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quinta-feira, 29 de março de 2012

Notícias do Apolo

SE NÃO É DE INTRIGAS, ESTE É O SEU NOTICIÁRIO

Desempenhava este proletário a sua missão na redacção das esplanadas quando um ouvidor do regime tentou repisar uma notícia que todos conhecem, com a ideia mesquinha de massacrar as cúpulas do aparelho a que ele pertence. Queria o sujeito repetir a lengalenga de que o chefe escolheu executivos através de informações no feminino. Primeiro, não aceito encomendas e ainda por cima requentadas, aquelas informações que todos já conhecem. Depois, resolvam lá os seus problemas entre si, porque nós temos o IVA com que nos entreter. Mas já conto a história.

Se passam carros, criticam-se os gases. Se há esplanadas, atacam-se os vapores.

* Último andar dos prédios reservado aos barões - Seria bom que alguém fizesse uma visitasinha aos grandes prédios urbanos para tentar perceber um pormenor - espicaçou esta manhã um desempregado do sector da imobiliária - Tentar perceber a que se deve a coincidência de os últimos andares de muitos desses prédios pertencerem a figuras gradas do regime.
Outro conviva alegou nada ver de anormal nisso. Curioso, sim, mais nada. Então os tubarões não podem ter preferência pelas alturas? E o desempregado: "É só pelo fenómeno, que um ser normal tem de achar estranho. Não estou a insinuar nada. Alguns deles foram pagos  devidamente por cheque... embora com outra assinatura, talvez a de algum adjudicatário..."
Chamei as atenções para a mania de acusar sem provas os barões do regime, e eu condeno isso, sejam eles de que área partidária forem. Aliás, os adjudicatários não precisariam de assinar cheques, para nada, apenas ofereciam o que bem entendessem e pronto...
O sujeito explicou-se: "Isso aí, amigo, então e as continhas para apresentar? Mas não estou a acusar especificamente ninguém, não aponto os do regime ou os do anti-regime. Mas, já agora, se não o faço é porque não quero. Provas? Ah ah! E antes que me esqueça: num dos casos, o grandalhão não ficou com o último andar do prédio, ficou com o penúltimo. É para confirmar a regra."
O homem, para não passar por mentiroso, desatou a enumerar os edifícios de que fala. Mas eu posso aqui reproduzir os nomes, descansado, vou-me pôr aqui a falar de dolce vitas, falésias, Rua da Conceição e calçadas, posso falar nisso sem ser intimado pelo MP? O melhor é deixar o exercício à perspicácia de cada um, porque já passei anos demais nos frios corredores do tribunal, acusado, não de corrupto, assassino do ambiente ou autor de violência, mas simplesmente por denunciar por escrito casos relacionados com esses tipos de crimes.
Agora o ouvidor ressabiado!...

* Altas e poderosas nas máquinas - Começava a reflectir para tentar perceber patavina do assunto quando um contabilista reformado se pôs a narrar aventuras passadas há muitos anos, não sei em que parque empresarial ou de máquinas, nem de que localidade. Aliás sei, mas não posso dizer. Limitei-me a ouvir: um executivo, não percebi de que grau, tinha influência nesse endiabrado parque e através das contas que passavam por ele, parque, construiu a sua casa sem custos pessoais. Um dia, o operacional que estava por dentro do expediente abusou do que julgava serem 'costas largas' e decidiu comprar um automóvel de marca diferente da que fora decidida pelo sistema. Pronto, despedido. O patrão da casa construída com "apoios públicos" não lhe pôde deitar a mão nem ele dar à língua, porque seria pior para ele.
...E o regabofe era de tal ordem naquela unidade das máquinas - insiste o contabilista descarado - que se desviavam dali peças à vontade, acabando algumas delas, novinhas em folha, por ser vendidas em leilões de velharias.

* Tascas da poncha são da jota - O empregado  da esplanada chegou com mais cafés e refrescos e logo alguém aproveitou para referir as últimas notícias sobre o incremento do alcoolismo na Madeira. Um psicólogo ainda no activo opinou que o fenómeno acontece geralmente em tempo de crise. O que é que os adeptos de um clube fazem nos dias de derrota? Bebem. Então, depois de viciados, repetem a dose nos dias de triunfo, para celebrar. É por isso que os estabelecimentos comerciais de fazendas e sapatos estão a ser substituídos por tascas. Há crise, bebe-se e acabam-se as necessidades da família.
Curiosamente - ataca um dissidente do Bloco - abrem-se em série tascas em geral pertencentes aos pequenos da jota...
Fiquei na mesma. Não gosto de poncha e o meu tempo de andar de tasca em tasca já passou.

* Mulheres a fazer executivos e câmaras - Finalmente, o tal ouvidor do regime, nesta fase um pouco zangado com a perigosa sarilhada no laranjal, puxa de novo o tema para o mexerico político. Só para repisar um assunto com saída, apesar de requentado. Para o fazer, simulou agastamento por ter o governo regional sido formado outra vez, a vários níveis da orgânica, não exclusivamente pelo chefe, que se gaba de nem ao travesseiro falar em nomes, mas baseado em conselhos que podem ter sido dados na melhor das intenções, mas com péssimos resultados em alguns casos.
Claro que a generalidade dos presentes aproveitou para se banquetear com o tema, sempre suculento para as mentes patologicamente afectadas.
Fiquei a ver para onde a conversa derivava. Pois: mais do mesmo. Que o chefe se deixou influenciar pelos palpites de três mulheres, pelo menos em algumas áreas da governação. E foi então que intervim: pedi-lhe que virasse o disco porque aquela música já todos conhecíamos. E que, mais a mais, o que faltava era um líder não ter a liberdade de se aconselhar com quem melhor entender, seja homem, seja mulher. Claro que uma pessoa tem gente próxima não necessariamente alheia ao que se passa à sua volta. É assim tão estapafúrdio beber aí um conselho? Claro que, depois, há decisões por essa via que desaguam em desastres monumentais, como aliás é o caso.
Mas, se metermos a mão na consciência, na fase que atravessamos em que os governos e as administrações não mandam nada de nada, que diferença faz escolher este e aquele ou nomear os indicados pelas pessoas da confiança, sejam mulheres ou homens? Não se pode confiar na mulher? Numa filha? Numa sobrinha ou num atia? Numa conselheira de anos? Numa avó, se preciso for? Ora!

Nada como uma volta higiénica ao aterro, para expurgar a má-língua dos cafés desta cidade.


O ouvidor, que devia era estar calado, porque também já beneficiou de um lugar autárquico pela via que agora condena, estava mesmo decidido a não largar o assunto. Portanto, quem largou o serviço fui eu, como confessei num artigo anterior.
Saí da mesa e fui para a minha volta higiénica no aterro, ganhando cada vez mais a convicção de que aquele ouvidor do regime bem pouco deve conhecer de mulheres.

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