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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019




O Estranho caso


da Língua desaparecida







Gil Canha


 Nessa manhã de inverno, o Professor Mentiras acordou bem cedo, espreguiçou-se feliz no meio dos lençóis, mas notou algo estranho na sua boca, como se houvesse um enorme vazio na sua cavidade bucal.   Preocupado, tentou estalar a língua nos dentes, mas verificou horrorizado que ELA não estava no sítio do costume.  Pulou da cama, e foi direito ao espelho da casa-de-banho, escancarou a sua belíssima fiada de dentes, como se fosse um crocodilo ao sol, e confirmou apavorado que a sua ágil e matreira Língua tinha simplesmente desaparecido. Tentou gritar… mas o único som que lhe saía da boca era um sopro de bafo canalizado passando entre os queixos. 

Em pânico, vestiu-se a correr, com o intuito de comunicar o desaparecimento da sua querida Língua na esquadra de polícia mais próxima. Pelo caminho, encontrou várias pessoas amigas e, como costume, mostrou a sua sorridente cremalheira, e ninguém estranhou que não tinha língua. 
Quando estava a passar pela Praça do Município, olhou para a esplanada do café “O Leque”, e pasmado, viu a sua Língua sentada numa mesa a tomar café com um estranho, elegantemente vestido de fato e óculos escuros. Não tinha dúvidas… era ELA, não só pela maneira veloz e elegante como se revolvia no ar, mas também pelo som familiar da sua doce vocalização que lhe ia chegando aos ouvidos. 
Cautelosamente, como um gato afegão, dirigiu-se em direção à mesa para capturá-la. Mas como a Língua estava falando animadamente com o tal estranho, sentiu-se intimidado, e optou por aguardar por melhor ocasião na mesa ao lado, pondo um jornal em frente aos olhos para ninguém o reconhecer. Pela conversa, percebeu que o senhor era continental e que trabalhava para uma empresa de publicidade, aliás, o tipo não conseguia proferir uma frase completa, sem que não pronunciasse a palavra… LPM. 
Curiosamente, o Professor Mentiras sentiu alguns ciúmes:  - Como é que aquela bandida se dava àquelas intimidades com estranhos?!
 Entretanto, apurou o ouvido e escutou a sua Língua falar languidamente, e até com uma certa ternura sensual, com o estranho cavalheiro:  
- Sabe… se calhar vai ser melhor assim… aliás, eu já estava farta de proferir vulgaridades e de dizer mentiras, mas ele é assim… tem um pavor em lidar com a verdade!
- Sim, eu percebo o seu incomodo – adiantou o estranho – mas queremos o melhor para ele, e ao retirarmos a senhora de dentro da bocarra dele, evita que o sr. Professor diga mais banalidades e tontices.
Nisso, você tem razão!  Será melhor resguardá-lo para o grande combate que se avezinha. – Sentenciou a Língua - A ideia que você me deu de desaparecer até às eleições num cruzeiro ao Mediterrâneo, é sensata, e seria bom falar com o Caldeirita, para me reservar um camarote com varanda, mas por favor, avise-o que não me traga o tal Vinho-do-Bisavô, deixa-me um sabor esquisito nas minhas papilas gustativas, parece que estou a sorver vinagre de baga-de-loureiro.
O estranho contorceu-se na cadeira, ajeitou a gravata, e baixinho murmurou: - Tenha atenção que a LPM conta com a sua descrição, aliás, já falámos com o dono do Diário, e ele já sabe que o Professor perdeu o pio… a ideia é meter muitas fotos dele, com a cremalheira sempre sorridente e simpática, e nem uma linha sobre o que ele pensa ou deixa de pensar. 
 - Sim…sim… - anuiu a Língua - como as coisas estão, a viloada não quer saber se o Professor tem ideias ou não, ou se a cabeça tem serradura ou uma ervilha solitária, ou mesmo, se anda metido com a máfia do costume. Eles querem é Mudança, pois estão fartos de bebericar laranjada. 
Entretanto, ouviu-se um gritinho histérico, “ai mi queride!” uma velhinha descobrira o Professor Mentiras por detrás do seu refúgio de papel… e começou a beijocá-lo: – Ah senhor Professor, ainda bem que o encontro, a minha filha tem um barzinho lá em baixo e está preocupada com essa história da polícia municipal. Explique-me lá essa coisa?!
O Professor baixou o jornal, levantou a cabeça, e exibiu um enorme sorriso de orelha a orelha.  A velhinha ficou encantada, com aqueles lábios harmoniosamente delineados e carnudos, aqueles belos dentes de marfim a refletirem com o seu brilho ofuscante os primeiros raios-de-sol da manhã, e suspirando piedosamente, olhou para o céu, e agradeceu ao Nosso Senhor Jesus Cristo por ter posto no mundo tão graciosa e esclarecedora criatura. 
Distraído a mostrar a sua bela cremalheira a tão gentil senhora, o Professor Mentiras percebeu horrorizado que a sua Língua traidora tinha dado de frosques juntamente com o tal cavalheiro da LPM. 
De facto, a mesa ao lado estava vazia e babada, como se tivesse andado por lá uma lesma-das-couves no meio das chávenas do café.   Resignado, o Professor Mentiras engoliu em seco… no sentido literal da palavra e, em vez de se dirigir à polícia para apresentar queixa contra desconhecidos, levantou-se, e foi para casa treinar a nobre arte de arreganhar os dentes em público.  
(Este pequeno texto de pura ficção foi inspirado na obra de Adelbert Von Chamisso, “História Fabulosa de Peter Schlemihl”, o homem que vendeu a sua sombra ao Diabo, e “Contos de São Petersburgo”, de Nikolai Gógol, sobre o Mestre que perdeu o seu próprio nariz).

