AGÊNCIA DE CONGRESSOS E VIAGENS
Os madeirenses velhos jogados nos ranchitos de Petare já pulam de contentes. |
Sérgio Marques pôs o acento tónico das suas últimas andanças governativas no propalado reencontro da Madeira com as suas comunidades. Uma boa medida na perspectiva dos mais novos. Mas duvidosa para quem, permita-se a vulgaridade, passou 3 décadas a virar frangos.
Nos seus inícios eleitorais, o mentor do jardinismo percebeu que uma forma de triunfar na Tabanca era dilatar a fé e o Laranjal 'in loco', no mundo da emigração. O petróleo e os abastos da Venezuela permitiam, nos tempos de Andrés Pérez, Campins e Lusinchi, mandar sacas de bolívares para a Madeira. Assim como os rands dos Bothas, por influência do directório português pró-apartheid, tinham luz verde para voar sobre o Atlântico até às Achadas e aos Lombos. As famílias que na ilhota recebiam as remessas tinham de ouvir os 'conselhos eleitorais' dos familiares benfeitores emigrados - e tinha-se nas comunidades, devido aos congressos e encontros do então chefe integral, que tudo o que não fosse PPD era comunismo.
Para tomar parte nos simpósios e congressos realizados no Funchal, vinham elementos das comunidades aos montes, obviamente escolhidos a dedo pelo regime então em fase de consolidação no Funchal, com estadas em '5' estrelas muito diferentes das 'vivendas' onde eles ficaram instalados pelo menos nos seus primeiros tempos lá fora.
Ouvimos agora mesmo a um desses dinossauros congressistas: os delegados devem continuar a ser nomeados, pela competência.
Pudera! A serem eleitos, acabava-se o turismo para quase todos os 'nomeados'.
Na realidade, a "aproximação" às comunidades nunca fugiu aos propósitos eleitorais. Os congressos nunca ligaram a menor importância aos sentimentos das exploradas comunidades. O sua excelência fazia as suas vias-sacras por Joanesburgo, Cabo, Caracas e Barquisimeto, tratava do que interessava com os engravatados bem colocados no regime de lá e usava as influências deles para fazer comícios eleitorais aos "emigrantes do garrafão e da espetada", como ele dizia na altura - metendo-lhes medo com o comunismo que ameaçava Portugal e o dinheiro deles. Então, cuidado com as infiltrações 'comunas' nas famílias a viver na Madeira.
Como sempre, o antigo presidente não dava um assobio que não fosse no sentido de ganhar eleições, para se perpetuar nas Angústias.
Aliás, depois de consolidado no poder, o homem marimbou-se para os emigrantes. Madeirenses morriam aos montes nas enxurradas de Vargas e ele comia camarão com água tépida pela cintura no paraíso de Bora-Bora - dizendo na ocasião, aliás, que se estava bora-borando para quem criticasse a sua insensibilidade.
Assistimos ao vivo, em serviço, a digressões do género. Falámos - e já tem uns anos - com as novas gerações lusas radicadas nos países de acolhimento. Que nos pediam: parem com aqueles programas de televisão com espetada e baile pesado. Temos vergonha. Os nossos colegas e amigos julgam que só há disso na terra dos nossos pais. Não há museus, escritores, tradições da vida rural, não há outra coisa para a RTP mandar para cá?
Vinte anos depois, voltámos ao mesmo. É só ligar a televisão e 'gramar' a interminável churrascada dos arraiais. Para vergonha dos descendentes da Madeira lá fora.
E agora é ver-se a retoma das comunidades nas agendas do governo. Os intuitos não mudaram da 'Velha Madeira Nova' para a 'Nova Madeira Velha'. Além da sedução aos emigrantes e famílias cá residentes, ficam agora legitimadas as viagens que Albuquerque e Sérgio irão fazer e para as quais não tinham justificação.
Aguardemos.
Depois das intermináveis cruzadas do antigo Rei da Tabanca por esse mundo e da realização faustosa de tantos congressos das comunidades, digam-nos, passados que são 30 e 20 anos: o que ficou daquilo? Apontem-nos uma medida que tenha beneficiado a Madeira ou as comunidades, porque não encontramos uma que seja.
Pena já não estarmos aqui para daqui a 30 anos fazermos as mesmas perguntas ao Sérgio e ao Miguel.
Enfim, está aberta a II Feira dos congressos e interesses.
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