente tende a ser generalizado a fim que:

 O subordinado se dedique a satisfazer os desejos do dirigente, ao invés de cumprir a lei;

 Nenhum subordinado sinta confiança em fazer denúncias sobre o incumprimento da lei, por esta situação ser generalizada.

A corrupção e a incompetência

Na minha opinião, a corrupção provoca a incompetência. O corrupto por medo de perder o cargo ou ser acusado de algum crime cria um ambiente de trabalho de assédio moral generalizado:

1. cria uma “capelinha”: não partilha informações com ninguém; só ele é que sabe quais os processos existentes, quem os conhece e, se possível, ele os detém fisicamente.

2. cria um clima de intrigas no Serviço,

3. quer que os funcionários sejam incompetentes, pelo que contrata funcionários inexperientes (dando-lhe imensas tarefas e um clima de facilidade, ou tarefas inadequadas à sua formação e conhecimentos) e os mais competentes são “colocados na prateleira” ou são perseguidos (de modo a que desligarem-se dos seus deveres) ou 
afastados (i.e., são demitidos ou transferidos ou mudam-se suas tarefas…). Neste ambiente, são promovidos os manipuláveis: os incompetentes e/ou corruptos,

4. quer que os funcionários não cumpram as regras e normas, e deseja que cometam crimes para que os possa chantagear;

5.  afasta-se das competências orgânicas partilhadas (i.e., as atribuições orgânicas em que várias entidades têm responsabilidade orgânica ou jurisdicional).

A não partilha de informações (interna e externamente) é para esconder suas corrupções, esconder a incompetência do serviço, potenciar o clima de intrigas, e criar a incompetência dos funcionários.
O Clima de intrigas é para que as informações sobre o Serviço não sejam partilhadas. Essa não partilha de informações provoca decisões erradas (que ele utiliza para chantagear os funcionários), incompetência (pois as lições dos outros não são aprendidas) e impede a evolução dos funcionários (pois as intrigas provocam um desamor ao trabalho e às tarefas, chegando a que os funcionários deixam de estar conectados emocionalmente com as suas tarefas).
A incompetência dos funcionários é provocada para que estes não notem que ele é corrupto e, consequentemente não o denunciem ou chantageiem; para que se alheiem emocionalmente ao trabalho (não se importem com o que se passa no Serviço); e não tenham autoconfiança para indagar sobre os processos e procedimentos da entidade onde trabalham.

A “Capelinha” e o afastar-se das competências orgânicas partilhadas é para impedir que outros externos ao Serviço descubram as ilegalidades 
existentes na sua entidade (as suas e as da incompetência dos funcionários).
No nosso sistema administrativo burocrático, em que para qualquer decisão do Estado são necessários muitos pareceres e despachos, em que 
existe uma sobreposição de competências de unidades orgânicas, realça-se que para haver corrupção é necessária incompetência pois não é 
possível satisfazer os desejos de todos.
Assim, a corrupção cria a incompetência, e a incompetência gera mais incompetência, e a incompetência permite ainda mais corrupção.

Caro leitor, quantas vezes viu no seu dia-a-dia situações caricatas de despesismo incompreensível ou erros clamorosos quase inexplicáveis. 
Muitas dessas situações não foram erros nem incompetência, são faces visíveis da corrupção. Basta pensar quem é que é beneficiado com essas 
situações…

Em jeito de conclusão: a corrupção ocorre quando há necessidade e oportunidade; a corrupção está intimamente ligada à incompetência; e os 
bons são perseguidos tal como D. Quixote dizia: “(…) a virtude é mais perseguida pelos maus do que amada pelos bons.”
Miguel Cervantes, D. Quixote

Eu, o Santo

4 comentários:

Anónimo disse...




Ao fim de 6 séculos de colonização, surge uma iluminada . Deus queira que não tenhamos um aluvião!!!

Anónimo disse...

Se são poucos a beneficiar da corrupção esta é altamente lucrativa para esses poucos e simultâneamente pouco dispendiosa para os milhões que a pagam, conscientemente ou inconscientemente, pelo que estes não se darão ao incómodo de a denunciar. Se a corrupção for generalizada o beneficio para os muitos que nela participam será reduzido e manter-se-á enquanto o sistema económico não se desmoronar por falta de competitividade.

Ao contrário do que escreve o comentador das 14:37, as raciocínios do Santo só são evidentes porque ele os escreveu. 90% das pessoas fariam a mesma crítica depois de o ler mas antes se desafiados seriam incapazes de tirar conclusões supostamente tão evidentes.

amsf

Anónimo disse...

a propósito de corrupção deixaria aqui um facto para reflexão ,embora sem poder afirmar que se trata de corrupção , pode ser simplesmente tontice .
Foi anunciado um cargueiro aéreo entre a Madeira e o continente , assunto da Competência de Eduardo Jesus mas que curiosamente quem conduz é Umberto Vasconcelos.
as datas têm sido sucessivamente adiadas , falando-se agora na necessidade de um subsidio mensal que deve rondar os 500.000,00€.
paralelamente nas redes sociais ao abrigo do anonimato surgem ataques violentos contra Eduardo Jesus apelidando-o de Edu 60 na insinuação que após as eleições ira para a rua.
Que interesses é que Eduardo Jesus obstaculizou ? será os do grupo que agora á força consegui introduzir no governo um Secretário Regional ?

Anónimo disse...

Iluminado ou não, a verdade é que tem fundamento o que escreve, embora se tenha de admitir da retórica patente, a roçar alguma demagogia. Contudo, será inportante reter o principal do que o denominado Santo escreveu neste fórum. Tendo por presentes alguns dos conceitos elencados, aproveitem para fazer um exercício de transposição para o que vão observando e lendo por parte da governação, e por governação bão se restrinja ao Governo como de forma abstrata a ele nos referimos. Atentem sim em todos quantos administram a coisa pública, desde um funcionário de uma qualquer repartição aos mais altos magistrados da Nação. Em cada degrau, tropeçarão inevitavelmente em alguma ocorrência, seja ela premiditada ou intencional, ou meramente a evidência da incompetência. Era assim há seis séculos, não será tão diferente em 2015. Pensem nisso.