20 comentários:

Anónimo disse...

E em que lista de deputados vai o Senhor ?

Vá na lista da Raquel, os dois fazem falta

Anónimo disse...

Bravo!!

Anónimo disse...

O careca é uma cobra venenosa.

Anónimo disse...

O prof. mentiras sem querer, dá com a língua nos dentes, como diz o povo, no que respeita a defender o interesse dos poderosos: E o povo que o elegeu vai levando para a cabeça, (pagamentos encapotados de publicidade) e (Rua Imperatriz D. Amélia, destruída pelas obras do Savoy), e a populaça tudo paga! Bem feito para aprenderem!

Anónimo disse...

Adorei os diálogos entre a língua do Cafofo e o Estranho LPM.sabem me explicar o que é LPM, o sr. Canha não explica.

Anónimo disse...

Vi a Língua a almoçar com Iglésias e o Sousa, posso dar as coordenadas à PSP

Anónimo disse...

A verdade é que no debate da RTP-m, ninguém se opõe á policia municipal, não se percebe, ou as pessoas não sabem o que é ou então são vão perceber quando lhes chegarem as coimas a casa.
Vamos aguardar.

Anónimo disse...

Surrealismo bem apanhado. Está lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Anónimo disse...

LPM (Luis Paixão Martins) empresa que cobra honorários altíssimos para promover políticos/partidos, como o de Paulo Cafofo

Anónimo disse...

A Lingua sem abrigo merece um cacifo

Anónimo disse...

De facto o srº deputado Gil Canha tem poucos partidos por onde possa concorrer! Se ele combate "a máfia no bom sentido" que já se infiltrou há muito tempo nos grandes partidos, resta ao srº Gil Canha poucos partidos. Aqueles que a "máfia....." ainda não conseguiu soburnar!

Anónimo disse...

Também já é demais em cima do sr. Presidente. Assim não vão lá?

Anónimo disse...

Confirmo, passei no Leque e vi a língua lá e pareci-me feliz.

Anónimo disse...

A língua se para no Vera Cruz ainda vira sandes

Anónimo disse...

Afinal o homem ainda sabe onde fica a Camara Municipal. Ontem esteve mais os seus seguidores na varanda.
Um abraço para todos os venezuelanos...
É tão bom andar ao sabor do vento.

Anónimo disse...

Venezuelanos, ATENÇÃO! Não se esqueçam que Cafofo é socialista, como o Maduro... igualito!

Anónimo disse...

10.29
Já tens um cargo nos renovadinhos com esse difame. Força que vamos continuar a dar casas e tudo o mais ignorando os residentes.

Anónimo disse...

Tive que contratar 6 funcionários.
Tratei com o IEFP. Vieram à empresa 42 candidatos. 33 madeirenses e 9 luso-venezuelanos.
O ordenado é de 800€ + subsídio de alimentação + seguros. 3 meses à experiência, com possibilidade de ingressar no quadro da empresa no fim daquele período. Não é trabalho fisicamente exigente, e não necessita horas fora do horário de trabalho.
Dos madeirenses nenhum teve interesse, os outros 9 queriam os lugares.
Adivinhem quem foram o 6 contratados?
Depois venham para aqui e para o facebook se queixarem.

Anónimo disse...

18.12
Já agora para ser honesto e nada interesseiro e lambe-botismo convinha completar indicando qual era a atividade ou não?

Anónimo disse...

Indústria de panificação.
E já agora um dado. Dos 6 contratados, 4 deles têm formação universitária.
Dois engenheiros, um arquitecto e um farmacêutico. Mas não se importaram de trabalhar abaixo da sua formação.
Tenho a certeza que para eles é uma coisa temporária, até que venham a conseguir trabalhar nas áreas para que estudaram. E dois deles têm candidaturas em empresas de construção e obras públicas para ver se o conseguem.
Mas têm a preocupação de sustentar as famílias.
Não me importo de os vir a perder se fôr para melhorarem a sua vida. Até os incentivo, e estou muito satisfeito com o seu desempenho até o momento, especialmente para quem nunca tinha trabalhado nesta área.
E quando vejo certas reacções nas redes sociais contra os "venezuelanos", só me apetece dar-lhes mais oportunidades. Oxalá pudesse.