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quinta-feira, 15 de março de 2012

Politicando

 DELFINS PREPARAM SPRINT FINAL EM PISTAS DIFERENTES

Enquanto o governo mete
os pés pelas mãos na
confrangedora defesa de
um confrangedor orçamento,
Albuquerque passeia na Venezuela,
a menos que se trate
de contra-informação. 






Para controlar o desorientado laranjal, Jardim só vê um
sucessor, o que começa a cheirar a "presente envenenado". Ou será que Manuel António...




Dissipa-se mais rapidamente do que se previa o nevoeiro que tolda o futuro do PSD-Madeira. Desfeitas as dúvidas sobre a participação de Jardim, líder em fim de carreira, no processo da sucessão, porque já declarou publicamente que o vai fazer, está encontrado aquele que será proposto aos militantes eleitores como candidato oficioso à chefia do partido: João Cunha e Silva. Partindo do princípio que Manuel António não será para já. Por outro lado, surgiu a terreiro quem tenciona disputar o lugar de presidente da Comissão Política para evitar uma transição de poderes ao estilo da monarquia: Miguel Albuquerque.

Alberto João Jardim costuma criar outros delfins para neutralizar pretensões dos que lhe fogem da mão. Porém, neste momento, tanto Miguel de Sousa como o secretário do Ambiente Manuel António parecem fora de combate. É verdade que em tempos Alberto João Jardim confidenciou que, dos jovens políticos da altura, o melhor era Manuel António Correia, em quem reconhecia sentido e faro político, além de lhe agradar a forma esforçada como subiu na vida. Se não mudou de ideias, se mantém secretamente o mesmo pensar, as coisas mudam de figura quanto ao apuramento final do sucessor, provavelmente dentro de um ano e meio. Mas, de momento, há dois candidatos em prova: o vice-presidente do governo regional, Cunha e Silva, e o presidente da Câmara do Funchal, Miguel Albuquerque. Ambos conscientes, depreende-se, de que disputarão o leme de um partido fragilizado e esfrangalhado por 30 e muitos anos de desgaste e que a moderna crise veio descobrir mais descaradamente, sem apelo nem agravo. E aqui o presumível candidato oficioso, João Cunha e Silva, averba automaticamente um handicap bem adverso, já que incorre nas responsabilidades só atribuíveis a quem integrou o governo que desbaratou, com saliência para os últimos anos, todas as esperanças da Madeira e dos madeirenses.

SEM ACERTAR UMA!

