JOGOS FLORAIS SEM 1.º PRÉMIO
...MAS HÁ GATO ESCONDIDO
Hoje há debate em 3 canais. O mesmo programa em 3 TVs concorrentes! Está tudo grosso.
Olhamos para o panorama nacional e para o regional e concluímos, com aflição: bolas, ninguém vai ganhar as eleições! Enquanto isso, as televisões todas passam dia e noite a perguntar, a debater e a comentar: Sócrates irá influenciar as eleições? Está bem pensado.
Enchem os nossos televisores toneladas de reportagens em directo à porta de Sócrates disputando uma imagem e uma 'boca' dos comparsas que vão visitar o ex-primeiro-ministro. Até o nosso Velhadas Soares foi atacado ontem por uma jornalista de micro em riste, sem que o homem pudesse balbuciar mais do que um quase inaudível 'sem dúvida'. A jornalista perguntava pela grande importância que poderia ter o apoio de Sócrates a Costa e ao PS. Ouvimos bem a pergunta.
Entretanto, o próprio António Costa é acossado por montes de microfones interessados em saber se o candidato a chefe do governo irá visitar o engenheiro durante a campanha eleitoral.
Passos Coelho também é assediado para comentar a redução da pena de coacção ao mesmo Sócrates, a poucas semanas do 4 de Outubro.
Ao mesmo tempo, há um sem-fim de programas com cidadãos a responder em directo a perguntas relacionadas com os últimos desenvolvimentos - e reflexos na campanha - do caso 'Operação Marquês".
Gastam-se rios de tinta por essa imprensa abaixo com artigos de opinião, reportagens, análise, cartas ao director, tudo centrado no momentoso assunto.
No meio desta tóxica escalada desinformativa, impingem-nos programas com comentadores a reflectir sobre a influência ou não de Sócrates nas eleições legislativas, isto é, programas a falar até à exaustão de Sócrates para analisarem se Sócrates está a ser muito falado neste tempo eleitoral.
Com os media suspensos da decisão de Sócrates sobre o que ele pensa das eleições, decisão aliás já conhecida e que é de apoio a Costa, o País parece borrifar-se para uma récita repetitiva e que deixou de ter piada, ou seja, as eleições. Ninguém merece o voto!
Olhamos para o panorama eleitoral e pensamos: depois da carnificina que fez na função pública e nos pensionistas, na saúde e na educação por conta da troika, em linha com a filosofia do "ai aguenta, aguenta!", a coligação de direita só mereceria a confiança do povo se o povo perdesse o juízo de vez.
Olhamos para o outro lado e vemos António Costa completamente aturdido com as suas próprias contradições, sem uma ideia para um país que se quer moderno, sem carisma e com o estigma de ter roubado o lugar a um Seguro que nem teve chance de ir a votos - e então pensamos cá para nós que aquela gente do PS está de momento sem personalidade para governar isto.
Vemos o PCP e dizemos: estes têm sempre o mesmo número de votos, nem sobem nem descem, portanto não desaparecem nem alguma vez lá chegarão.
Os partidos pequenos, claro, contentam-se com uns lugarzinhos para fazer ruído em São Bento.
Atalhando caminho: então se o povo não quer ninguém, quem é que terá a desejada maioria absoluta, ou mesmo relativa?
Aí está. Estas eleições fazem-nos lembrar aqueles concursos de jogos florais em que o júri chega à hora de designar os vencedores e conclui que não houve nenhum trabalho apresentado merecedor do 1.º Prémio. Note-se que às vezes há dois ou mais vencedores ex-aequo, quando a qualidade dos concorrentes é alta. Mas, como nos jogos florais com fracos concorrentes, estas eleições configuram um caso de atribuição de prémios só do 3.º ou do 4.º lugar para baixo.
Mesmo na Madeira. O povo estará a pensar em premiar em Outubro uma 'renovação' que prometeu aviões baratos e de carga, ferries, ajudas ao agricultor e por aí fora, ficando-se por tarifas aéreas ruidosas, tempo perdido com o bolo do caco e a poncha, calinadas atrás de calinadas e uma lista de candidatos perdida nas raias do surreal?
Ou estará a pender para um PS que se impôs ao anti-autonomista Costa mas faz por trazê-lo cá, um PS que vai decalcando ideias que apresenta desde a I Grande Guerra e que tanto demora a chegar ao povo?
Será então alternativa o PP, que desafiou as simpatias do seu eleitorado - claramente favorável à continuidade de Zé Manuel Rodrigues por aqui, à frente do partido, e Rui Barreto a prosseguir o bom trabalho em Lisboa?
Bem, não estamos a ver o PSD conseguir desta vez nem 3 deputados. Achamos a eleição de Carlos Pereira muito complicada. Como a de Zé Manel do PP. Então, quem vai ser eleito? A rapaziada da camisola verde voltará a surpreender? Zé Manel Coelho terá oportunidade de mostrar o seu despertador no hemiciclo nacional?
Se estivéssemos a falar de jogos florais, também não haveria vencedores na Madeira. Seguro.
Agora, aprofundemos um pouco a situação que temos na lusa Pátria. Continua aquele fartote de Sócrates a entrar pelos olhos e pelos ouvidos do pobre cidadão. Cujo subconsciente poderá influenciar a mão na hora de pôr a cruzinha. Votar num Partido Socialista que está submerso numa onda de suspeitas socráticas, um partido que deu ao País um primeiro-ministro supostamente corrupto e mentiroso?
Perguntamos: contra quem está montada tal armadilha?
Espreite o Amigo Leitor a ver se Passos Coelho e Paulo Portas se queixam do tempo de antena cedido à rábula Sócrates-PS em todas as televisões (que o governo domina).
Passos Coelho está a dar uma lição de sentido democrático, ao não protestar contra tanto protagonismo dado ao rival António Costa nesta corrida eleitoral. |
Hoje temos um debate único entre Passos Coelho e António Costa. Que será transmitido simultaneamente pelos 3 grandes canais generalistas do espectro televisivo nacional. Mas como é que isto lembrou ao Diabo?! Três canais a transmitir o mesmo programa ao mesmo tempo?! Será para obrigar os portugueses todos a aturar aquilo?
Portugal enlouqueceu. Mesmo que venham com histórias de que já se fez este modelo no Qatar ou numa aldeia da Patagónia, é incompreensível.
Alguém terá de ganhar as eleições. Mas nestes jogos florais não haverá a sorte grande da maioria absoluta. A menos que António Costa dê um berro, não com os pensamentos inócuos que tem mostrado, mas para acabar com a rábula encenada pelas televisões do bloco central, para intoxicar e bloquear Zé Povo. Enquanto é tempo.
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