Chefe obrigado a confessar a saída e qual o sucessor preferido
JARDIM CONFIRMA MANUEL ANTÓNIO NO ENCALÇO DE ALBUQUERQUE
Miguel Albuquerque arrancou... |
...Jardim mandou Manuel António em perseguição individual. (Foto DN - in Google) |
Ao anunciar o seu adeus, Jardim não só deixa de ser o Único Importante como a partir de agora não terá importância nem influência absolutamente nenhumas na corrida que se segue entre Manuel António Correia e Miguel Albuquerque
Desta vez, o grande chefe laranja foi traído pela inconveniente hiperactividade: ferido no seu orgulho de indiscutível e de único importante, ordenou a Manuel António que se assumisse imediatamente como pretendente à liderança do PSD-Madeira no próximo congresso, reagindo assim ao lançamento estrondosamente anunciado por Miguel Albuquerque. A ordem para o anúncio da candidatura, combinada há mais tempo por Jardim e Manuel António, acaba de ser cumprida, na tarde deste sábado. Curiosamente na terra do novo candidato e secretário do Ambiente - os Canhas. E foi no local que recebeu os primeiros apoios, obviamente da parte de laranjas do seu concelho: Rui Marques, presidente da câmara da Ponta do Sol, e Coito Pita, deputado. Paulo Fontes, funchalense eleito várias vezes pelo círculo pontassolense, portou-se com mais prudência, adiando a definição pública das suas preferências. Que vão obviamente para Albuquerque.
Estas cenas passaram-se nos Canhas, durante a Feira Regional da Cana-de-Açúcar.
Jardim foi traído porque agora, ao contrário das outras vezes, já não poderá sequer pensar em se recandidatar. Ao apoiar Correia, confessou a saída. E a partir deste momento seria, caso mudasse de ideias, um derrotado dentro do próprio partido, e com um resultado humilhante.
Quem fica ultrapassado pelos acontecimentos é o líder da JSD-M, que se manifestara recentemente disposto a pedir a João Cunha e Silva que avançasse à liderança, com Manuel António por perto. Alberto João Jardim quis arrumar o caso e eis Manuel António Correia a dizer de viva voz não só que tenciona candidatar-se como está empenhado em convidar o actual chefe Jardim para figurar nas suas listas como candidato à Mesa do Congresso e do Conselho Regional. Evidentemente que por proposta já feita pelo 'futuro ex-chefe'.
Manuel António: a continuidade
Se ganhar a corrida, Manuel António garantirá rigorosamente a continuidade da linha jardinista, o que aliás está patente na primeira escolha que faz, ainda como pré-candidato, a do chefe carismático para o apoiar na Mesa do partido.
No fundo, o secretário do Ambiente e o próprio Jardim alimentam algumas esperanças de que Miguel Albuquerque não consiga reunir as 100 assinaturas necessárias para validar a candidatura. Um engano a desfazer rapidamente. Os receios dos militantes acabam de cessar. Manuel António jamais avançaria sem a indicação do chefe ,a quem não descura uma lealdade incrível a todo o momento. Ou seja, é o próprio Jardim a despedir-se publicamente do poder. A partir de agora, Jardim não só deixa de ser o 'Único Importante' como já não terá importância nenhuma no processo que se segue.
Albuquerque terá as assinaturas que quiser
Alguns barões do jardinismo responderam, aliás, muito divertidos a uma pergunta nossa: haverá 100 militantes do PSD interessados e com a coragem exigida para subscrever a candidatura de Miguel Albuquerque à liderança do partido?
Responderam divertidos por acharem que hoje tal questão não tem razão de ser. Muita gente está a perder o medo e todos começam a perceber que - como diz o líder nacional de um dos maiores partidos portugueses - "na Madeira, estes são os dias do fim".
"Não tenho a menor dúvida de que hão-de aparecer as assinaturas e muitas mais do que as necessárias e suficientes", antevê um social-democrata de primeira hora mas que nunca funcionou como um incondicional do chefe.
Estas certezas são de hoje. Nem os barões actualmente desprendidos do regime, como se não o tivessem alimentado e também beneficiado dele, podem negar o cumprimento cego das ordens de Jardim nestes 30 anos. Ninguém teve coragem para se solidarizar com Emanuel Rodrigues, primeiro presidente da Assembleia Regional, na altura em que o advogado e político foi afastado politicamente por ter aceite ser mandatário do então candidato à Presidência da República Ramalho Eanes.
