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domingo, 18 de março de 2012

RAMOS HORTA PERDEU LAÇO E PENACHO


As coisas estão pretas para Horta e até o
lacinho se foi. Ele também me fez a vida negra, há uns bons anos. 

O presidente da República de Timor, Ramos Horta, foi a eleições e parece em risco de nem à segunda volta chegar. Depois de ter votado, numa escola, o timorense do lacinho falou aos jornalistas, definindo a sua atitude conforme o seguinte: "Se eu perder as eleições, ganho a minha liberdade. Se ganhar, terei motivação para mais um mandato."
Escuso de comentar sequer esta peregrina teoria, nem a minha opinião contaria para nada, como é óbvio. Mas, dado que o homem teve o cuidado de dizer que, se perder, concorrerá às legislativas, o que revela que ele continua a não se dar sem poleiro à vista do flash, dá-me para recordar os tempos áureos da luta timorense contra o ilegítimo invasor indonésio. Foi nessa era que frustradamente apresentei o microfone em direcção ao político então em moda na política mundial.

Incluí com o Rui Marote, em representação do DN-Funchal, a comitiva do Presidente da República, Jorge Sampaio, numa das suas viagens a Macau em tons de despedida portuguesa ao extremo Oriente. Já na pista da Taipa, vimos um ruidoso grupo de timorenses a concitar as atenções de Sampaio, mas sobretudo da comunicação social internacional, tratando de divulgar a sua luta libertadora. Os jornalistas registaram a manifestção em imagens e mandaram peças aos respectivos órgãos.
Na manhã seguinte, no restaurante do hotel de Sampaio, à hora do pequeno almoço, Marote e eu não queríamos acreditar. Não é que, sozinho numa mesa, a escassos metros da máquina fotográfica do meu colega e do meu gravador, um timorense de renome quebrava o jejum? Sem trocarmos palavra, dirigimo-nos ambos para o canto de Ramos Horta, que outra personalidade não era. O meu colega de máquina armada e eu de gravador em riste. Habituado à ditadura madeirense e à prepotência dos regedores de aldeia, mas que honra trocar umas palavras com um dos heróis que lutavam para conquistar a independência e instalar a democracia em Loro Sae! Ele também se deslocara a Macau, para legitimamente aproveitar o mediatismo da visita de Sampaio.
- Se não se importasse... pedia o privilégio de umas palavras suas...
O homem olhou-nos, a perscrutar... De que terra saltaram estes?
Percebi o seu problema e adiantei serviço:
- Viemos com o Presidente de Portugal e somos do "Diário de Notícias"...
- "Diário de Notícias"?
- O do Funchal.
- Funchal?
- Sim, da Madeira.
- Ah, o senhor sabe - explicou-se então naquela pronúncia quase tão carregada como a de Xanana - Eu não dou exclusivos!
De regresso à nossa mesa, corado com a cachola das negas, pensei que diabo me teria tentado para o atrevimento de querer gravar umas palavras de um figurão em moda na cena internacional, que passeava o lacinho por esse mundo em promoção da sua causa nacional, enquanto Xanana vegetava nas serra de Timor.
Estupefactos e sem pio ficámos minutos depois, Rui Marote e eu, ao repararmos no à-vontade com que o grande Ramos Horta cedia "exclusivos" em catadupa aos jornalistas portugueses - da SIC, da RTP, do Expresso, do Diário de Notícias de Lisboa...
Então, daí a mais um bocado, quando se proporcionou uma entrevista colectiva, o homem no centro de 30 microfones e cêmaras de TV, sentindo o mundo a seus pés, resolvi estragar um pouco o brilho daqueles momentos de glória para o caixeiro viajante de Timor-Leste. Fi-lo com perguntas imbecis, género "o senhor continua com apoios comunistas, ora então o que tem a dizer..." E por aí fora, querendo lá eu saber se tinha apoios comunistas ou capitalistas. Os meus colegas, aborrecidos com tanta parvoíce, e com pressa porque o programa de Jorge Sampaio apertava, aos poucos foram desarmando os equipamentos de gravação. Eu deliguei o gravador do Diário quando fiquei sozinho com a celebridade. Deixei-o dependurado, sem a pergunta que ele esperava para continuar a sua impante pedalada.
De repente, não me interessava exclusivo nenhum.

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