O governo laranja discute esta semana um orçamento que primeiro teve de submeter à consideração de Lisboa, o que constitui uma vergonha autonómica evidentemente com lugar cativo na História da Madeira. Cunha e Silva está lá, no parlamento, sujeito a duras críticas da oposição que dificilmente o governo pode contrariar. Da sua parte, Miguel Albuquerque meteu-se no avião e ei-lo na Venezuela, bem longe da guerra política e da crise. É o que dizem.
João Cunha e Silva faz parte, como n.º 2, de um executivo eleito à custa de prometer quatro objectivos de todo inalcançáveis e que, reapreciados hoje, provocam desenfreada hilaridade. Em campanha, com efeito, o chefe Jardim anunciou ao povo que, "apesar de isto estar complicado", o seu governo, eterno "campeão" do "desenvolvimento" e da "obra feita", conseguiria (1) regularizar as finanças da Madeira, (2) defender o Estado social, (3) concluir as obras lançadas e (4) conquistar mais poderes autonómicos.
Ora: regularizar as contas financeiras da Região, nem no tempo das "vacas gordas", bem pelo contrário, conforme reza a dívida regional que esta e as futuras gerações terão de pagar; quanto a defender os direitos sociais, o descalabro da política do PSD manifesta-se à vista desarmada no caos da Saúde, na pobreza envergonhadamente galopante, nos 22 mil desempregados e no vazio do mundo laboral que ameaça perpetuar-se, mas ainda no descalabro do ensino; conclusão de obras lançadas, nem vale a pena referir, basta dar uma volta pela Madeira e desfrutar do espectáculo dos monstros de cimento abandonados como num filme de ficção sobre o fim do mundo; conquista de mais poderes autonómicos: só se for o direito de obrigar Lisboa a controlar o dinheiro que se aplica na Madeira e a determinar as prioridades da política financeira da "Autonomia".
João Cunha e Silva encontra-se inevitavelmente vinculado a estes tenebrosos resultados do jardinismo e será essa imagem que reflectirá quando o chefe o apresentar aos filiados, que votarão a sucessão, como protagonista do tal consenso interno de 90%, como diz Jardim. A Miguel Albuquerque restam os 10% dos PSD's... que gostam de ler "revistas de cabeleireiro", segundo remoque de Jardim no último conselho regional, na presença do presidente da Câmara. Na ocasião, Miguel não acusou o toque, antes percebeu no líder uma certa mágoa por "não aparecer nessas revistas".
Jardim tentava, com tal dichote redutor, minimizar a popularidade atribuída normalmente a Miguel Albuquerque, na sua compita surda com o vice do governo. Mas essa popularidade é palpável e aceite espontaneamente pelo cidadão comum, e até com várias confirmações carimbadas pelas sondagens.
João Cunha e Silva utiliza a sua evolução no discurso para tentar justificar o injustificável na presente discussão de um orçamento confrangedor, obviamente metendo os pés pelas mãos ao ser confrontado com os fracassos da sua governação directa, incluindo sociedades de desenvolvimento falhadas, parques empresariais para pasto de cabras e o mais que se conhece. Miguel Albuquerque passeia-se em Las Mercedes e em Guatire, ganhando mais uns pontos na popularidade junto dos madeirenses na Venezuela mas com efeitos para cá. João Cunha e Silva apanha do socialista Carlos Pereira com o apodo de "Midas ao contrário", por transformar em desgraça tudo aquilo em que toca. E recebe de Rubina Sequeira, deputada do PND, brinquedos para se entretar em vez de desbaratar mais dinheiro público. Miguel Albuquerque toma um sumo de sabores tropicais quiçá em Barquisimeto, longe do barulho parlamentar da Madeira.
Dentro em breve, será tempo de sprint final com vista à conquista da liderança no PSD-M. Cunha e Silva conta com o importante apoio do eterno chefe, o que porém pode constituir tanto um triunfo antecipado como repúdio da parte de uma crescente vaga de militantes contrários à "evolução na continuidade" e ávidos da mudança. Os corifeus carreiristas beneficiários da preponderância laranja nestas décadas evidentemente não querem mudanças que lhes ponham cobro aos privilégios. Mas outros, veteranos no fim da linha e que já podem dispensar as costas do partido, assumem cada vez mais à vontade o tom crítico das suas apreciações ao andamento do PSD, geralmente contra Cunha e Silva. Miguel Albuquerque já se assumiu como candidato e só não avançará se os militantes lhe negarem as cem assinaturas necessárias. Que os apoiantes do primeiro edil funchalense consideram difícil hoje, mas possivelmente fácil dentro de um ano. Neste momento, os delfins fazem a sua campanha em percursos diferentes, distantes um do outro. Mas terão de encontrar-se na recta final.

MUDAR O PSD NÃO É MUDAR A MADEIRA

Tudo isto no que respeita à situação interna do PDS. Porque, quanto ao futuro da Madeira, a guerra põe-se num plano totalmente distinto. A reconstrução depois desta enxurrada de 30 e tantos anos não vai com remendos, mas com uma "bomba atómica" política suficientemente forte para não deixar pedra sobre pedra. Sobretudo se vier a dar-se a sinistra fatalidade de o actual inquilino da Quinta das Angústias estrebuchar agarrado à cadeira e às paredes do gabinete, assim que lhe cheirar a despedida em 2014/15.
De uma forma ou de outra, a mudança na Madeira terá de  passar pela oposição.


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