Virgílio Pereira por diversas vezes sofreu represálias por manifestar opiniões não coincidentes com as do chefe e seu compadre Jardim. Não vimos manifestação nenhuma de solidariedade quando Virgílio, reagindo às vaporosas alfinetadas estivais de Jardim, em pleno areal porto-santense, entregou a chave da Câmara do Funchal ao patrão do partido e do governo. "Bom político é aquele que governa sem dinheiro", zombou Jardim a propósito das queixas do compadre sobre as gavetas falidas da câmara que tomara nas mãos fazendo um favor eleitoral ao chefe. Por acaso, uma frase que hoje não se aplica de todo ao seu autor: sem dinheiro continental e europeu, veja-se o desgoverno falido que o dito-cujo ainda encabeça.
Virgílio, Emanuel Rodrigues, Egídio Pita...
Mais tarde, como se sabe, Virgílio acedeu ao pedido do amigo Jardim para regressar com mais participação ao partido. Mas, no dia em que resolveu considerar uma "garotice" o seu PSD propor, através de inquérito parlamentar, um exame ao estado mental do deputado socialista João Carlos Gouveia, tornou a sair de cena muito maltratado pelo chefe partidário. Dado o impacto mediático do acontecimento, Jardim sentiu-se na obrigação de convocar um congresso com um único fito: deixar Virgílio Pereira fora da nova comissão política emergente.
Se bem me recordo, o chefe laranja tentou mais uma vez 'recuperar' Virgílio para os quadros partidários, sem sucesso. Hoje, o professor está remetido à sua vida particular e politicamente não passa de um militante de base. Como Emanuel Rodrigues e tantos outros que faziam sombra ao chefão.
O próprio Egídio Pita, que andou de pistola em punho a difundir o ditatorial-jardinismo por esses campos, nos alvores do autonomismo, também caiu em desgraça perante o líder... e sem o amparo de qualquer solidariedade partidária.
O mesmo aconteceu com antigos críticos da Ribeira Brava, de Machico, da Calheta e do Porto Santo, todos vítimas de purgas que os levaram ao desaparecimento definitivo da cenas política. Todos eles saíram levados pela máxima jardinista "quem não obedece, rua". E o silêncio à sua volta foi total.
A explosão de Albuquerque
Até aqui, em termos de sucessão no PSD, perfilavam-se pacificamente os candidatos 'legais e legítimos', porque apadrinhados pelo chefe: João Cunha e Silva, Miguel de Sousa, em algumas fases Sérgio Marques, e ultimamente Manuel António, o delfim do momento, e que acaba de consumar o processo a seu favor. Mas, com a explosão de Miguel Albuquerque, chefe Jardim sentiu-se afrontado.
Como se atreve um militante a dizer o que quer que seja sem consultar o topo da hierarquia? - deve ter pensado Jardim. Era também uma ofensa à clique jardinista - que se resume, bem vistas as coisas, ao próprio chefe, a Miguel de Sousa, Cunha e Silva (já com algum distanciamento) e Manuel António, por razões óbvias. Além de Jaime Ramos, fiel a Jardim enquanto este interessar ao filme em cartaz há 30 anos e que todos já viram dezenas de vezes. Miguel Mendonça, francamente, tem o seu posto no trono de Inglaterra e é tudo. E os trogloditas do espavento parlamentar e rural são franco-atiradores a soldo de quem melhores benesses oferecer. É a lei da vida.
No geral, incluindo os barões mais conhecidos, ninguém tem dúvidas de que os tempos mudaram. Um grande nome, incondicional e calculadamente devoto de Jardim, afirmava há dias, gargalhando num snack da Rua dos Murças: "Já tivemos presidentes de Câmara presos e ganhámos eleições para as câmaras!" Inconsciência dele. Os outros barões, mais prudentes, sabem o que quer dizer o trambolhão do PSD-Madeira nas últimas regionais: queda dolorosa de 64% para 48,5%! Uns 15,5% para baixo! Sabem também que o chefe não tem dinheiro para adormecer o povo, que não pode repetir a salvação como nas outras duas vezes em que levou a Madeira à falência financeira. Que bom seria agora um Guterres com mais 110 milhões! De contos! 110 milhões de contos na velha moeda.
