21 de Janeiro 2019

Congresso laranja veio baralhar

as condições do terreno eleitoral

A mensagem que saiu do XVII Congresso do PSD-M manda trabalhar. A nova comissão política reúne-se já no princípio da semana e seguem-se deambulações por sítios e freguesias de toda a ilha para levar a boa nova da reunificação e, como diria Herculano, difundir a fé, o império e a obrigação de trabalhar pelo partido. Jardim já se disponibilizou de viva voz aos novos dirigentes laranja para tomar parte nas acções sítio a sítio.

Nada como o 'bigode' nas autárquicas e o actual perigo populista do 'homem só' para encharcar os arrogantes blues num banho de humildade. Coisa improvável, Miguel Albuquerque ficou até às 4 da madrugada de domingo na sala de congressos, a ouvir 52 intervenções de congressistas feitas diante de uma plateia resistente ao sono, sempre animada e participativa. "Nem nos tempos áureos do Alberto João", garante um dos resistentes à prolongada noite. 

Na sessão de encerramento, o líder laranja regional utilizou uma linguagem a fazer lembrar o antecessor. Atacou a 'foleirada' dos  adversários, avisou o eleitorado com um 'tenham juízo', atacou ministros com quem almoçara poucos dias atrás, declarou guerra ao homem de Belém que prefere as selfies a intervir para travar as patifarias de Costa à Madeira. E disse que as 3 eleições deste ano são para ganhar.

Cunha e Silva, de regresso à Mesa do Congresso, deixou-se contagiar e falou grosso. Tal qual o normalmente cinzentão Rui Rio, que cumpriu a promessa feita no jantar da véspera com dirigentes locais e debitou um discurso apimentado. Jardim esteve muito activo na claque, enquanto presente na sessão de encerramento.

O congresso também evidenciou velhos vícios e incapacidades da política regional. Não se percebe o porquê de deixar partidos da oposição fora dos convites para o encerramento. Será que, na perspectiva laranja, os comunistas voltaram a meter crianças na ementa do pequeno almoço? Paulino Ascenção, por exemplo, não se impressiona com a 'desfeita' e desvaloriza: "O Bloco também não convida o PSD para as suas convenções."

Na sessão de encerramento, Miguel Iglésias representou "Paulo Cafofo e o PS" e, no flash interview, afirmou-se desiludido porque Albuquerque não falou de grandes medidas para o futuro da Região. Se o chefe laranja tivesse anunciado grandes medidas seria reconfortante para o PS? 

O mesmo reparou Lopes da Fonseca, do CDS, que esperava também um discurso para o futuro. Digo eu: os congressos servem para realinhar os partidos, para correcção da sua vida interna, tendo em vista as batalhas futuras, não se fazem os congressos para anunciar programas de governo. Sem dúvida que o grande problema de Albuquerque estava na manta de retalhos em que a sua frustrada renovação transformara o PSD. Foi aí que o congresso fez incidir os dois dias de trabalhos. O resultado em cheio, sim, deve ter deixado desiludidos os adversários que esperavam a continuidade das brigas no laranjal. Como é lógico. As reacções de Iglésias e Fonseca, porém, respeitaram a praxe pós-congressos: dizer que não houve novidades e que não ouviram ideia nenhuma digna de realce. Pior esteve Lina Pereira, que levava engatilhada uma mensagem dos chefes - os meus conterrâneos 'verdinhos'. Sem que o entrevistador Gil Rosa lhe perguntasse a idade, Lina avançou muito depressa com uma sentença de impacte: depois de ver o jeito deste PSD, o JPP decide não fazer coligações com esse partido, nem antes nem depois das eleições regionais. Ou seja, o JPP esvaziou-se a si próprio de poder negocial caso a fórmula "Cafofo e o PS" esteja em condições de formar governo em coligação depois de Setembro. Dado que o JPP já não pode voltar atrás, 'a fórmula "Cafofo e o PS" vai negociar olhando de cima para baixo com os imprudentes 'verdinhos'. É comer e calar, se estes acaso quiserem participar no poder. Que ingenuidade, Filipe e Élvio! Que noção da lei da concorrência! Nesse aspecto, Lopes da Fonseca foi mais cauteloso e até acompanhou a discursata autonomista do congresso. Logo mais, se estiver em condições de negociar políticas e lugares com dois potenciais vencedores sem maioria absoluta, que queijo limiano!

Faltou no congresso gente do velho Laranjal. Manuel António tem dito a pessoas próximas que nesta fase anda com a cabeça longe da política. Não apareceu. Continuará de férias partidárias caso o PSD perca em 22 de Setembro? 

Coito Pita também faltou. Assim como Jaime Ramos. E Rui Adriano. Antigos pesos pesados que aparentemente se mantêm distantes da euforia da reunificação.

O XVII congresso do PSD operou uma reviravolta no cenário político regional. A dupla "Cafofo e o PS" - expressão favorita de Miguel Iglésias - terá de rever a estratégia. Mais umas injecções de dinheiro público à LPM e ao "jornalismo" que fez marcação cerrada ao congresso. Desvalorizar o regresso dos barões laranja ao campo de batalha é tarefa urgente. Verdade seja dita, o afastamento dos jardinistas há poucos anos deu-se quando o velho  Laranjal definhava no cenário regional. As eleições autárquicas de 2013 provaram isso mesmo. O problema para "Cafofo e o PS" - eufemismo de 'homem só' - é se as férias forçadas da velha máquina fizeram bem aos antigos operários da Rua dos Netos e, sobretudo, se arejaram a cabeça dos eleitores.

Começaremos a percebê-lo já nas apregoadas excursões sítio a sítio.