Solidariedade também será negada a Jardim
Quem manda hoje - e nem tanto, porque obedece à troika - chama-se Pedro Passos Coelho. Que, ao contrário do elogio que muito decifraram das suas palavras no congresso, lançou frio e assustador aviso ao chefe ilhéu: "O senhor disse que ia ver se o governo central cumpria os compromissos financeiros no programa de recuperação, pois eu estou convicto de que vou cumprir e de que o dr. Jardim também vai cumprir os seus." O elogio aqui é um solene aviso: não conte com mais dinheiro!
Os próprios social-democratas da Madeira percebem isto. Jardim já deu o que tinha a dar. E a falta de solidariedade que faltou internamente às suas vítimas é um tormento que o aguarda a ele, logo à esquina do adeus definitivo.
São eles, os social-democratas, quem trata de se demarcar da velha política. Como se a ela fossem estranhos a vida toda. Como não choraria desencantado Jardim se pudesse passear anónimo pelas ruas e pelas esplanadas para ouvir as verdades que os seus antigos companheiros despejam impiedosamente pelos cantos. Já estavam fartos de aprovar conclusões redigidas antes das reuniões...
"Claro que o Miguel vai ter as assinaturas que quiser", assume sem complexos um social-democrata com 4 ou 5 mandatos consecutivos no parlamento regional. "Isto até já devia ter acontecido há mais tempo."
Devia ter acontecido há mais tempo... quando estes mesmos barões consideravam folclore e vaidade o menor esboço de dizer algo sem autorização do chefe. "Aquele põe-se em bicos de pés..."
Como as coisas mudam de um momento a outro! Jardim está a passar de ídolo indiscutível a um Cristo renegado por todos os Pedros que empestam o testamento da Madeira Nova.
E Jardim ainda ontem com avisos e ameaças sobre o perigo de Miguel Albuquerque ficar isolado!
***********************************************************************************
O processo da sucessão de Jardim precipitou-se. Oportunidade para dar atenção à curiosidade que se segue.
REVENDO O LANÇAMENTO DA CANDIDATURA DE MANUEL ANTÓNIO NOTICIADO AQUI NO 'FÉNIX DA MADEIRA' há 5 dias, SEGUNDA-FEIRA PASSADA, 23 DE MARÇO:
A notícia apresentava-se com o seguinte texto:
O presidente do governo e do PSD-Madeira garante que apostará decididamente no actual secretário do Ambiente, Manuel António Correia, quando se der a corrida à sua sucessão. As conjecturas que apontavam João Cunha e Silva como delfim preferido de Jardim caem assim por terra, já que, quanto a Miguel Albuquerque, já se sabia que só enfrentando o sistema partidário interno poderá lá chegar.
Alberto João Jardim já o disse: a sua aposta vai para Manuel António por considerá-lo mais dotado politicamente e com um grau superior de combatividade em cotejo com a concorrência entre os pretendentes social-democratas - conforme já dito aqui no blogue com base em fontes idóneas.
Mas agora é em definitivo: ultrapassou-se a velha troika dos delfins Cunha e Silva e dois Miguéis (Sousa e Albuquerque). Jardim já deixou escapar algures que o próprio Cavaco Silva tem boa impressão de Manuel António, disso mesmo dando conta em recente conversa com o líder do PSD madeirense. Foi o Presidente da República e ex-chefe laranja nacional quem puxou Manuel António Correia à conversa, para emitir opinião ao correligionário Jardim.
Não conseguimos apurar por que caminhos o agora delfim talhado para a sucessão foi levado ao conhecimento de Cavaco. Nem Jardim o explicou. Mas elementos próximos do presidente do PSD-M aventam o nome do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que dispõe de acesso fácil a Belém e um dia, no seu programa dos domingos, na televisão, lançou o nome do ainda jovem político natural dos Canhas, Manuel António Correia.
Ao contrário do que já prenunciámos aqui, portanto, João Cunha e Silva não é o preferido nas intenções do chefe, pelo que Manuel António está completamente "dentro" do combate e contará com apoio de Jardim se lhe aparecer opositor, o que deverá acontecer na pessoa de Miguel Albuquerque.
Desfeito o tabu de 20 anos quanto ao sucessor de Jardim à frente do PSD-M, não se pode considerar, porém, que o resultado final seja muito mais do que uma semi-surpresa.